Análise: ter ou não candidato à presidência?

Estamos no período de definição dos candidatos à presidência para as eleições que ocorrerão em outubro deste ano. O contexto atual se mostra especialmente movimentado, uma vez que essa eleição será marcada pela mais acentuada fragmentação desde as eleições de 89, não havendo favoritos claros.

Nesse cenário, diversas candidaturas são especuladas, entretanto somente algumas prosperarão. Por isso, é intrigante pensar quais fatores definem se uma pré-candidatura ou articulação decolará ou não. Como veremos, a economia e, mais precisamente, um simples modelo microeconômico de otimização pode nos ajudar a responder essa questão.

De fato, fatores políticos nem sempre são racionais e a resposta para essa problemática está relacionada com fatores emocionais, ideológicos ou disputas de bastidores, que nem sempre chegam a conhecimento público . Não obstante, existe uma lógica racional que direciona essas decisões. Nessa eleição em particular, considerações de escassez e alocação de recursos serão mais centrais, uma vez que esse será o primeiro pleito geral sem doações empresariais. Dessa forma, o grosso dos recursos virá do fundo partidário e do eleitoral.

Esses fundos, repartidos principalmente pelo número da bancada de cada partido no Congresso, terão de ser divididos entre: candidatos a deputado estadual, federal, senado, governos estaduais e a presidência. Vale notar que, embora vultosa , tal quantia está bem aquém daquilo que foi gasto na eleição de 2014, de forma que a disputa pela repartição dos recursos promete ser mais acirrada e determinante para as chances de vitória de cada candidato.

Dito isso, é possível modelar a partir dessa restrição, a decisão de um partido em ter ou não candidato à presidência. Como qualquer modelo, esse é uma simplificação da realidade, servindo para facilitar a compreensão dos fenômenos sociais e dar algumas intuições.

Uma candidatura à presidência é extremamente onerosa, tendo como principal custo monetário a destinação de vultosas quantias dos fundos citados, direcionados a sua campanha. Em relação ao custo político, este é, sobretudo, o de não coligar com outro postulante. A vitória nesse pleito, entretanto, traz ao partido do candidato vencedor um benefício considerável, com a possibilidade de potencializar a candidatura dos demais quadros da legenda nas outras esferas em disputa ao transferir-lhes votos. Sendo assim, temos duas equações:

Custos = cf + f(x)               (1)

Onde cf é o custo fixo de não coligar e f(x) é a equação que expressa o custo de retirar recursos das demais candidaturas para investir na presidencial.

Benefícios = v + p(x)W      (2)

Onde v representa o benefício em termos de votos que um candidato presidencial traria as demais disputas, p(x) a probabilidade do candidato presidencial ser eleito em função dos recursos alocados e W o payoff caso ele ganhe, o que equivale dizer  a totalidade dos benefícios de ter um presidente do seu partido.    

A decisão se dá seguinte forma, o partido terá candidato presidencial se:

v + p(x)W > cf + f(x)        (3)

Vale a pena ter candidato próprio, se a soma dos benefícios trazidos pela transferência de votos com o retorno esperado de uma vitória, representado em (2), for maior do que o custo de não coligar somado a perda trazida pelo valor que deverá ser destinado a essa campanha (os demais candidatos da legenda terão menos recursos), representado em (1). Isso corresponde a intuição política básica, mas ainda assim resultados interessantes podem ser retirados.

A pulverização dessa campanha aumenta a chance para candidatos menores, aumentado o payoff esperado p(x)W. Desde 94, a presença de candidatos fortes de PT e PSDB inibia candidaturas menores, uma vez que a chance de vitória era particularmente reduzida. Do lado dos custos, é possível dizer que para um mesmo valor de x, f(x) aumentou, uma vez que o volume total disponível para as campanhas estará bem mais escasso esse ano. Isso aumenta a parcimônia dos partidos em embarcar nessa empreitada.

De maneira mais particular, esse modelo é interessante para vermos o dilema enfrentado por partidos médios, em ter ou não candidato. O DEM ensaia uma possível candidatura de Rodrigo Maia à presidência, porém já anunciou que caso a mesma não decole, dificilmente seguirá adiante. Nesse caso, o partido enfrenta enormes custos em não se coligar com outra legenda, em especial o PSDB, uma vez que é possível que obtivesse a vaga de vice caso decidisse pela aliança.

Do outro lado do espectro, o PC do B enfrenta também o dilema de levar a candidatura de Manuela D’Ávila à frente ou não, embora isso não seja tratado tão abertamente. Nesse caso, o payoff esperado de vitória é reduzido, uma vez que suas chances são baixas. É razoável, todavia, supor que sua capacidade de transferir votos seja significativa para o partido, uma vez que uma candidatura própria exporia mais a legenda e animaria a militância. Na parte dos custos, sem candidato o partido poderia barganhar por uma posição mais favorável numa chapa petista ou em disputas estaduais e poderia dedicar mais recursos a eleger deputados, algo essencial com a instituição progressiva da cláusula de barreira.

O caso do PSB também parece exemplificar bem a questão. Dois pré-candidatos internos se apresentaram, Aldo Rabelo e Beto Albuquerque, mas nenhum dos dois decolou. Isso pode ser explicado pelo fato de ambos terem probabilidades de vitória muito baixas e o custo para o partido destinar recursos a uma campanha presidencial, ser especialmente elevado, uma vez que o mesmo pretende eleger uma extensa bancada de deputados federais e disputar o governo de diversos estados, como São Paulo e Minas Gerais. Mesmo um candidato externo com boas probabilidades, o ex ministro do Supremo Joaquim Barbosa, não é unanimidade no partido, demonstrando que os custos citados são especialmente elevados para o mesmo.

O modelo também pode ser aplicado a PT e PSDB. Nesse caso, os dois partidos possuem probabilidades elevadas, aumentando o payoff esperado total. Tendo também protagonismo nacional, suas candidaturas funcionam como poderosos instrumentos para angariar votos nos demais pleitos, como pode ser visto pelo tamanho de suas bancadas federais nos últimos 20 anos.

Dessa forma, um modelo simples pode nos oferecer insights interessantes sobre a realidade política. Longe de querer resumir a complexidade do fenômeno em uma otimização, é preciso reforçar que não há nenhuma pretensão de ignorar outros fatores essenciais do jogo político, como já foi citado no início do texto.

Em todo caso, é possível dizer que os partidos estão diante de um caso clássico de trade-off econômico.

Davi Bhering Gusmão Graduando do 7º período de Economia na PUC-Rio e, atualmente, estudante em SciencesPo.

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