Polarização, assimetria de informação e eleitor médio

Se existe algo compartilhado entre os cidadãos brasileiros nesta última etapa da corrida eleitoral, é a sensação de absoluta polarização. Chegamos ao segundo turno assistindo um cenário histérico, de fake news e acusações diárias entre os candidatos e seus eleitores. O eleitor médio, assustado, vive este cenário estarrecido.

Apesar do ensaio ao centro de ambos os candidatos, o debate de propostas foi posto em segundo plano. Neste ponto é que a assimetria de informação se explicita como consequência da polarização.

A polarização age como uma força que afasta os agentes do centro, forçando uma tomada de lado. Esta tomada de lado força uma adesão pouco crítica a um dos lados simplesmente por não se identificar com o outro, desqualificando o debate. Assim nosso debate se reduz a cor da blusa que cada um usa: verde amarela ou vermelha (se bem que a cor desta mudou na reta final).  Mas essa suposta convergência ao centro de Haddad e Bolsonaro, ocorre de forma oportunista e desqualificada.

Vivemos um período de lenta recuperação econômica, alto desemprego e grave crise fiscal, com uma dívida bruta de aproximadamente 80% do PIB. A reforma da previdência, tema de alta relevância no cenário macroeconômico e na renda futura das famílias, era a protagonista deste cenário. Pela força da polarização esta foi posta em segundo plano, pois estamos “urgentemente” discutindo “kit gay”, “regulação de mídia” e até novas constituições. A desinformação venceu e os políticos simplesmente se eximem do papel de prestar contas a sociedade.

Tomemos como exemplo clássico um problema de assimetria de informação, imaginando que você revenda carros usados. Você não avalia muito bem a procedência dos veículos que comercializa, por isso tem muitos problemas depois de revender os carros a seus clientes. Sua reputação de bom vendedor diminui e com isso o preço médio que você consegue revender os carros é reduzido, consequentemente reduzindo sua receita.

Essa menor receita faz com que você tenha que comprar carros mais baratos, que geralmente estão em pior estado, pois detentores de carros usados em bom estado tendem a cobrar um preço maior. E caso você efetivamente consiga alguns carros de boa qualidade, estes terão o mesmo preço de revenda de carros defeituosos.


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O esquema exposto é cheio de simplificações, mas aponta para uma solução clara para este problema: o vendedor deve oferecer ao comprador mecanismos de garantia e deve expor o máximo de informações referentes ao produto a ser vendido. Isso faz com que os preços reflitam de maneira mais justa as condições dos produtos comercializados, beneficiando a todos.

Os carros de mais baixa qualidade poderão ser vendidos a um preço menor e os de boa qualidade a um preço maior, sem nivelar os produtos por baixo ou por cima, como ocorre em um ambiente de assimetria de informação.

A nuvem de nebulosidade nivela os programas dos candidatos tanto para cima quanto para baixo, inviabilizando uma avaliação mais criteriosa por parte do eleitorado. O processo político como um todo está produzindo menos informações necessárias, pois há menos trocas voluntárias de informação entre as partes, já que a luta política está sobreposta ao debate. A própria mentalidade de aniquilação da oposição, produz efeitos nefastos para a qualidade das ideias expostas, dado que releva todas as fraquezas do lado escolhido e interdita possíveis boas ideias do lado contrário.

A escolha do eleitor médio, que busca propostas e não personalidades, ficou seriamente comprometida neste cenário. Isso é um problema a nível global das democracias atuais, mas cabe aos insatisfeitos saírem da inércia e buscar reduzir a assimetria de informação presente no debate público, seja debatendo, se unindo com pessoas de orientação diferente. Os políticos devem continuar a prestar contas a sociedade, mesmo que a nossa democracia ganhe outros contornos no futuro.

Daniel Demetrio Graduado em economia pela UERJ.

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