O legado econômico de Dilma Rousseff

Guido Mantega, então ministro da fazenda em entrevista à revista Veja em 12/12/2007 Guido Mantega, então ministro da fazenda em entrevista à revista Veja em 12/12/2007[/caption]

A confirmação do impeachment de Dilma Rousseff pelo Senado Federal substituiu as reticências do governo interino de Michel Temer pelo ponto final no governo Dilma Rousseff.

E como temos um início, um meio e um fim de governo bem delimitados, podemos olhar para trás e ver qual foi o legado deixado por Dilma e sua equipe econômica.

 Caso não tenhamos memória curta e decidamos levantar, sacodir a poeira e dar a volta por cima, podemos concluir que tivemos belíssimas aulas práticas de economia, às custas de efeitos deletérios para a população. Mas como dizem por ai, não é possível fazer um omelete sem quebrar alguns ovos.

 Com Dilma Rousseff e sua equipe econômica, aprendemos na prática que o estabelecimento da taxa de juros básica da economia não é uma decisão tomada pela classe rentista que cooptou a autoridade monetária. Dilma Rousseff nos ensinou que baixar os juros na marra (com a ideia fixa de que os juros são altos pois os bancos são gananciosos) somente traz inflação mais alta. Uma aula de política monetária.

Com Dilma Rousseff e sua equipe econômica, também aprendemos que gasto público não é vida e que o aumento do dispêndio governamental às custas de maior endividamento não gera crescimento econômico para pagar a conta no futuro. Uma aula de política fiscal.

Ainda, aprendemos com Dilma Rousseff e sua equipe econômica, que canalizar crédito subsidiado a empresas que conseguem facilmente obter financiamento no mercado e que não são grandes geradoras de externalidades positivas para a economia somente aumenta a concentração de mercado com efeitos maléficos nos preços ao consumidor. Uma aula de microeconomia.

Dilma Rousseff e sua equipe econômica também nos ensinaram que desrespeitar contratos de longo prazo firmados com a ideia de que mexer no preço da energia pode causar um boom de investimentos e produção somente terá os efeitos colaterais de adiar um aumento mais forte do preço das tarifas e reduzir o investimento em novas fontes de energia. Uma aula de direito econômico.

Ainda em 2014, aprendemos com Dilma Rousseff e sua equipe econômica que aumentar o gasto público em ano eleitoral a fim de distribuir benesses para se reeleger pode garantir o resultado nas urnas, mas os anos seguintes serão de sacrifícios para o eleitorado. Uma aula magistral de economia política.

Felizmente, a equipe econômica de Dilma Rousseff e ela mesma nos ensinaram também que tomar empréstimos em bancos controlados pelo governo para pagar a conta do aumento de gastos é uma clara violação à lei brasileira e que pode (e deve) derrubar um governo que coloca em risco a suada estabilidade monetária.

Caso nossa memória não seja curta, oxalá todas as aulas de economia que assistimos durante os últimos anos nos deixem um bom legado sobre o que não fazer em política econômica nos próximos anos. Seria uma dádiva evoluirmos no debate econômico para um patamar no qual não existam sequer menções às políticas praticadas durante a gestão Dilma Rousseff.

Ficamos honrados pelas aulas ministradas, mas não sentiremos saudades desses nossos professores.

Leonardo Palhuca

Doutorando em Economia pela Albert-Ludwigs-Universität Freiburg. Interessado em macroeconomia - política monetária e política fiscal - e no buraco negro das instituições. Escreveu para o Terraço Econômico entre 2014 e 2018.
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