A Economia do amigo secreto

É batata. Todo final de ano os jornais trazem um link ao vivo das pessoas fazendo as compras de Natal. A reboque vem um economista falando como o período de festas ajuda a bombar a economia, o comércio, os empregos temporários e tudo mais (talvez não em 2016, com a crise brasileira, mas você se lembra que já viu essa história).

Pode até ser verdade que as compras natalinas dão uma força para a economia, no aspecto macro. Mas você já pensou sob a perspectiva micro? Já passou pela sua cabeça que comprar um presente para alguém, principalmente para quem você não conhece muito bem ou não sabe muito bem do gosto, pode causar uma alocação ruim de recursos?

Um economista chato já pensou nisso, óbvio.

Vamos a um casinho clássico. Imagine que você está participando daquele amigo secreto da firma e tirou alguém que você não conhece muito bem, do outro departamento. E estipulam que o presente deve ser de até R$ 50,00.

Você faz o maior esforço para comprar algo útil, mas provavelmente a pessoa nunca vai usar o presente. Por que? Basicamente porque você tem poucas informações sobre as preferências do seu amigo secreto. Você não sabe o que ele gosta, o que ele come, onde ele se diverte. Assim, se os R$ 50,00 fossem gastos por ele mesmo, talvez o produto adquirido trouxesse maior bem-estar que aquilo que você comprou.

Essa teoria foi desenvolvida por um economista de nome estanho: Joel Waldfogel, que no seu mini-paper “The Deadweight Loss of Christmas” calculou inclusive qual a perda em termos de bem-estar que um típico Natal americano causa, uma vez que muitas pessoas compram presentes para muitas outras pessoas sem saber bem o que elas desejam.

Qual poderia ser a solução para reduzir essa ineficiência na alocação dos recursos natalinos? Bem, e se trocássemos dinheiro ao invés de presentes? Sorteamos o nosso amigo secreto e damos uma graninha para ele gastar em algo que pode ser mais útil ou mais agradável. Daí vem a ideia dos vales-presente, para pelo menos reduzir a ineficiência na alocação dos recursos natalinos. Tudo bem, você não vai dar o CD do É o Tchan. A pessoa pode ir à loja de CDs e escolher o da banda que mais lhe agrada. Não era bem um CD que ela queria, mas era menos ainda o CD do É o Tchan.

Parece meio frio, né? A teoria esquece um pouco do espírito natalino de bondade, retribuição e tal. Mas, calma que nem tudo está perdido.

Quanto mais você conhece a pessoa que está presenteando, menor é a perda de bem-estar que você vai gerar.

Um exemplo claro: se você vai comprar um presente para um desconhecido, é muito mais difícil saber o que a pessoa vai gostar. Se você vai comprar para o (a) seu (sua) amado(a), é muito mais fácil saber algo que vai agradar a pessoa. Se você tirar seu colega de departamento no amigo secreto da firma, muito provavelmente ele vai usar o presente recebido.

Outro ponto não considerado nas ideias é: e as risadas que a descrição do amigo secreto causam, não valem os R$ 50,00? Podem valer!

Bom Natal a todos!

Leonardo Palhuca

Doutorando em Economia pela Albert-Ludwigs-Universität Freiburg. Interessado em macroeconomia - política monetária e política fiscal - e no buraco negro das instituições. Escreveu para o Terraço Econômico entre 2014 e 2018.
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