O fenômeno político chamado Jair Bolsonaro

A ascensão meteórica do político do 'baixo clero'

Você pode não gostar dele. Você pode achá-lo grosso, autoritário, preconceituoso, despreparado e vários outros adjetivos negativos. Como um antifrágil, o deputado federal pelo RJ e candidato à presidente Jair Bolsonaro se desvencilhou do jogo eleitoral como poucos fizeram desde a história democrática recente.

Ganhando adeptos por onde passava, até ser covardemente atacado em um crime aparentemente isolado, mas com histórias desencontradas e estranhas. Ainda assim, mesmo sem aparecer fisicamente e dar entrevistas, cresceu nas pesquisas eleitorais de forma ininterrupta, ganhou a simpatia do mercado financeiro (que abandonou sua pretensão inicial) e dos eleitores indecisos.

Mas a história de sucesso eleitoral de Jair Bolsonaro não começou em 2018; ela foi construída muito antes, num momento singular da política brasileira: o vácuo criado entre o aprofundamento das investigações da Lava-Jato e da falta de legitimidade do combalido governo de Michel Temer, que como um zumbi, se arrasta até o final de 2018, com a menor aprovação de um governo de toda a série histórica do indicador.

Senta que lá vem história…

Bolsonaro, da alternativa ao mito…

Para ter 25 – 30% de apoio no primeiro turno, a campanha precisa ser construída ao longo de muito tempo, e não apenas no ano da eleição.

Foi exatamente isso que Bolsonaro fez, aproveitando-se de manifestações de rua contra o então governo Dilma Rousseff. No começo de 2015, Bolsonaro ficava em um carro de som, afastado do centro das manifestações, e ganhava o apoio e simpatia do grupo pró-intervenção militar, que eram minorias nas grandes manifestações de rua.

Pouco a pouco, Bolsonaro foi ganhando protagonismo nesses movimentos, expandindo sua presença como uma alternativa àquele sistema corrupto e ineficiente dos governos petistas. Já em 2017, suas visitas eram aguardadas por centenas (e em alguns casos milhares) de admiradores, que o acompanhavam na recepção dos aeroportos e ruas dos municípios visitados.

Esse protagonismo pode ser confirmado nas pesquisa eleitorais, se visto em perspectiva. Se pegarmos dois momentos, 2015 – 2017 e depois em 2018, veremos que Bolsonaro foi pouco a pouco consolidando seu eleitorado, principalmente em redutos tucanos, como o estado de São Paulo, por exemplo.

Note que a intenção de votos no candidato do PT, mesmo com a recente alteração da candidatura de Lula para Haddad, se manteve quase no mesmo patamar (20 – 22%). Ciro, a alternativa ao PT – pelo menos no “espectro ideológico” – apresentou leve subida nas intenções de voto, saindo de 6 para 11% nesse período.

Dessa forma, o crescimento meteórico de Jair Bolsonaro no Datafolha – de 4% para 28% – ocorreu justamente na histórica intenção de votos nos tucanos, que caíram de 27% para 10%, a reboque das investigações da Lava-Jato e do escândalo com um dos principais expoentes do partido, o senador Aécio Neves. Marina, por sua vez, teve o mesmo derretimento apresentado em 2014.

Mas aí viria o período eleitoral, e, com ele, o derretimento das intenções de voto ao capitão reformado. Ledo engano: errou feio, errou rude. Se olharmos o gráfico, os votos ao candidato do PSL só cresceram após o início da propaganda eleitoral. Obviamente, é impossível isolar quantitativamente o efeito do atentado em Juiz de Fora (MG) sobre o apoio a Bolsonaro. Os efeitos ficam misturados e é muito difícil de implicar causalidade entre eles.

De qualquer forma, os ataques na TV e no Rádio quase não surtiram efeito, fato muito diferente do que ocorria nas campanhas passadas. Vídeos antigos, declarações inapropriadas e decisões equivocadas sempre pesavam nas campanhas eleitorais, afetando diretamente as intenções de voto. Em 2018, esses fatores tiveram pouco efeito em quem está na frente (Bolsonaro e Haddad).

Isso pode estar relacionado com a criação da identidade no eleitor, realizada pouco a pouco, conforme mostra o gráfico acima. Não se muda a opinião de uma hora para a outra, muito menos uma construída em mais de três anos de campanha.

Bolsonaro, o próximo presidente do Brasil?

A popularidade de Jair Bolsonaro, é um fator impressionante. É difícil – para não falar impossível – se lembrar de um candidato sem tempo de TV, sem estrutura partidária e com tanto apoio popular [1]. Muitos tentam desqualificar esse apoio orgânico e real ao candidato do PSL, mas a verdade é que muita gente já está mais na fase de negar a realidade do que observar o que está ocorrendo.

Bolsonaro é o candidato anti-PT, e isso lhe assegura boa parte do eleitorado. Esse fato já é suficiente para relevar ou minimizar algumas declarações polêmicas do próprio Bolsonaro ou de sua equipe de governo.

E o eleitor mediano? Eu mesmo escrevi um artigo, em 2016, em que acreditava que o radicalismo da campanha de Bolsonaro afugentava o eleitor mediano, usando o arcabouço teórico de ciência política para afirmar que dificilmente conseguiria apoio de mais da metade dos votos válidos, isto é, excluindo os votos brancos e nulos.

Olhando dois anos e meio após a divulgação desse artigo tenho cá minhas dúvidas. Bolsonaro construiu seu apoio utilizando as redes sociais e formas de contato com o eleitor de forma inovadora e eficiente, o que cristalizou a sua imagem para o pleito de outubro de 2018.

Conseguiu cativar eleitores através de uma estratégia muito bem sucedida de conseguir votos de uma parcela muito insatisfeita com o PT com relação à política econômica e que – muito importante – não o apoiava há três ou dois anos atrás.

E esse eleitor (o mediano incluído aqui) que o apoia, espera coisas grandiosas de Bolsonaro. Por tudo que ele representa, por tudo que foi construído nesses anos de confiança que os eleitores depositaram no capitão reformado do exército brasileiro. A alternativa que se materializou em meio aos políticos tradicionais que não souberam lidar com o crescimento exponencial de sua candidatura.

Muitos falaram da precária estrutura partidária; falaram também do tempo de TV diminuto. Muitos questionaram a escolha do vice, e também da saída às pressas do Patriotas, um namoro de verão. A verdade é que muitos (inclusive eu) utilizamos as eleições anteriores como parâmetros para darmos nossos palpites em 2018.

Mas Jair Bolsonaro virou de ponta-cabeça tudo que acreditávamos ser importante para vencer uma disputa eleitoral para presidente.

Amando ou odiando sua figura, uma coisa é certa: Jair Bolsonaro é um fenômeno político.

Arthur Solow
É editor do Terraço Econômico

Notas

[1] Na verdade, se pensarmos um pouco, é justamente daí que o apoio dele emerge, isto é, ser um outsider no que se refere à política tradicional.

Arthur Solow

Economista nato da Escola de Economia de São Paulo da FGV. Parente distante - diz ele - do prêmio Nobel de Economia Robert Solow, que, segundo rumores, utilizava um nome artístico haja vista a complexidade do sobrenome. Pós graduado na FGV em Business Analytics e Big Data, pois, afinal, a verdade encontra-se nos dados. Fez de tudo um pouco: foi analista de crédito e carteiras para FIDCs; depois trabalhou com planejamento estratégico e análise de dados; em seguida uma experiência em assessoria política na ALESP e atualmente é especialista em Educação Financeira em uma fintech. E no meio do caminho ainda arrumou tempo para fundar o Terraço Econômico em 2014 =)
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