Estados brasileiros quebrados. Como chegamos a isso?

Terminamos o ano de 2016 com a tentativa quase desesperada de governadores de estados de renegociar suas imensas dívidas. Os acordos não foram suficientes para evitar atrasos em pagamentos de servidores e várias situações de calamidade. Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Minas Gerais, não necessariamente estados pobres, vivem uma situação oficial de calamidade pública em suas finanças.

Mas por que Estados tão fortes politica e economicamente quebraram? Uma série de fatores. Talvez seja uma mistura de inépcia absoluta de seus governantes nas últimas décadas com o fato de que a maioria dos políticos brasileiros parece ter a eterna convicção de que a pior coisa que podem fazer é governar qualquer ente público gastando apenas aquilo que se arrecada.

Limitar a despesa pública à receita, algo elementar na aritmética, ou em outras palavras, ter responsabilidade fiscal, na prática do histórico da política brasileira, significa corte de despesas ou “arrocho”, posturas sempre denunciadas como de direita, inimigas dos interesses do povo, destinadas a atender interesses do “capital estrangeiro” e exterminadoras de “direitos adquiridos”. Quem quer ser acusado desses crimes todos? É muito melhor gastar o dinheiro que o Estado não tem, atender a todas reivindicações de grupos de funcionários públicos, dar aumentos, conceder “incentivos”, criar cargos, começar obras, endividar-se e mostrar todo esse trabalho na próxima campanha eleitoral.

O gestor público que se preocupar com responsabilidade fiscal terá contra si, maciçamente, quase toda a mídia a lhe impingir as más notícias. Passará sua gestão lidando com greves, muitas delas arbitrárias, e invasões de locais públicos. Se recorrer à polícia para fazer cumprir a lei, como usualmente fez o ex-prefeito Haddad em São Paulo, ainda será chamado de fascista. (evidentemente se seu partido não for de esquerda). Quem quer uma vida dessas?

Obviamente a corrupção representa um papel determinante nesse estado precário. Mas os acontecimentos dos últimos três anos, o fato inimaginável até pouco tempo atrás de termos nas prisões ex-governadores, empreiteiros poderosos, ex-presidente da Câmara, vários parlamentares e centenas de corruptos de alta estirpe, servem de alento nesse aspecto.

A renegociação da dívida dos Estados com a União, com a importante queda na taxa de juros que vêm sendo verificada nos últimos meses, devem ajudar os estados falidos. Mas a mudança de paradigma na mentalidade dos governantes é fundamental para nos livrarmos dessa praga da irresponsabilidade fiscal, que necessariamente sempre acaba por prejudicar os mais pobres, que mais dependem do setor público.

Gerson Caner Economista pela FEA/USP, MBA em Finanças, 20 anos de experiência no mercado financeiro, atuou como diretor de empresas de consultoria (Ernst Young) e é palestrante de Educação Financeira e Finanças Pessoais, além de Gestor de Investimentos

Originalmente publicado em: https://www.linkedin.com/pulse/estados-quebrados-como-chegamos-isso-gerson-caner

Gerson Caner

Mestre em Administração com ênfase em Finanças Comportamentais e graduado em Economia pela Universidade de São Paulo (FEA-USP, 1992). Possui MBA em Finanças (USP) e diversos cursos de especialização realizados no Brasil e Exterior (FGV, Insper, Universidade Nova de Lisboa, London School of Economics). Atuou como economista do Grupo Votorantim e como diretor de Fusões e Aquisições e Mercados Emergentes na consultoria Ernst & Young, onde foi responsável pelo programa Empreendedor do Ano. Atualmente é professor de Finanças Corporativas, palestrante de Educação Financeira e Finanças Pessoais e consultor de Investimentos (possui certificação ANCORD). Também é pai do pequeno Theo, o que só aumentou seu interesse por Educação Financeira e Finanças Pessoais.
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