Lula e a conversa com Maquiavel

“Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim”

-Millôr Fernandes.

Certamente os apoiadores de Lula acreditam que ele, de alguma forma, tenta chegar próximo àquilo que Karl Marx pregava. Algo como o comunismo possível para a situação brasileira.

Bem, de fato, o que fica cada vez mais claro é que o ex-presidente bebeu da fonte de Maquiavel. Impiedoso Maquiavel, cujo pensamento/filosofia é o mais contemporâneo de todos. Você, inconscientemente, já sabe de tudo.

Maquiavel você conhece, responsável por grande parte da ciência política moderna e autor do livro intitulado “O Príncipe”. Neste livro, após observar os comportamentos dos líderes de sua época e rebuscando os textos antigos, o autor trata formas de como o príncipe deve agir para unificar a Itália e defendê-la contra os estrangeiros.

A questão central do livro é como a liderança deve ser mantida, custe o que custar.

Convido você a ler este texto, supondo que por alguma arte oculta o ex-presidente esteja fazendo perguntas que são esclarecidas por Maquiavel. Quase como pupilo e mentor. Tenha como pano de fundo o nosso querido ex-presidente.

Para Maquiavel, o líder é aquele que tem que desfrutar de exercer o poder.

Logo de cara surge a pergunta: Este líder deve exercer este poder para que? Com que objetivo?

A resposta de Maquiavel é clara: o objetivo é mais poder.

Tente degustar esse raciocínio maquiavélico.

Quando é que o líder age bem?

Quando conserva o poder que tem.

Quando o líder age mal?

Quando perde o poder que tem.

E como conservar o poder estabelecido?

Maquiavel dirá: a melhor maneira de conservar o poder é através do aplauso do liderado.

Maquiavel costuma ser tachado como o filosofo da força, mas a banda não toca de forma tão simples assim.

A melhor maneira de conservar o poder é através do aplauso do liderado, o que hoje chamamos de legitimidade. Quando você é aplaudido você gasta menos para exercer o poder (menos energia, força e recursos). Nada melhor que exercer o poder com a aceitação do liderado. Hoje até costumamos chamar de taxa de aprovação do Ibope, Datafolha, etc etc etc.

Agora, se não for possível, é necessário conservar a liderança a qualquer preço. Ai sim é necessário a força. E a força, é claro, significa desde substituir o liderado até elimina-lo.

Hoje, alguns líderes à beira do precipício vociferam para seus súditos para a defesa do castelo custe o que custar, não é mesmo? Custe o que custar. Custe o ministério que custar.

Retomando… O líder bom é aquele que se dá bem. Maquiavel julga a liderança não pelo o que acontece, mas pelo poder que se conserva ou não por parte do líder.

Mas não vale de nada o bem-estar do liderado? Da sociedade?

Vale sim, o líder deve se preocupar com isto.

Mas por que o líder se preocupa com isto?

Preocupa-se quando isto for condição para ele continuar liderando. Em outras palavras, se para continuar sendo líder é preciso que você gosta de mim, farei de tudo para que goste de mim. Populista, não?

Mas a questão fundamental por trás é que o líder não fará de tudo para o liderado gostar dele, por preocupação com o próprio liderado. Ele fará de tudo para o liderado gostar dele com interesses em si próprio. Entendeu? Para que ele possa continuar exercendo o poder dentro das melhores condições possíveis. Por vezes ele pode até te dar pão com mortadela.

Nesse momento, nosso sofista pergunta a Maquiavel: mas qual valor de todas estas ações que eu tomei para me manter do poder?

Aí Maquiavel perguntará em reposta: Qual o resultado?

Lula: eu fiquei no poder.

Maquiavel: então o valor é o valor de uma boa ação.

Está é a lógica e a ética de Maquiavel. Alguns atribuem a ele esta frase, que mesmo que não seja dele lhe serve bem: “Os fins justificam os meios”. “Os meios” podem ser entendidos como “meio do caminho” de uma trajetória que tem “fim” (o objetivo), ou pode ser entendido como o próprio caminho.

Mas o que realmente importa, mediante a todo o cenário atual, parece ficar claro que estamos exatamente “nos meios”. Quase como o vale-tudo da vida política.

O que nos resta é assistir se, de acordo com Maquiavel, o fim de nosso ex-presidente será dotado de virtù.

maq

Arthur

Editor do Terraço Econômico

Arthur Lula Mota

Mestre em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo (USP/ESALQ) e Bacharel em Economia pela Universidade Federal de São Paulo. Já trabalhou no mercado financeiro, auxiliando mesa de operações de fundos institucionais e departamento econômico com análises macroeconômicas.

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