Quão erradas são as projeções do mercado?

Economia em Pílula – uma dose rápida de economia no seu dia | por Arthur

Semanalmente, o leitor atento de economia se depara com um boletim que compila as projeções das principais variáveis macroeconômicas do país. É o tão comentado Boletim Focus elaborado pelo Banco Central do Brasil, que coleta as projeções de uma série significativa de instituições (a maioria financeira) durante toda a semana, traça sua mediana na sexta-feira e divulga na segunda-feira da semana seguinte.

Para o leitor menos informado, esta é a cara da principal tabela do boletim:

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É bem verdade que, a despeito da sua elaboração semanal, as projeções apresentadas pelo boletim exibem uma boa defasagem em relação aquelas verificadas em instituições cujas projeções estão no “top5”. O ponto é que um bom número de instituições que respondem o boletim não atualiza suas projeções de forma frequente, e assim eventualmente “contaminam” a amostra.

O exercício simples que proponho aqui é verificar qual o desvio das projeções feitas pelo mercado em relação ao resultado efetivo da variável, no caso aqui o PIB brasileiro. Mais do que isto, a proposta é verificar qual o desvio das projeções de um ano durante o mês de agosto. Este mês é importante porque além de ter passado 2/3 do ano ele também já tem disponível alguns resultados trimestrais de indicadores de atividade; desta forma, o mês de agosto teria muito mais informações concretas e cenários críveis.

Vale lembrar que até o início deste mês temos também apenas os resultados do 1º trimestres do PIB do ano corrente, ou seja, as projeções mostradas abaixo são feitas com base em apenas 1 dos 4 resultados que saem para o ano.

Eu poderia comparar o resultado no início do ano com o efetivo, mas os desvios são consideráveis. Projeções de médio prazo no Brasil são, honestamente, apenas para tendência. Sim, a tendência, o direcionamento até são críveis, mas o número em si é muito descolado.

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De qualquer forma, no simples exercício abaixo vemos que a média de erros das projeções nos últimos 16 anos é de +0,2 p.p., um número relativamente baixo. É importante notar, todavia, que há anos em que erro foi expressivo, como o caso de 2004, no qual o PIB esperado para o ano durante o mês de agosto era de 3,8% e seu resultado foi confirmado de 5,8%, um erro de 2,0p.p.  Não podemos também descartar as mudanças metodológicas, sobretudo a mais recente de 2015, quando o Sistema de Contas Nacionais (SCN) mudou sua referência de 2000 para 2010, elevando o patamar do PIB em diversos anos.

Pois bem, considerando este erro médio, a projeção atual do Focus (08/08) de -3,2% para o PIB de 2016 pode muito bem vir para -3,0%, o que apesar de ser um exercício tosco, é bem crível, visto que a maioria dos relatórios econômicos respeitáveis já apontam uma estabilização da economia no terceiro trimestre e uma elevação no quarto, sendo capaz de levar o PIB anual para “apenas” -3,0% ou até menos.

Vamos aguardar. Por enquanto, de olho no Boletim Focus!

Arthur

Editor Terraço Econômico 

Arthur Lula Mota

Mestre em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo (USP/ESALQ) e Bacharel em Economia pela Universidade Federal de São Paulo. Já trabalhou no mercado financeiro, auxiliando mesa de operações de fundos institucionais e departamento econômico com análises macroeconômicas.
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