O capitalismo sustentável ou a busca incessante pelo lucro

Atualmente, muitas empresas possuem em sua cultura empresarial a utilização sustentável dos recursos à disposição dos funcionários e clientes. O extinto Banco Real, por exemplo, utilizava folhas recicladas em seus talões de cheques. Diversas empresas evitam hoje a impressão desnecessária de emails. Podem-se mencionar também os inúmeros eventos das companhias a fim de conscientizar a população e os funcionários sobre os efeitos adversos do aquecimento global e a importância da seleção de tecnologias limpas.

Mas diante dessa onda de sustentabilidade, fica uma pergunta: será que essas empresas estão de fato preocupadas com os efeitos positivos que essas ações causam no meio ambiente ou fazem isso com o objetivo de ter algum tipo de retorno econômico às suas campanhias?

Vamos pegar como exemplo um dos casos mais notórios da última década, a britânica British Petroleum – atual Beyond Petroleum (BP).  A BP teve seu nome ligado a diversos casos de degradação do ambiente com vazamentos de óleo em alto-mar. Sabendo desse risco de imagem, a empresa agora busca modificar a visão negativa atribuída a ela. O novo nome da companhia, criado a partir de um interessante jogo de palavras possível a partir da sigla BP, Beyond Petroleum, traduzido como “Além do Petróleo”, passa a impressão de uma nova era, isto é, a de não dependência de um combustível fóssil altamente poluidor como única alternativa.

Obviamente esse novo posicionamento da empresa não fica só no nome da empresa, mas em uma nova estratégia nos seus negócios. Mas será que a mudança no plano de negócios não estaria mais ligada à lucratividade do que à preocupação ao meio ambiente?

Outro exemplo bastante conhecido é o caso da Natura. Essa empresa é reconhecida mundialmente como uma defensora dos ideais da sustentabilidade. Esse seu posicionamento estratégico vem trazendo benefícios à marca, através de uma percepção positiva dos consumidores que acaba adicionando valor aos produtos que a Natura vende, e no segmento de consumo, atribuir valor à marca é extremamente relevante. Com essa diferenciação, a Natura prossegue como referência das empresas sustentáveis.

De todo modo, o que gostaria de passar com esses dois breves exemplos é que, em última instância, o fator determinante para observar o desempenho de uma empresa é a última linha de seu resultado anual – na qual são descritas receitas e despesas ao longo do ano– isto é, o lucro no período. As linhas intermediárias, nas quais estão elencados os gastos com fornecedores, colaboradores e indiretamente o relacionamento entre essas partes são menos relevantes do que o resultado em si; em outras palavras, o que o acionista de fato está preocupado é se a empresa está dando lucro ou não. Ou alguém acha que uma empresa que incorre em sucessivos prejuízos investe para se tornar mais sustentável?

Ledo engano de quem acha que essa idéia se aplica apenas no âmbito das empresas. Notem quantos anos discutimos a redução na emissão de gases poluentes entre os países, a promoção de métodos sustentáveis e a busca por uma economia mais verde. As nações, embora publicamente digam que querem uma economia mais sustentável, quando está no momento de tomar atitudes para isso raramente querem se comprometer, uma vez que isso implicaria, no curto prazo, em um ajuste para baixo na produção de bens. Aliás, notaram que no período pós quebra do Lehman Brothers, em set/2008, início da Crise Global, pouco se falou sobre o desenvolvimento sustentável?

Outro exemplo de que não só as empresas estão preocupadas com a sua lucratividade como também as nações, é que a China, motor da economia global, é um dos grandes poluidores do mundo. O consumidor muitas vezes não se importa com isso, pois fica satisfeito ao ver o produto chinês chegar a um preço baixo na porta de sua casa. Mas e os meios utilizados para a sua produção? Essa “investigação” fica pra outro momento…

Diante disso, qual seria o motivo para os países permanecerem calados? Porque sabem que nesse momento, extremamente delicado para a economia global, primeiro é preciso colocar as “coisas nos eixos” para depois voltar a produzir de maneira efetivamente sustentável. Tendo em vista a tríade moderna do conceito sustentabilidade – Econômico, Social e Ambiental – convenhamos que o método de produção chinês está muito longe do ideal.

E você? Acredita que há altruísmo e benevolência por parte das empresas e governos ou de fato a economia vem antes do que as preocupações com o meio ambiente?

Arthur Solow

Economista nato da Escola de Economia de São Paulo da FGV. Parente distante - diz ele - do prêmio Nobel de Economia Robert Solow, que, segundo rumores, utilizava um nome artístico haja vista a complexidade do sobrenome. Pós graduado na FGV em Business Analytics e Big Data, pois, afinal, a verdade encontra-se nos dados. Fez de tudo um pouco: foi analista de crédito e carteiras para FIDCs; depois trabalhou com planejamento estratégico e análise de dados; em seguida uma experiência em assessoria política na ALESP e atualmente é especialista em Educação Financeira em uma fintech. E no meio do caminho ainda arrumou tempo para fundar o Terraço Econômico em 2014 =)

Um Comentário

  1. As iniciativas sustentaveis sao muito bem vindas quando trazem uma sustentabilidade economica, ou seja, um corte de gasto permanente. Caso contrario, vira apenas gasto de marketing.

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