Carta de um pequeno investidor brasileiro a Warren Buffett

Dear Mr. Buffett,

Antes de mais nada, queria lhe falar que sou seu fã. É natural que eu tente me espelhar na sua forma de pensar e, consequentemente, na sua filosofia de investimentos. Li muito sobre sua história e achei o filme da sua vida sensacional. Sabe aquela sua conversa de que “eu compro uma ação como se fosse ficar 10 anos sem olhar a Bolsa”? Então, foi aí que começou o problema. O senhor esqueceu de avisar em qual país estava localizada essa Bolsa de Valores. Acredite, eu tentei fazer isso aqui. Não se passaram 10 anos, obviamente, mas é muito difícil esperar.

Talvez, Mr. Buffett, esta carta esteja ganhando tons de desabafo, mas prosseguirei.

É duro comprar a ação de uma empresa consolidada, com marca forte, market share invejável e, de repente… Abrir o celular e dar de cara com uma notícia de que essa companhia é alvo da “Operação Sei Lá Das Quantas”. Os motivos? Não são novidade. Propina, fraudes e sonegação são algumas das mais recorrentes. E em questão de segundos aquele “papel de ouro”, a “vaca leiteira”, a boa pagadora de dividendos desaba 10% em um único pregão. Eis que me pego rindo de nervoso quando lembro de ter lido a página “Quem somos” da empresa antes de comprar o papel e ficar naquela satisfação momentânea de que estava fazendo um excelente negócio.

Não, Mr. Buffett, não é um caso isolado.

Não foram poucas as vezes que vi executivos na televisão algemados e sendo guiados por policiais federais. Por aqui, fica complicado querer “se casar com uma empresa”, como o senhor mesmo fala, sem poder depositar, de coração, seus votos de confiança nesta “esposa”.

Vou lhe contar um segredo: aqui sempre foi um lugar muito atrativo para rentistas.

Sim, senhor. Aqueles que sempre se aproveitaram das históricas altas taxas de juros praticadas por aqui ao invés de injetar capital na economia real. Juro que tentei – e tento até hoje – aplicar em ações, mas não posso negar que esse outro hábito muitas vezes é tentador.

Por último, uma declaração final.

Ainda acredito na linda história que o senhor pregou ao longo da sua vida. Dividendos de empresas sólidas ainda me seduzem, assim como também acredito que uma queda na bolsa pode gerar excelentes oportunidades. Porém, como pequeno investidor brasileiro que (todavia) sou, aprendi a não fazer da estratégia do senhor uma religião. Enquanto a Bolsa tupiniquim for a minha realidade, pode ter certeza que sempre terei uma proteção sólida, e ela não será feita de ações.

Kind regards,

Um pequeno investidor brasileiro

Eduardo Scovino

Estuda Engenharia Química na UERJ e é outro economista de coração. Já trabalhou em Operação no meio fabril, mas acabou se rendendo ao jargão “It’s the Economy, stupid!”. Dentre as principais causas que defende, estão a Economia de Mercado, a Destruição Criativa, Finanças Pessoais e Reciclagem. Acredita ainda que é possível uma solução que englobe essas duas últimas. Nas horas vagas, também é remador, frequentador de shows de metal e está sempre pronto para uma roadtrip.
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