O Capital de Thomas Piketty

Convidados Especiais | Mônica de Bolle

“Over a long period of time, the main force in favor of greater equality has been the diffusion of knowledge and skills.”   Thomas Piketty

Muito já foi dito e escrito sobre esse livro tão interessante que acaba de ter versão em português lançada no Brasil. Houve quem gostasse, houve quem o odiasse. Poucos ficaram neutros em relação a essa obra. Por que?

Os temas da desigualdade e da distribuição de riqueza são temas vivo, temas que tocam a todos, temas que ganharam enorme visibilidade depois da crise de 2008. Os EUA, berço do “american dream”, hoje estão assolados pela crescente desigualdade, pelo encolhimento da classe média, a despeito da recuperação econômica. A Europa, berço do estado do Bem-Estar Social, hoje amargura taxa de desemprego assustadora e enfrenta perspectiva dramática que deve resultar em mais desigualdade, mais pobreza, maior distanciamento entre os que encabeçam o topo da distribuição de renda – o 1% mais rico – e o resto.

No Brasil, o drama da desigualdade persiste, apesar da inclusão social e do aumento da mobilidade dos trabalhadores na distribuição de renda. Houve ascensão social no País na última década, mas essa ascensão está, hoje, ameaçada pela prostração econômica, pela inflação renitente e pelo risco de alta da taxa de desemprego. Tudo isso em razão das políticas mal-pensadas e mal-conduzidas pelo governo.

O livro de Piketty retoma esses temas de forma muito interessante. É um tratado de história econômica, obra que lê como grande romance, ou grande tragédia. Não à toa, o autor cita diversos escritores clássicos do Século XIX para ilustrar alguns dos principais pontos e algumas das principais conclusões a que chega. É livro acessível a todos que se interessarem pelo tema, não é tratado árido de economia.

A grande controvérsia é a proposta, ao final do livro, sobre a instituição de imposto global sobre fortunas. Como salienta o próprio autor, a proposta é apenas um fecho para o livro, uma discussão em aberto que não deve ser descartada nem pela ingenuidade com que foi levantada, nem pelo incômodo que gera em determinados setores da sociedade.

Quem tiver o interesse e a paciência de navegar suas mais de 600 páginas, certamente há de se sentir enriquecido pela empreitada. Enriquecido em conhecimento, ainda que não em moeda corrente. Afinal, no Brasil tão desigual, país tão heterogêneo na renda, na educação e na cultura, torcer o nariz para uma obra como essa apenas porque levanta discussão perturbadora é desperdício inominável.

[caption id="attachment_616" align="aligncenter" width="660" class=" "]piketty-capital-21st-century O livro e o homem do momento, agora em português! Fonte: Harvard U. Press[/caption]

Monica Baumgarten de Bolle PhD em Economia pela London School of Economics Economista do FMI entre 2000 e 2005 e desde 2007 Sócia da Galanto Consultoria

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2 Comentários

  1. Tem um buraco enorme no pressuposto do livro, que é o de confundir desigualdade social, desigualdade econômica e desigualdade de renda como se fossem uma coisa só.
    Desigualdade social se refere ao acesso a bens e serviços públicos, cidadania, e bens econômicos essenciais.
    Desigualdade econômica de refere ao acesso a bens de consumo que provenham bem estar, além do acesso a tecnologias, financiamento e escala, que insiram o indivíduo nas relações de mercado. E desigualdade de renda não vincula as duas de cima, já que uma coisa é o capital financeiro, que é abstrato, e outra totalmente diferente são os bens de capital, como terra e tecnologia, que apesar de variarem seus preços com base no capital financeiro, podem (e devem) ter regras próprias de acesso.
    Ao confundir os 3 conceitos como um só, Piketty cria o sofisma que baseia toda a sua tese: de que o rendimento financeiro gerado pela abertura dos mercados de capital (desigualdade de renda) determinaria as desigualdades que vemos em termos de acesso a bens e direitos. É o contrário. Economias mais abertas ao fluxo de capitais coincidentemente (?) são também as que registram maior IDH, ainda que tenhamos ciclos de maior ou menor correlação entre as duas variáveis.
    Assim, do ponto de vista econômico, Piketty é um charlatão a meu ver. Mas pode ser um ótimo romancista.

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