A economia americana em 2017 e perspectivas para o futuro

Desde a eleição, em novembro do ano passado, o presidente Trump vem tomando crédito pela melhora no mercado de trabalho, das bolsas de valores e do mercado imobiliário, e faz parte a descrição do cargo de presidente americano (e de qualquer país) ser uma espécie de cheerleader da economia. Mas será que há mesmo um Trump Bump? Os números mostram que não. A economia amerciana está forte, mas os números tem mostrado uma tendência que já vinha ocorrendo no final do governo Obama. Vamos falar de alguns indicadores:

  1. Emprego:
  • A taxa de desemprego nos EUA está em 4.3%, um valor considerado próximo ao pleno emprego e o mais baixo há 16 anos. Desde a posse o governo Trump teve um aumento de 1.07MM de empregos, mas é um valor um pouco menor do que Obama teve no mesmo período, 1.25MM.
  • Apesar do aumento expressivo do número de empregos não houve aumento proporcional nos salários, que cresceram apenas 2.5% nos últimos 12 meses (O FED considera ideal um aumento em torno de 3%). Isso porque a maior parte dos empregos criados ocorreram no varejo e na indústria alimentícia, que não costumam pagar bem. Ou seja, os empregos que mais cresceram são os que pagam pouco, o que ironicamente era uma das principais críticas que o Trump fazia a governo Obama sobre o assunto.

  1. Gastos dos consumidores
  • As vendas no varejo tem caído em alguns períodos ou subido pouco. Nos últimos 12 meses houve crescimento de apenas 2.8%, um pouco abaixo dos 3% que os especialistas consideram necessário para manter a economia aquecida.
  1. Comércio Internacional
  • Trump prometeu o “American First” e, de certa forma, isso está começando a acontecer. O déficit na balança comercial caiu para 43.6 bilhões, principalmente por conta do aumentos das exportações na indústria petroquímica. Os EUA tem aumentando as exportações para o México e Canadá, os principais parceiros comerciais no país. A China continua sendo o “calcanhar de aquiles” e o déficit comercial com o país asiático aumentou 6% em 2017.
  1. Bolsa de Valores
  • A Bolsa de valores subiu mais de 12% esse ano e mais de 20% desde a eleição do Trump. As Blue Chips se valorizaram, mas menos do que o NASDAQ, este que subiu ainda mais. Por enquanto as bolsas têm ignorado as trapalhadas administrativas do governo Trump e apostam no corte de impostos e na desregulamentação da economia. Os lucros das empresas também ajudaram na valorização das ações: o lucro das empresas do SP500 aumentou cerca de 10% nos últimos 12 meses.

  1. Setor Imobiliário

O setor realmente vem forte nesse ano e o custo médio das casas americanas subiu para 263.800 dólares, um acréscimo de 6.5% em 1 ano.

  1. Crescimento do PIB

O PIB dos EUA cresceu 2.6% no segundo trimestre de 2017, um crescimento forte em comparação ao primeiro trimestre, 1.2% mas mais ou menos em linha com o que vinha acontecendo em 2016. No ano o crescimento é de 2.2% e a expectativa é de um crescimento acumulado de 2.1% em 2017.

  1. Inflação

O mercado estima uma inflação de 1.6% para 2017 e de 2.0% para 2018 (valores menores do que o apresentado em 2016 de 2.1%). Como a meta de inflação do FED é de 2.0% isso pode abrir espaço para uma elevação dos juros, para que eles possam voltar a patamares mais próximos do histórico. Hoje a taxa de juros básica nos EUA está em 1.25%, a expectativa é que chegue a 1.5% até o final do ano, 2.0% em 2018 e 3.0% em 2019.

  1. Balanço de papéis no FED
  • Durante a recente crise econômica o FED comprou uma quantidade enorme de papéis do governo americano com o objetivo de manter baixas as taxas de juros de longo prazo e assim impulsionar a recuperação da economia – isso aconteceu até 2014. Com isso, o FED acumulou em seu balanço ativos da ordem de 4.5 trilhões de dólares e a expectativa é de que ele devolva esses papéis ao mercado.
  • Esse valor representa cerca de ¼ do PIB dos EUA. Devolver esses papéis ao mercado é uma outra forma de criar uma política monetária mais restritiva com efeitos semelhantes a uma elevação nas taxas de juros. Isso nunca foi feito antes e por isso tem causado ansiedade nos agentes de mercado.
  • Essa política deve ser refeita porque ela causa várias distorções no mercado. Por exemplo, com os juros artificialmente mais baixos os investidores tomaram mais riscos nas bolsas do que deveriam. Acredita-se também que com isso o governo esteja dando um tratamento especial ao setor imobiliário.
  • Mas a principal razão é política, os republicanos acreditam que essa medida facilitou que o governo Obama apresentasse déficits no orçamento e acabou reduzindo a independência do Banco Central dos EUA.
  • Para reduzir os riscos que esse processo pode trazer para a economia, ele deve ser feito de maneira gradual e é possível que leve entre 5 a 7 anos para ser finalizado, mas cerca de ⅓ desse portfolio vence entre 2018 e 2019. A forma como isso será feito depende também se Janet Yellen irá ou não permanecer no cargo cujo mandato de 4 anos termina em fevereiro do ano que vem.

Perspectivas para os EUA

  • A expectativa é que a economia americana continue forte nos próximos meses e não há perspectiva de recessão nos próximos anos. O otimismo porém depende de que o Trump consiga aparar as arestas e as dificuldades que ele vem enfrentando no legislativo americano. Hoje os republicanos tem maioria tanto na câmara quanto no senado, mas isso até o momento não se traduzir em um apoio importante para as medidas apresentadas pelo presidente.
  • Trump ainda não conseguiu, por exemplo, aprovar uma nova lei para a saúde em substituição ao Obama Care e que economizaria cerca de 1 trilhão de dólares para o governo.
  • Os políticos dos 2 partidos também ainda não chegaram a um acordo sobre o financiamento no famoso muro na fronteira com o México.
  • O Executivo vem enfrentando críticas dos políticos referente ao travel ban de viajantes provenientes de países muçulmanos, bem como em relação ao suspensão ao DACA, um programa que garantia residência aos filhos de imigrantes que chegaram ilegalmente no país há muitos anos.
  • Seguem ainda as suspeitas e as investigações a respeito da participação russa nas eleições.
  • Tudo isso tem dificultado as negociações a respeito da proposta de orçamento, que deve ser aprovada em meados de outubro.
  • A principal expectativa é a respeito do corte de impostos. Trump prometeu o maior corte de impostos da história americana. A proposta e reduzir o imposto das empresas de 35 para 15%. Interlocutores do partido republicano tem dito que algo em torno de 20% seria mais viável politicamente. O tamanho do corte, a questão de se ele será ou não retroativo para 2017 e se será temporário ou permanente irá definir o humor dos agentes econômicos nos próximos meses. A promessa é que isso seja negociado nos próximos dias e divulgado no dia 25 de setembro.

Em outras palavras: observamos uma bonança, mas ela pode ser encarada não só como “efeito Trump” como também uma continuidade de melhoria advinda do governo de Barack Obama com um misto de aguardo dos agentes por promessas de Trump.

Renata Velloso – Colaboradora do Terraço Econômico  

Referências

https://www.thebalance.com/us-economic-outlook-3305669

http://money.cnn.com/2017/08/07/investing/trump-economy-report-card/index.html

https://www.washingtonpost.com/amphtml/news/wonk/wp/2017/08/04/americas-economy-is-solid-but-theres-no-trump-bump/

https://amp.businessinsider.com/trump-200-days-impact-on-markets-and-economy-2017-8

http://www.goldmansachs.com/our-thinking/pages/midyear-outlook-2017/?playlist=0&video=1&videoId=150037

https://www.bloomberg.com/news/articles/2017-03-14/federal-reserve-ponders-how-to-do-the-big-unwind-quicktake-q-a

     

Renata Velloso

Se de médico e louco todo mundo tem um pouco, Renata tem muito. Logo após se formar em Administração Pública pela EAESP-FGV, trabalhou no mercado financeiro com passagem pelo Citibank, Chase e JPMorgan. Certo dia, cansada da vida boa e rica no ar condicionado, resolveu abandonar tudo para ir estudar Medicina na Unicamp, onde se formou em 2010. Atualmente, além de ser bela e recatada, trabalha com projetos de inovação na área de saúde no Vale do Silício na Califórnia e também é autora do Criando Unicórnios, um livro de empreendedorismo para jovens e adolescentes.
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