O que a economia pode ensinar sobre o amor?

Os Beatles cantavam “can’t buy me love” e muita gente acredita que as melhores coisas da vida, incluindo o amor, são de graça. Mas dado que a economia estuda a alocação de recursos escassos e talvez nada hoje nada mais escasso do que o amor, o que será que a teoria econômica pode nos ensinar sobre o assunto?

Apesar de parecer grátis o amor na verdade tem vários custos que podem torná-lo bastante caro. E nem estamos incluindo aqui o preço de motéis ou jantares românticos. O principal desses custos é o custo de oportunidade.

Ao iniciar um relacionamento, a pessoa está abrindo mão de uma série de coisas agradáveis que ela poderia estar fazendo sozinha (ou até trabalhando e ganhando mais dinheiro) para ficar com a pessoa amada. Além disso, dado que a monogamia é o padrão, ao escolher a pessoa X, você acaba abrindo mão (ou pelo menos dificultando) de se relacionar com todas as outras pessoas interessantes do mundo.

Nesse sentido, namorar é semelhante a procurar um emprego: quando você aceita uma oferta acaba abrindo mão, pelo menos temporariamente, de outras potencialmente melhores. Segundo Alvin Roth[1] (prêmio Nobel em economia pelo seu trabalho em modelos de mercado) o namoro ou casamento é um “matching market”, ou seja, a oferta e a demanda (na maior parte) não são equilibradas pelo preço e sim pela informação. Segundo ele, nesse tipo de mercado boas decisões dependem de boa pesquisa e boas informações a respeito do parceiro.

David Friedman, filho do lendário Milton, dedicou um capítulo inteiro do seu livro Price Theory[2] para falar sobre a economia do amor e do casamento. Ele prova, por exemplo, que quando uma sociedade permite que homens se casem com mais de uma mulher a demanda por mulheres aumenta e com isso elas acabam conseguindo negociações melhores ao se casarem (o mesmo seria válido para os homens, se uma mulher pudesse ter mais de um marido).  Isso, claro se elas forem donas de si mesmas. Quando o dono, ou seja, quem decide pelo casamento, não é a mulher e sim seu pai, esse “benefício extra” acaba ficando com o patriarca da família.

Em um texto não especialmente romântico, Friedman também tenta analisar as causas do aumento no número de divórcios na sociedade contemporânea e conclui que a diminuição do tempo gasto com as tarefas domésticas tornou a opção pelo casamento menos atraente do que no passado. Resumidamente em um mundo em que você consegue pedir comida ou chamar a lavanderia sem sair do sofá pelo aplicativo no celular, faz menos sentido aguentar um casamento chato.

Friedman ainda tenta explicar porque as pessoas se casam por amor, quando talvez fizesse mais sentido casar com uma pessoa que tenha gostos parecidos e habilidades complementares (mantendo a vida amorosa à parte do casamento). Ele pondera, porém, que para muitas pessoas o sexo está associado com o amor e, obviamente, com a reprodução. Portanto, as pessoas se casam porque querem criar os próprios filhos uma vez que é mais conveniente que os pais de uma criança sejam casados, um com o outro.

Ben Stein, escritor, ator e comentarista americano de política e economia (e que se casou com a mesma mulher Alexandra Denman duas vezes) também dedicou-se a estudar a economia do amor. Segundo ele[3], os retornos amorosos são proporcionais ao tempo investido na relação. Com isso, se você cuida, é paciente e generoso em um relacionamento, terá o mesmo em troca. Ele também defende que o ideal é escolher bem a pessoa e que no amor, assim, como na economia. Junk bonds são sempre junk e não tem como mudá-los, portanto o ideal é escolher uma pessoa que vale a pena. Stein também defende o monopólio, ou seja, a monogamia, uma vez que seus retornos no amor são maiores quando você não precisa se preocupar com a concorrência.

Ainda que a gente leve todas essas questões em consideração, a realidade é que, quando estamos falando de sentimentos, sempre há espaço para o inexplicável. Por isso, o amor é um investimento bastante arriscado. Dessa maneira, como uma forma de diversificar o seu afeto e não colocar todos os ovos na mesma cesta, sempre vale a pena criar uns gatos ou cachorros no caso de tudo dar errado. O amor deles costuma ser incondicional e os custos bem mais baixos.

Renata K. Velloso Médica, formada em administração pública, vive e trabalha na Califórnia.

[1]http://www.economist.com/news/finance-and-economics/21692926-find-true-love-it-helps-understand-economic-principles-underpinning

[2] http://www.daviddfriedman.com/Academic/Price_Theory/PThy_Chapter_21/PThy_Chap_21.html

[3] http://www.nytimes.com/2008/07/13/business/13every.html

Renata Velloso

Se de médico e louco todo mundo tem um pouco, Renata tem muito. Logo após se formar em Administração Pública pela EAESP-FGV, trabalhou no mercado financeiro com passagem pelo Citibank, Chase e JPMorgan. Certo dia, cansada da vida boa e rica no ar condicionado, resolveu abandonar tudo para ir estudar Medicina na Unicamp, onde se formou em 2010. Atualmente, além de ser bela e recatada, trabalha com projetos de inovação na área de saúde no Vale do Silício na Califórnia e também é autora do Criando Unicórnios, um livro de empreendedorismo para jovens e adolescentes.
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