2015: Vamos ao céu ou ao inferno?

Por Arthur Solow

Texto publicado originalmente na revista Markets St, onde o Terraço mantém um espaço editorial. Edição de Fevereiro 2015

“Entre ser taxado de pessimista ou ser considerado otimista, prefiro ficar próximo da realidade dos fatos”

Céu inferno

Passadas as festas de final de ano, muita praia e sol e histórias para contar, o ano se inicia com previsões sombrias para a economia brasileira. Se a retrospectiva não é animadora, tampouco se mostram as perspectivas para 2015. Petrobras inundada por denúncias de corrupção (e não por petróleo), a inflação insistentemente próxima ao teto da meta (e não na meta em si), contas do governo com maior déficit já registrado (e não superávit) assustam a sociedade empresarial brasileira, sem falar na possibilidade real de racionamento de água no Sudeste e de energia elétrica em quase todo o território nacional.

Afinal, para onde vamos em 2015? A tempestade que vem se formando de fato se transformará em chuva ou as nuvens se dissiparão?

A seguir, discuto os cinco principais indicadores econômicos, analisando seu desempenho para 2014, perspectivas para 2015 e possíveis impactos para a economia brasileira. As projeções para 2015 são do último Boletim Focus do mês de janeiro, dia 30/01/2015, disponível no site do Banco Central.

Política Fiscal

Antes mesmo do fim do ano passado, muitos economistas afirmavam que o Brasil passaria, inevitavelmente, por um período de ajustes na economia e nas contas públicas, sendo estas mudanças realizadas já no primeiro semestre de 2015. A primeira delas, por exemplo, nem esperou a virada do ano. Anunciada em 29/12, a mudança nas regras para concessão de seguro-desemprego e outros benefícios devem gerar economia de R$18 bilhões ao ano, ou 0,3% do PIB.

Além de a própria presidente mencionar em seu primeiro pronunciamento do segundo mandato a necessidade de “ajuste nas contas públicas” e de “correção permanente de distorções e eventuais excessos”, a própria equipe econômica vem sinalizando ao mercado que pretende colocar a casa em ordem a fim de recuperar a sustentabilidade das contas públicas. Segundo dados disponibilizados pelo BC, o déficit das contas públicas atingiu R$32,53 bilhões em 2014, o equivalente a 0,63% do PIB. No mesmo período de 2013, o valor era um superávit de 1,90% do PIB, ou R$91,3 bilhões.

Em outras palavras, em 2014 o governo tem gastado mais do que arrecadado e, dessa forma, tem buscado se financiar no mercado a fim de honrar seus compromissos. Por isso, a dívida pública chegou, em 2014, ao patamar de R$ 2,29 trilhões, 11,1% maior que no mesmo período de 2013, quando era de R$2,06 tri. Dessa forma, a Dívida Líquida do Setor Público, de 36,70% do PIB em 2014, está prevista para atingir 37% em 2015.

Câmbio

A cotação do dólar encerrou 2014 em R$2,65, valor 11% superior aos R$2,39 observados no primeiro dia útil do ano passado, apesar dos esforços contínuos do Banco Central para segurar a cotação da moeda americana através de operações de venda de dólar no mercado. Para 2015, a tendência de alta permanece, sendo que o valor projetado para o final do ano é de R$2,80. Dos inúmeros motivos, se destacam a diminuição do programa de swaps ofertado pelo BC, provável aumento dos juros americanos no meio do ano e o fim do ciclo de commodities.

Apesar do real desvalorizado, a vida das nossas maiores empresas exportadoras não anda nada fácil. A Petrobras, envolta por casos de corrupção, vê o preço do petróleo despencar desde o final do ano passado, abrindo 2015 próximo dos US$50,00/barril. Em fev/2014, o mesmo barril era comercializado a US$100,00. A VALE observa com apreensão a queda vertiginosa do preço do minério de ferro, ocasionada pela menor demanda chinesa. Os preços iniciaram 2015 próximos de US$ 65,00/ton contra US$120/ton no mesmo período de 2014, uma queda de quase 50%.

Além disso, o dólar forte encarece os produtos importados, como máquinas e equipamentos que servem de insumos para a produção nacional, causando um aumento maior da inflação.  Isso tudo sem considerar a dívida em dólares que várias empresas brasileiras têm em seus balanços financeiros.

Juros

Após atingirem a incrível marca de 7,25% ao ano em out/2012 e ter se mantido nesse nível até mar/2013, a SELIC, nossa taxa básica de juros, vem subindo de forma significativa com o objetivo de segurar a alta da inflação nos últimos anos. Foi fixada em 11% em abr/2014 e assim permaneceu até out/2014, quando se iniciou uma nova rodada de altas de juros. Na última reunião do COPOM, em jan/2015, a SELIC foi fixada em 12,25%. Uma nova alta é esperada pelo mercado e, por esse motivo, a expectativa para 2015 é que a SELIC feche o ano em 12,5% a.a.

Esse cenário favorece as aplicações em ativos atrelados aos juros, aqueles que rentabilizam o investimento através de um percentual do CDI, como CDBs, LCI e LCA, Fundos de Investimento DI. As LFTs, oferecidas pelo Tesouro Direto, remuneram a 100% da SELIC e são uma alternativa bastante rentável. Por outro lado, o aumento da SELIC desestimula os investimentos e o consumo, tendo em vista que essas despesas são financiáveis e por isso são influenciadas pelos juros da economia.

Inflação

Como na história de Pedro e o Lobo, o presidente do Banco Central Alexandre Tombini insiste na promessa de entregar a inflação – IPCA – próxima da meta, hoje em 4,5%. Mas o mercado parece não acreditar: para 2015, a mediana das projeções aponta para um patamar bem acima do teto da meta, em 7,01%. Em 2014, o IPCA fechou em 6,41%, o maior valor desde 2011.

Pressionada pela elevação dos preços administrados (gasolina, transporte público, energia, etc.) e pela taxa de câmbio que deve se depreciar, a inflação em 2015 pode ultrapassar o teto da meta, superando até as projeções do mercado apresentado pelo Boletim Focus.

Transações externas

As contas externas brasileiras em 2014 apresentaram o pior resultado em 13 anos. O déficit foi de US$ 90,9 bilhões, ou 4,17% do PIB. Com a queda dos termos de troca e dos sucessivos aumentos de importação de combustíveis para sustentar nosso precário sistema energético devido à falta de chuvas, não surpreende o fato da balança comercial ter registrado déficits sucessivos ao longo do ano, sendo que a nossa balança comercial também fechou no campo negativo: déficit de US$ 3,93 bilhões. Para se ter uma ideia, em 2013, a balança comercial fechou em superávit de US$2,5 bi, e em 2012 o valor foi positivo em US$19,39 bi.

Assim como ocorreu em 2013, os fluxos advindos de investimentos estrangeiros diretos (IED) não serão suficientes para cobrir o rombo das contas externas. As reservas nacionais em moeda estrangeira, utilizadas também para segurar o valor do dólar, serão utilizadas para fechar a conta em 2014. Para 2015, a projeção é de um déficit ligeiramente menor, próximo a US$ 78 bilhões uma vez que a taxa de câmbio tende a se ajustar para cima (dólar mais caro, conforme indicado acima).

Resumindo…

Opa, espera aí! O distraído autor não falou sobre o crescimento da economia em 2015, o Produto Interno Bruto (PIB). Por quê?

Pelo fato do PIB ser influenciado por todos esses indicadores mencionados acima. Pela ótica da demanda, o PIB de uma nação pode ser definido por:

Y = C + I + G + (X – M),

onde Y=PIB, C= Consumo, I = Investimento, G = Gastos do Governo, X = Exportações e M = Importações

Como se pode perceber, o consumo é influenciado pelos juros, mas também o é pela inflação (renda real). Os investimentos são afetados pelo câmbio, pelos juros e pela confiança. Já o câmbio varia conforme o juros e com o resultado da balança comercial… As relações são muitas e não param por aí. Por isso, qualquer variação em um indicador pode ocasionar alteração significativa em outros e consequentemente no PIB nacional. Dessa forma, assim como os bons estudantes de economia, a melhor resposta para a questão de como será o desempenho da economia brasileira em 2015 é um inconfundível “depende”. Mas como o consumo e o investimento estão enfraquecidos, as contas públicas terão de ser ajustadas e o cenário externo, apesar da melhora dos Estados Unidos, continua complexo (Europa e Japão ainda tentando sair da estagnação e a China desacelerando seu crescimento), as perspectivas para o PIB brasileiro não são muito boas.

Para 2015, a estimativa de crescimento é de 0,03%, enquanto que tudo indica que em 2014 fechamos com uma taxa próxima a 0,1%. Uma leve desaceleração (risos).

O retorno do Pessimildo

Utilizado na campanha eleitoral da presidente reeleita Dilma Rousseff, o Pessimildo era um personagem fictício “baseado em experiências reais”. Segundo a Folha, é um “rabugento inveterado” e “torce contra o governo”. Apesar de satirizar o comportamento pessimista que tomou conta da sociedade brasileira, parece que a impressão não está baseada, contudo, apenas em um sentimento generalizado. As perspectivas “pessimistas” (ou realistas?) estão baseadas na consistente degradação do tripé macroeconômico: meta de inflação, câmbio flutuante e superávit primário. Estão respaldadas por fatos concretos e observáveis, o que deteriora de forma significativa as expectativas para a economia brasileira.

Mas afinal, vamos ao céu ou ao inferno em 2015? Para o Pessimildo que vos escreve, vamos colher a irresponsabilidade que plantamos. Para o Otimildo, “depende”.

Arthur Solow

Economista nato da Escola de Economia de São Paulo da FGV. Parente distante - diz ele - do prêmio Nobel de Economia Robert Solow, que, segundo rumores, utilizava um nome artístico haja vista a complexidade do sobrenome. Pós graduado na FGV em Business Analytics e Big Data, pois, afinal, a verdade encontra-se nos dados. Fez de tudo um pouco: foi analista de crédito e carteiras para FIDCs; depois trabalhou com planejamento estratégico e análise de dados; em seguida uma experiência em assessoria política na ALESP e atualmente é especialista em Educação Financeira em uma fintech. E no meio do caminho ainda arrumou tempo para fundar o Terraço Econômico em 2014 =)

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