O que deveríamos aprender com o 7×1?

Terraço Econômico | por Victor Wong

Há duas semanas, relembramos o lamentável episódio em que a superintendente do Santander foi demitida por ter aprovado uma carta alertando seus clientes sobre os perigos de uma possível reeleição da presidente Dilma Rousseff [1]. Continuando a saga nostálgica, outro evento que recentemente comemorou um ano de existência foi a derrota por 7×1 para a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo.

Aproveitando a data “comemorativa”, o canal de televisão ESPN Brasil alterou a programação de seu programa semanal “Bola da Vez” para trazer a público declarações do lateral da seleção brasileira, Daniel Alves, sobre a possibilidade do treinador Pep Guardiola, considerado por muitos o melhor treinador do mundo em atividade, de ter treinado a seleção brasileira durante a Copa do Mundo [2].

Segundo o jogador, que trabalhou com Guardiola no Barcelona, o treinador teria se oferecido para comandar a seleção. No entanto, apesar do currículo vitorioso, a CBF rechaçou qualquer possibilidade de o treinador estrangeiro comandar a seleção e optou por Luis Felipe Scolari.

[caption id="attachment_4342" align="aligncenter" width="620"]Eles não querem ser os melhores.. vai entender.. Eles não querem ser os melhores.. vai entender..[/caption]

Depois de saber o que aconteceu na Copa do Mundo, não há como negar o erro. Logicamente, não podemos avaliar um trabalho apenas pelos seus resultados. Porém, a forma com que a seleção jogou durante o torneio inteiro foi medíocre, muito aquém do potencial de uma seleção brasileira jogando em casa. A goleada foi apenas para sacramentar o erro.

Seriamos campeões se Pep Guardiola tivesse assumido? Difícil saber, mas certamente teríamos mais condições.

O resumo de tudo isso é que a CBF por medo de perder o controle do poder e por medo de permitir que um técnico estrangeiro tivesse sucesso em detrimento de nossos técnicos brasileiros fez com que nós perdêssemos uma chance de ouro.

[caption id="attachment_4339" align="aligncenter" width="622"] “(…) O Pep falou que queria fazer a gente campeão do mundo e tinha toda a estratégia e não quiseram. Falaram que não sabiam se o Brasil iria aceitar. Se não aceitamos o melhor do mundo, que pode nos fazer melhores, você não se preocupa com a seleção brasileira” – Daniel Alves[/caption]

Fica evidente que se não quisermos os melhores lá de fora será muito mais difícil crescer, evoluir e ser competitivo. No entanto, isso vale também para outras áreas além do futebol, como a economia. Quando o governo impõe que empresas brasileiras tenham que produzir com conteúdo nacional ou cobra taxas altas para se importar produtos estrangeiros, ele priva inúmeras oportunidades de crescimento para o nosso mercado. Nesse sentido, a CBF está para a seleção brasileira, assim como o governo está para a nossa economia.

O que deveríamos aprender é que proteger o mercado interno dos avanços internacionais é parar no tempo. Somos uma das economias mais fechadas do mundo, de acordo com qualquer métrica que se utilize para medi-la.

Se olharmos as empresas lá fora, em diversos casos encontramos estrangeiros em seus cargos mais altos. Para citar alguns, a CEO da Pepsi, Indra Nooyi, o CEO da Renault, Carlos Ghosn, o CEO do Deutsche Bank, Anshu Jain, são respectivamente indiana, brasileiro e indiano. Já em empresas nacionais é dificílimo encontrar um estrangeiro nesse cargo.

Além disso, há leis no Brasil que impedem que estrangeiros não naturalizados exerçam cargos públicos, mesmo aprovados em concursos públicos. Por outro lado, em território internacional, apesar de poucos, há casos em que estrangeiros exercem cargos importantes no governo. É o caso de Mark Carney, atual presidente do Banco Central inglês. O fato de ser canadense não reduziu seu exímio currículo de ter estudado economia em Harvard e ter mestrado e doutorado em Oxford, de ter sido presidente do Banco Central canadense e ter ajudado o Canadá a se recuperar da crise mais rapidamente que qualquer outro país desenvolvido. Ele era o mais bem preparado para o posto e isso que importou.

[caption id="attachment_4341" align="aligncenter" width="633"]Mark Carney, presidente do Banco Central da Inglaterra Mark Carney, presidente do Banco Central da Inglaterra[/caption]  

Isso tudo mostra que, no Brasil, toda uma cultura meritocrática foi posta de lado em nome do conteúdo nacional. 

Temos muito a ganhar com o futebol internacional. Por que com a economia seria diferente? Assim como a contratação de Guardiola não garante ser campeão, decisões corretas nem sempre geram resultados. No entanto, decisões erradas necessariamente resultaram em fracassos. Optar por continuar fechados ao mundo e ao que ele tem de melhor certamente é querer tomar outra goleada..

china

      [1] https://terracoeconomico.com.br/passado-1-ano-da-famosa-carta-a-superintendente-do-santander-estava-errada/ [2] http://espn.uol.com.br/noticia/525083_guardiola-queria-treinar-o-brasil-antes-da-copa-mas-nao-quiseram-revela-daniel-alves

Victor Wong

Mestrando pela Escola de Economia de São Paulo da FGV. Já trabalhou no mercado financeiro na área de Pesquisa Econômica. Interessa-se pelas questões fiscais e monetárias, além do fator político de cada uma das decisões tomadas no âmbito nacional e internacional. Em outras palavras, a "macro" é com ele! Porém, bons argumentos nem sempre são suficientes para ganhar discussões. Dessa forma, utiliza-se de suas (poucas) habilidades de barman para embriagar as contrapartes: nada como saber o ponto fraco de seus adversários. Escreveu para o Terraço Econômico entre 2014 e 2015.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Yogh - Especialistas em WordPress