Eleições 2014: mais do mesmo

E vai começar! Depois da Copa das Copas, vêm aí as eleições 2014, nas quais serão escolhidos Presidente da República, governadores dos estados federativos, senadores, deputados federais e estaduais. Antes dos resultados nas urnas, são realizados diversos eventos relacionados à disputa eleitoral. Para amantes do jogo eleitoral, temos um prato cheio até outubro! Horário político obrigatório, debates, pesquisa de intenção de votos, homens-placa, panfletos com santinhos, etc, serão vistos até a aguardada data de escolha dos próximos governantes.

Muito se comentou a respeito do desejo de mudança, motivado principalmente pelos protestos de julho/2013 e contra os gastos provenientes para a Copa do Mundo. Será unanimidade: todos os candidatos de alguma forma mencionarão o tema mudança, inclusive a própria Dilma:

“É hora de seguir em frente, companheiras, é hora de fazer mais mudanças, companheiros, é hora de construir mais futuro, queridos militantes e queridas militantes, é hora de ampliarmos a extraordinária transformação pacífica… que estamos fazendo há mais de uma década”, disse Dilma, em evento do PT para formalização de sua candidatura à reeleição.

Mas será que os meios para escolha dos candidatos também estão mudando? Nas linhas a seguir, argumento que não, por meio de duas frentes: Horário Eleitoral Obrigatório e Debate Televisionados brasileiros.

Programa eleitoral obrigatório

“Ex-jogadores de futebol, ex-cantores, ex-atores. O horário político obrigatório brasileiro, quando não parece uma página de classificados, assemelha-se a um picadeiro ou a uma pregação religiosa. A falta de seriedade por parte de muitos candidatos, o desequilíbrio de tempo e recursos entre partidos e o fato de ser obrigatório, camuflam a real importância do horário eleitoral gratuito.”[1]

[caption id="attachment_1383" align="aligncenter" width="523"]Nem tente mudar de canal! Foto: Blog do B. Silva Nem tente mudar de canal! Foto: Blog do B. Silva[/caption]

É cada vez maior a sensação que o horário eleitoral vem se tornando um show de humor e de sarcasmo, do que um real espaço para a visualização de propostas concretas. Quem nunca viu um candidato à deputado – seja federal ou estadual – prometendo zelar pela saúde, educação e segurança? Candidatos que defendem um ideal ou representam um segmento do eleitorado (comércio, indústria, defesa dos animais, religioso) tem maior efetividade na execução do seu trabalho. Ou você acha mesmo que esse candidato vai criar e defender projetos de lei nessas três áreas? Quem muito fala, pouco faz.

Debates eleitorais televisionados

Palco de disputas épicas (Collor x Lula, Brizola x Maluf), os debates eleitorais televisionados tem gerado cada vez menos interesse nos eleitores como critério de escolha dos candidatos.

O que se vê hoje são acusações de corrupção aqui e acolá com direito à resposta, na qual muitas vezes a questão não é respondida; a réplica do candidato questionador falando que seu partido é muito mais ético e íntegro que o do outro e, por fim, a tréplica do candidato falando quantos hospitais foram construídos em seu governo a 15 anos atrás. As propostas de governo são pouco debatidas, os problemas econômicos e sociais, principalmente aqueles de ordem estrutural – carga tributária, reforma política – sequer são colocados em pauta.

Os debates eleitorais americanos, por exemplo, possuem uma dinâmica completamente distinta do que ocorre no território tupiniquim. Em primeiro lugar, o espaço é muito mais interativo, e os candidatos respondem diretamente perguntas da platéia e dos jornalistas de forma franca, sem papeis e textos decorados. Eles andam pelo espaço, respondem “olho-no-olho”.  No Brasil, por outro lado, os candidatos se escondem atrás de suas bancadas e estatísticas sem fim com o objetivo de se defender das diversas acusações a que estão sujeitos ao longo do debate, que parece mais um embate do que debate. Além disso, as perguntas e os temas abordados devem ser previamente aprovados pelas cúpulas e pelos assessores dos candidatos. No caso americano, o conteúdo das discussões é muito maior do que no caso brasileiro. Estamos preparados para esse tipo de debate eleitoral?

[caption id="attachment_1384" align="aligncenter" width="676"]Dilma x Serra (2010) e Obama x Romney (2012). Em qual dos debates acima o sono veio avassalador?  Foto: montagem de The Guardian e Terra Dilma x Serra (2010) e Obama x Romney (2012). Em qual dos debates acima o sono veio avassalador?
Foto: montagem de The Guardian e Terra[/caption] Novas ferramentas

Embora os meios habituais de escolha tenham parado no tempo, existem hoje outras formas de identificar bons e maus candidatos por meio de sites na internet. Felizmente, essa é uma opção acessível e gratuita! É o terror dos fichas sujas! O blog Além do Roteiro enumerou algumas ferramentas úteis para aprimorar o seu voto. Vou me ater a três que achei mais interessantes:

[caption id="attachment_1385" align="aligncenter" width="676"] Fonte: Blog Além do Roteiro. Elaboração própria.[/caption]

Na época da informação instantânea, o eleitor médio – que é aquele que efetivamente decide a eleição – pode começar a se engajar nas grandes discussões nacionais. A internet funciona como uma terceira via, afastada da demagogia dos programas e dos debates eleitorais.

Eu costumo dizer que hoje não há mais desculpas para a falta de estudo (em termos gerais). Anos atrás o acesso a educação de fato era dificultada por diversos entraves. Hoje, existem sites que oferecem cursos online gratuitos sobre os mais variados temas – Veduca e Khan Academy (Brasil) são apenas alguns exemplos – além de incentivos fornecidos pelo governo para acesso ao ensino superior direcionados à população mais carente (FIES, ProUni).

Assim, a desculpa de não lembrar qual deputado escolheu na última eleição ou a prática de alegar que desconhecia o plano de governo de certo candidato também deve cair em desuso nos próximos anos, considerando a enormidade de informações que já existem com o intuito de subsidiar o nosso voto.

Arthur Solow 1000likes

[1]  Trecho da redação “A Construção do Brasil Bom para Todos”, que obteve a melhor nota (9,5) considerando um banco de redações do site UOL a respeito do tema: “Horário político obrigatório: bom para quem?”. Para mais detalhes ver: http://educacao.uol.com.br/bancoderedacoes/redacao/a-construcao-do-brasil-bom-para-todos.jhtm

Arthur Solow

Economista nato da Escola de Economia de São Paulo da FGV. Parente distante - diz ele - do prêmio Nobel de Economia Robert Solow, que, segundo rumores, utilizava um nome artístico haja vista a complexidade do sobrenome. Pós graduado na FGV em Business Analytics e Big Data, pois, afinal, a verdade encontra-se nos dados. Fez de tudo um pouco: foi analista de crédito e carteiras para FIDCs; depois trabalhou com planejamento estratégico e análise de dados; em seguida uma experiência em assessoria política na ALESP e atualmente é especialista em Educação Financeira em uma fintech. E no meio do caminho ainda arrumou tempo para fundar o Terraço Econômico em 2014 =)

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