O ‘My Way’ Grego, reflexões do Sinatra na ágora

Frank Sinatra tem mais a nos explicar sobre Grécia do que muitos economistas... Frank Sinatra tem mais a nos explicar sobre Grécia do que muitos economistas…[/caption]

Por Victor Candido

A Grécia corre contra o tempo, em meados de Abril pode ficar sem dinheiro para pagar salários do setor público e pensionistas. A extensão do pacote de 172 bilhões de euros conseguido em fevereiro, mais uma vez, permitiu a Grécia respirar. O alívio momentâneo do ministro sensação, Yanis Varoufakis não conseguiu convencer o mundo e a si próprio de que os rumos serão muito diferentes daqueles que o país já vem seguindo: A dolorosa, porém necessária austeridade.

A relutância dos demais membros da zona do euro em afrouxarem os termos emana do my way grego. O jeitão contra tudo e contra todos do partido de extrema esquerda Syriza, talvez não seja tão distinto assim do modo grego de gerir as próprias finanças nos últimos 10 anos. Relutância reforçada pelo medo de que o partido podemos, com um discurso semelhante ao do Syriza vença na Espanha, logo não ceder aos gregos, seja uma forma de sinalizar que não haverá moleza para aqueles que são contra ajustes de natureza fiscal.

[quote_regular name=”” icon_quote=”no”]“Eu tenho vivido uma vida completa Viajei por cada e todas as rodovias E mais, muito mais que isso Eu o fiz do meu jeito”[/quote_regular]

Exatamente como canta Sinatra foi o modo que a Grécia viveu nos últimos 10 anos, vida completa, expansão do consumo, produto crescendo e pessoas confiantes em futuro seguro e feliz, uma vez que eram membros da união europeia. Era para ser assim no longo prazo, talvez para sempre. Porém o my way, não era o way correto. Desde de sua entrada na zona do euro a Grécia nunca respeitou os critérios fiscais estabelecidos pelo tratado de Maastricht. Para garantir a convergência macroeconômica entre os países da união monetária, todos tinham de assegurar que o déficit nominal das contas públicas não ultrapassasse os 3%do pib e que a relação dívida pública bruta/pib não superasse os 60%

[caption id="attachment_3667" align="aligncenter" width="888"]Fonte: World Economic Outlook - FMI; Elaboração própria Fonte: World Economic Outlook – FMI; Elaboração própria[/caption]

Entre 2001, ano de entrada da Grécia até a eclosão da crise em 2010, os parâmetros de Maastricht jamais foram respeitados, tampouco se tentou algum movimento que levasse para a convergência. Não foi apenas a Grécia que pouco fez para colocar a casa em ordem, Portugal também operou com números ruins desde sua entrada na zona do euro. Itália e Espanha economias de peso no bloco, também foram irresponsáveis, em relação a finanças públicas, porém são economias muito mais dinâmicas que a grega e portuguesa, possuem um setor industrial e de serviços bastante complexos, Itália principalmente. Espanha que, aliás, tinha uma relação dívida/PIB bastante equilibrada na casa de 50%, e com déficits fiscais próximos de zeros e alguns anos com superávits expressivos (2,6% na véspera da crise). Entre os mais afetados pela crise, o que se saiu melhor é a Irlanda, o país que teve os melhores números desde de sua entrada na zona do euro: Menor gasto do governo, nenhum déficit fiscal até a crise, baixo déficit na balança de pagamentos e menor dívida do setor público. Irlanda que por sinal é o país periférico que teve a recessão menos profunda e uma recuperação mais rápida que os demais, nenhuma surpresa. Vale a ressalva que o problema irlandês foi fruto do sistema financeiro, congestionado de empréstimos imobiliários, quando a crise estourou, os bancos foram junto. Foi o primeiro a adotar medidas austeras, antes mesmo destas se tornarem a cartilha dominante no bloco europeu. Medidas que resultaram em uma recuperação mais rápida e por consequência menor dor e sofrimento.

[quote_regular name=”” icon_quote=”no”]“Eu planejei cada caminho do mapa Cada passo, cuidadosamente, no correr do atalho E mais, muito mais que isso Eu o fiz do meu jeito”[/quote_regular] [caption id="attachment_3668" align="aligncenter" width="882"]Fonte: World Economic Outlook - FMI; Elaboração própria Fonte: World Economic Outlook – FMI; Elaboração própria[/caption]

O ponto aqui é mostrar que países que tiveram políticas macroeconômicas no rumo correto, tiveram e estão tendo muito mais facilidade em destravar uma recuperação do crescimento e assim retomar o caminho da prosperidade, mesmo que exista diferenças entre a economia de cada um desses países. A austeridade pede um sacrifício da população, é necessário. Países que passaram por profundos ajustes como Espanha, Itália e Portugal ainda cambaleiam, porém seus fundamentos macroeconômicos têm melhorado significativamente.

O problema grego é o mais grave devido a seu my way de conduzir sua economia, os números da última década não mentem, quem fez o dever de casa tem passado com mais facilidade pela difícil crise, quem não o fez, a música consola novamente.

[quote_regular name=”” icon_quote=”no”]“Os registros mostram, eu recebi as pancadas E fiz tudo do meu jeito”[/quote_regular]

Victor Candido

Mestre em economia pela Universidade de Brasília (UnB). Economista pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Foi economista-chefe de uma das maiores corretoras de valores do país, economista do Banco Interamericano de Desenvolvimento e atualmente é sócio e economista de uma gestora de fundos de investimento. Foi pesquisador do CPDOC (O Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da FGV-RJ. Ajudou a fundar o Terraço Econômico em 2014.

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