Maldição de Ulysses-Alckmin

O Brasil urgia por votar pra presidente após ficar sem fazer isso desde 1961, quando Jânio Quadros foi eleito. A quantidade de chapas em disputa não deixava margens para o tamanho dessa vontade: vinte e duas disputavam o pleito. Sim, já falamos sobre essa questão do comparativo entre as eleições de 1989 e 2018 anteriormente, mas nos ocorreu que outro paralelo surpreendente ocorre agora: a maldição de Ulysses se repete com Alckmin.

Afinal, qual seria essa maldição? E como Alckmin deu continuidade a ela?

Ulysses Guimarães, também conhecido como “Senhor Diretas” (pela ativa participação na campanha “Diretas Já”) e membro do congresso que liderou a constituinte que desembocou na nossa atual constituição, pavimentou seu caminho na política de modo que poucos duvidavam ser suficiente para ocupar o cargo máximo do poder executivo no Brasil. Não apenas esteve entre a vinte e duas chapas postulantes como também liderou o tempo de televisão (22 minutos do total de 68 da programação). Efeito de tudo isso na corrida eleitoral? Ficou em sétimo lugar, bem distante do segundo turno.

Geraldo Alckmin apresentou-se como opção reformista possível. Com um diagnóstico do que precisa ser feito e assessoramento político consideravelmente sólido – por exemplo com Persio Arida, um dos pais do Plano Real -, aproveitou para unir essa capacidade com uma ampla (muito, muito ampla) aliança eleitoral que lhe rendeu uma quantidade descomunal do tempo de TV e das inserções diárias de propaganda política. Tais inserções totalizaram 434 até o dia 03 de outubro. O segundo colocado, representando o PT, teve menos de metade disso, 189 inserções. Resultado prático disso? Ficou em quarto lugar, com menos de 5% dos votos totais e bem distante do segundo turno.

Vários motivos podem explicar essa colocação – que representa o retumbante fracasso da candidatura tucana – que vão desde a erros estratégicos dos marqueteiros, até ao grande impacto das redes sociais. Mas o motivo em especial, que se destaca em meio aos demais, é o do momento de ruptura por qual passa o Brasil.

Nas eleições de 1989, a ruptura foi marcada pelo retorno das eleições presidenciais (de forma direta). Agora, o processo não é tão evidente, mas começou a partir do impeachment de Dilma Rousseff e continuou com o fortalecimento da Operação Lava Jato, marcando o esgarçamento – ao menos virtual – do atual sistema político brasileiro.

O resultado disso é a formação de uma nova corrente que permeia o Brasil – mesmo que de modo um tanto confuso – que busca candidatos que criticam fortemente o sistema, se apresentando como uma “nova” alternativa, principalmente no sentido de realizar uma firme oposição contra o PT.


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Se Ulysses foi um opositor histórico a ditadura e passou pelo período de transição em que o candidato a presidente foi escolhido ainda de maneira indireta, Alckmin, que encarna uma tradicional oposição ao PT (através da polarização que vem se mostrando frequente desde os anos 1990), passou pelo período em que o MDB retira o poder petista (no que se refere a presidência).

É como se Ulysses e Alckmin, políticos com grande experiência, representantes de estabilidade e coalizão, fossem considerados como formas ultrapassadas e pouco eficientes em momentos de rupturas. Nesse período, são novos personagens que se beneficiam, com pouca experiência (ao menos no que tange a cargos no poder Executivo) e promessas de soluções rápidas e certeiras, como Collor e Bolsonaro.

Infelizmente para o caso de Ulysses, não há como reverter os efeitos da maldição, mas para Alckmin, isso talvez ainda seja possível, apesar de ser extremamente improvável. O desafio depende muito dos efeitos da ruptura, que perpassa pelo resultado do segundo turno eleitoral. E mesmo após a decisão do segundo turno, ainda haverá a avaliação dos resultados de um potencial governo Bolsonaro ou Haddad. Será que haverá a necessidade do retorno de um velho candidato moderado, que promova reformas a partir de uma grande coalizão nacional? Isso apenas o futuro poderá dizer.

Por ora, temos um segundo registro importante para comprovar que não necessariamente agregar a si o maior apoio político significa que alguma vitória ocorrerá. Ainda mais se isso representar que você não está seguindo o momento de ruptura, mas sim demonstrando que quer se agarrar ao que ficou para trás.

Caio Augusto Editor do Terraço Econômico Lucas Adriano Editor do Terraço Econômico

Lucas Adriano

Mestre em Economia e bacharel em Ciências Econômicas na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Vindo de Ponte Nova (MG), cruzeirense e fã de observar a abordagem econômica sendo utilizada nos mais diversos assuntos. Espera um dia poder dar a sua contribuição para a Ciência Econômica.
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