Começou a retomada da economia brasileira?

Entramos no segundo semestre de 2016, o novo governo parece já ter se acomodado na cadeira presidencial e a pergunta de R$ 1 bilhão paira no ar: começou a retomada da economia brasileira?

Para responder a esta pergunta, antes de mais nada, precisamos deixar claro dois pontos:

  • Por retomada não entenda crescimento vigoroso;
  • Não julgue o desempenho de uma economia só pelo mercado de trabalho, dado que esta é, no caso brasileiro, a variável que entra por último na crise e é também a última a sair – desta forma, tende a continuar se deteriorando mesmo com a recuperação.

Pois bem, dito isto, devemos começar a investigar sinais em meio a este nevoeiro de recessão que demonstrem uma luz no fim do túnel, ou na expressão popularizada recentemente de que chegamos “no fundo do poço” e que iremos caminhar de volta para a superfície.

A maneira mais fácil e tradicional de se fazer isto compreende em observar o desempenho recente dos chamados “Indicadores Antecedentes”. Basicamente, um Indicador Antecedente busca antecipar a direção da economia no curto prazo, sendo utilizado e calculado em praticamente todos os países da OCDE e dos BRICS.

Assim, um indicador já construído numa parceria entre a The Conference Board e a FGV/IBRE, de frequência mensal, pode nos ajudar: o Indicador Antecedente Composto da Economia (IACE)[1].

[caption id="attachment_7211" align="aligncenter" width="604"]B1 Fonte: The Conference Board e FGV/IBRE[/caption]

Armado de tal índice, podemos verificar que é possível prever de antemão quando o país sai de uma crise. De fato, quando colocamos o índice perante os ciclos recessivos datados pelo CODACE/FGV ele conseguiu antecipar todas as reversões de tendência. Vale lembrar que o ultimo cíclo recessivo começou no 2º trimestre de 2014 e ainda não foi discutido se acabou ou não (algo geralmente feito com muito mais tempo e certezas na mesa).

O fato é: o Indicador Antecedente da Economia Brasileira já começa a apontar para uma retomada.

Mas não é só este sinal que temos, a confiança dos agentes econômicos também já mudou sua tendência, tendo já batido no fundo do poço.

Os índices de confiança são usados no mundo inteiro para fazer estimativas da atividade econômica, mostrando fortíssima correlação com esta. No caso brasileiro, o mais famoso e extenso índice é o da Indústria. Há também de outros segmentos, como do consumidor e do setor de serviços, cuja série é mais curta.

Assim, para fazermos um exercício de como a confiança impacta a atividade, temos que usar uma série mais longa, ou seja, o da Indústria. Aí você perguntará: mas você irá se utilizar de um setor que tem pouca participação no PIB? Que não dita, necessariamente, o ciclo da economia brasileira?

Pois é, mas aproveitando exercícios estatísticos de extração do componente principal das outras séries de confiança, podemos verificar que, no geral, todas elas seguem uma tendência muito similar à traçada pelo da indústria, o que nos faz crer que no passado anterior à disponibilidade de suas séries, elas deveriam traçar um caminho similar também.

[caption id="attachment_7209" align="aligncenter" width="642"]B2 Fonte: FGV/IBRE[/caption]

Nas figuras acima, vemos que a confiança do consumidor e dos serviços seguem mais ou menos o desempenho da indústria (sendo que do consumidor começou a cair mais tarde, dado que o mercado de trabalho entrou em “crise” por último). A segunda figura nos mostra que o componente principal delas se assemelha ao desmpenho da indústria.

Assim, usando a mesma lógica para o IACE, vemos que a retomada da confiança coincidiu com os ciclos pós-recessão, chamando atenção para o fato que a confiança da industria já cresceu 7,6% desde abril. Dentre os fatores que explicam essa confiança, estão o ajuste de estoque bem avançado,  a melhora nas expectativas e a previsibilidade. Isto ocorre com a mudança de governo e de equipe econômica.

Uma melhor direcionamento da gestão macroeconômica tem suportado uma melhora na confiança, com ancoragem das expectativas inflacionárias a um nível menor, com expectativas de redução dos juros e de alguma melhora na situação fiscal, reduzindo o risco do país.

[caption id="attachment_7210" align="aligncenter" width="604"]B3 Fonte: FGV/IBRE[/caption]

Pois é, a confiança se mostrou e tem se mostrado um indicador fundamental para acompanhar a atividade econômica, me levando a lançar mão de um exercício de impulso-resposta para verificar como ela exerce influência no PIB. Este exercício é muito usado no mercado, e utiliza dados trimestrais de componentes como crescimento da China, dos EUA, dos Termos de Troca, do próprio Brasil e da Confiança da Indústria.

O resultado foi que após um choque da confiança, há um forte acúmulo positivo no desempenho do PIB nos dois primeiros trimestre (o que coincidiria com o final do ano), gerando um efeito positivo próximo de 1,2p.p. do PIB, o que ajudaria o PIB acumulado até hoje para algo próximo de -3,4% no final do ano – bem próximo ao projetado na mediana do mercado e divulgado pelo boletim Focus.

[caption id="attachment_7208" align="aligncenter" width="604"]B4 Fonte: FGV/IBRE, IBGE, CENSUS, NBS e FUNCEX[/caption]

Enfim, alguns importantes Indicadores Antecedentes já nos dizem que a economia brasileira deve sair do buraco, o que não quer dizer melhora do mercado de trabalho de forma imediata. A melhora da gestão econômica caso se concretize permanentemente o impeachment deve ajudar00 o país a sair de sua pior crise econômica e voltar a crescer (muito pouco) nos próximos anos, não obstante, as projeções para 2017 continuam melhorando.

Arthur

Editor Terraço Econômico

[1] O IACE é composto por oito componentes: Índices de Expectativas das sondagens da Indústria, de Serviços e do Consumidor; Índice de produção física de bens de consumo duráveis; Índice de quantum de exportações; Índice de Termos de troca; Ibovespa; e Taxa referencial de swaps DI pré-fixada – 360 dias.

Arthur Lula Mota

Mestre em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo (USP/ESALQ) e Bacharel em Economia pela Universidade Federal de São Paulo. Já trabalhou no mercado financeiro, auxiliando mesa de operações de fundos institucionais e departamento econômico com análises macroeconômicas.

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