A eleição das eleições: segundo turno

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Não é de se imaginar que passando o ano inteiro falando de política e eleições, o Terraço não daria sua contribuição agora. Dessa forma, comentarei os resultados do primeiro turno e farei algumas considerações de como será o segundo turno. Se não se importarem, farei apenas para as eleições presidenciais, que chamaram mais a atenção.

Resultados do primeiro turno: decisão de última hora pelos eleitores

O resultado das eleições não poderia ser diferente: mais uma vez essa eleição se mostrou surpreendente! Não há quem diga que previu os acontecimentos dessas eleições. Se quiserem acertar alguma previsão, diga o menos provável, porque o que presenciamos esse ano é coisa de outro mundo! Realmente, 2014 não será lembrado pela Copa do Mundo ocorrida no Brasil, mas sim, pela grande revira volta que a corrida presidencial demonstrou nesse curto espaço de tempo. Como o nosso último texto já mencionou, a morte de Eduardo Campos, a liderança de Marina Silva e então a escalada fulminante de Aécio para chegar ao segundo turno não poderiam nem sequer ser cogitados meses atrás.

Completada a apuração dos votos de primeiro turno, Dilma termina com 42%, Aécio 34% e Marina 22%. As últimas pesquisas eleitorais erraram bastante o resultado, mas até dá para entender o porquê: muitas pessoas deixaram para escolher o candidato em cima da hora. Esse processo de escolha foi atrapalhado por alguns fatores como o pouco conhecimento dos nomes dos candidatos pela população, o fato de a Copa do Mundo nesse ano ter sido no Brasil, o que alienou a população por um período maior e, na minha opinião mais que os outros dois, o fato de as pesquisas eleitorais mostrarem uma competição acirrada, principalmente entre Aécio e Marina no fim. Os motivos podem ser diversos, mas o fato é que Aécio se mostrou melhor que Marina para derrotar Dilma no segundo turno, e com isso, muitos votos úteis de Marina migraram de volta para Aécio e deram uma alavancada para que o candidato psdbista passasse para o segundo turno.

O que esperar do segundo turno?

Na linguagem dos consultores políticos, o segundo turno é outra eleição. A frase de efeito é meio óbvia se lembrarmos que as regras do jogo mudam do primeiro turno para o segundo. A primeira grande diferença é o tempo de televisão.

O rebalanceamento do tempo de televisão favorece o candidato da oposição que agora terá os mesmos 10 minutos que a candidata da situação. No primeiro turno, Dilma tinha mais que o dobro do tempo de Aécio, 11min 48 contra 4min35. Para quem ainda duvida dos efeitos do tempo de televisão, o primeiro turno já mostrou que são relevantes. Dilma se utilizou dessa vantagem de tempo para atacar Marina Silva. Com seus meros 2 minutos para se defender, Marina não resistiu aos ataques e saiu da disputa.

O segundo ponto são as alianças e as transferências dos votos dos outros candidatos para Dilma e Aécio. O Datafolha realizou uma pergunta que nos permite, com certo grau de certeza, calcular o quanto dos votos de cada candidato iria para cada um dos dois.

A pergunta “Se o segundo turno da eleição para presidente fosse hoje e a disputa ficasse apenas entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) em quem você votaria?” [1] obteve as seguintes respostas:

[caption id="attachment_1799" align="aligncenter" width="676"]Fonte: Datafolha Fonte: Datafolha[/caption]

Cruzando os dados da pesquisa com os resultados de primeiro turno conseguimos tirar dessa conta o quanto cada candidato começaria o segundo turno. Mas vale lembrar que os resultados foram diferentes das intenções de votos capturadas pelas pesquisas. Marina obteve um número bem menor e Aécio, um número maior. Portanto é de se esperar que alguns votos de Marina para Aécio no segundo turno já foram transmitidos no primeiro turno. Ajustando por esse efeito, minhas contas dão uma taxa de transferência de 67,4% (e não 71%). Basicamente de cada 3 votos de Marina, 2 vão para Aécio e 1 para Dilma.

Além disso, segundo o Datafolha, alguns votos de Aécio iriam para Dilma no segundo turno e vice versa. A não ser que você pense que petistas votaram no Aécio por preferirem ir para o segundo turno contra ele (o que para mim não faz muito sentido e pouco provável), esses números não fazem muito sentido. Então também ajustei esse números para que quem votou em Aécio no primeiro turno votará nele no segundo e quem votou em Dilma, votará nela também.

Lembrando que já estou calculando baseado nos votos validos, ou seja, já controlando pelo efeito dos votos brancos e nulos.

Os resultados dessa primeira simulação foram os seguintes: 49,7% Aécio, 50,3% Dilma.

[caption id="attachment_1802" align="aligncenter" width="676"]Fonte: Uol, DataFolha. Elaboração do autor Fonte: Uol, DataFolha. Elaboração do autor[/caption]

 Lógico que esse exercício é muito simplista e os pressupostos podem mudar, principalmente com as alianças feitas. Uma das tendências, apesar de ainda não confirmada, é de que a aliança de Marina seja mesmo com Aécio. Dos integrantes da campanha de Marina, o vice presidente Beto Albuquerque e o coordenador Walter Feldman, além de outros nomes próximos a Marina, como Neca Setubal, estão inclinados para que isso aconteça.

A magnitude dos efeitos da suposta aliança ainda não é clara. Nem sempre esse fator leva aos eleitores escolherem o aliado escolhido, mas claramente ajuda. Os 67,4% de votos transferidos para Aécio poderiam subir para 70% e que seriam suficientes para que o candidato da oposição vencesse. Mais importante que ganhar esses votos também seria impedir que eles vão para a oponente.

Dos outros candidatos, Pastor Everaldo (PSC) e Eduardo Jorge (PV) já declararam que apoiarão o tucano. Luciana Genro (PSOL) ficará neutra. E Levy Fidelix (PRTB) provavelmente se alinhará com a situação petista. Em uma eleição tão disputada, qualquer ajuda é bem vinda.

As regiões de atuação dos candidatos: Minas Gerais, Pernambuco e a região Sul.

[caption id="attachment_1793" align="aligncenter" width="476"]Fonte: Uol Fonte: Uol[/caption]

O mapa acima ilustra como foram distribuídos os votos no primeiro turno. Os estados em cor azul tiveram a maioria dos votos para o candidato do PSDB. Já os em vermelho para a candidata petista. E por fim os em amarelo foram de maioria psbista. Fica evidente, portanto, que um dos focos de atuação dos candidatos será em Pernambuco.

No estado de Pernambuco, há uma disputa local entre PSB e PT. Na eleição de 2012, o falecido governador Eduardo Campos decidiu que seu partido disputasse a prefeitura de Recife contra o PT e o derrotou. Agora, PSB elegeu tanto o governador como o candidato ao Senado em confronto direto com o PT. O PSB não tem porque apoiar o PT no segundo turno de 2014 e o PSDB tem a oportunidade de firmar um acordo raro no Nordeste. Por outro lado, o PT sempre foi forte na região Nordeste contra o PSDB. Talvez por ser visto pela população nordestina como um partido que dá mais atenção às regiões Sul e Sudeste, Dilma ganhe votos por lá, ainda mais se Lula for seu cabo eleitoral nessa região.

Outro colégio eleitoral de extrema importância será Minas Gerais. Além de ser o segundo maior do país, há características peculiares na região. Minas Gerais foi o berço político de Aécio. Conquistou várias coisas por lá sendo tanto governador quanto senador pelo estado. No entanto, o primeiro turno mostrou que o PT está forte por lá. O candidato petista, Fernando Pimentel, venceu a disputa de governador no primeiro turno contra o candidato tucano Pimenta da Veiga, que teve um desempenho pífio. Aliás, foi motivo até de piada.

Por último, o estado do Rio Grande do Sul. Aécio Neves teve um desempenho surpreendente nos estado de Santa Catarina e Paraná, obtendo cerca de 50% dos votos nesses estados.  Há uma tendência anti-PT nesses estados que pode ser estendida ao Rio Grande do Sul. Por outro lado, é o estado da presidente da República, e a petista obteve a maioria dos votos lá. O estado tem uma longa história política, tradição de bipolaridade e eleitorado com escolaridade elevada. Em tal ambiente, uma campanha bem feita pode ter rápido rendimento.

Nem tudo são flores: Aécio Neves foi o único não testado no primeiro turno

Parece que os ventos sopram a favor de Aécio Neves. De derrotado no primeiro turno voltou a ser novamente bem competitivo e com uma tendência de alta. No entanto, foi o único dos três grandes que não sofreu grandes ataques. O PT já mostrou sua força quando se trata de atacar os adversários. Fez tão bem no primeiro turno que Marina Silva perdeu cerca de metade de seus votos durante a sua pequena participação como candidata. Será que o candidato tucano resistirá aos ataques pessoais sobre os boatos de sua personalidade de baladeiro e de outras coisas mais pesadas?

Outro foco de ataque será o confronto dos 8 anos de governo de FHC contra os 8 de Lula mais 4 de Dilma. Como já iniciado no primeiro turno, mas pouco explorado porque as circunstâncias mudaram, o PT se utilizará do medo do retrocesso. Arminio Fraga, provável ministro da fazenda num eventual governo de Aécio, e ex presidente do Banco Central de FHC também sofrerá ataques constantes. O PT venceu as ultimas 3 disputas contra o PSDB. É de se esperar que o marqueteiro João Santana saiba contornar a situação e garantir a pequena vantagem de Dilma.

A eleição das eleições…

Em suma, jogue uma moeda para cima: se der cara, aposte em Aécio; se der coroa, em Dilma. A disputa eleitoral está assim, 50% de chance para cada lado. Esperemos que haja uma definição logo. O mercado pede de joelhos por isso, seja para que lado que for, mas lógico, melhor para ele se for Aécio.

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Victor Wong

Mestrando pela Escola de Economia de São Paulo da FGV. Já trabalhou no mercado financeiro na área de Pesquisa Econômica. Interessa-se pelas questões fiscais e monetárias, além do fator político de cada uma das decisões tomadas no âmbito nacional e internacional. Em outras palavras, a "macro" é com ele! Porém, bons argumentos nem sempre são suficientes para ganhar discussões. Dessa forma, utiliza-se de suas (poucas) habilidades de barman para embriagar as contrapartes: nada como saber o ponto fraco de seus adversários. Escreveu para o Terraço Econômico entre 2014 e 2015.

Um Comentário

  1. Bem interessante a análise… mas te umas coisas que me chamaram a atenção… eu acho muito improvável que Aécio consiga quase a metade dos votos da Luciana Genro, como deu nessa pesquisa… no máximo votam nulo, não na Dilma. E o próprio Eduardo Jorge pode até apoiar o Aécio, mas acho difícil dele transferí-lo mais da metade para o Aécio… o eleitor dele progressista, e o Aécio querendo ou não está cada vez mais alinhado aos setores mais conservadores… votos como de Fidelix e Everaldo, esses sim devem ir para Aécio. Mas de qualquer forma achei sua análise bem consistente, ainda que dessa eleição seja difícil tirar conclusões que não sejam aumento de força do agronegócio, dos evangélicos, da bancada da bala… quer dizer as verdadeiras tendências estão no subterrâneo…

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