Um ano para ser esquecido: veja como foi 2015 para as micro e pequenas empresas brasileiras

Quem acompanhou o Terraço Econômico ao longo de 2015 não nos deixa mentir: este é um ano para ser esquecido do ponto de vista econômico. Inflação persistentemente [e perigosamente] alta; produção de bens e serviços (PIB) derretendo sem previsão de melhora; juros nas alturas; dívida pública explodindo e; até o último dos pilares que sustentava a popularidade do governo atual ruiu: o índice de desemprego começou a subir.

Se você acha que estamos em um filme de terror, espere para conhecer o Freddy Krueger da história. Com vocês: o desempenho das Micro e Pequenas Empresas (MPEs) [1] em 2015.

gráf1

Como se pode notar pelo gráfico acima, desde janeiro de 2015, o cenário é de desaceleração comparativamente a 2014. Em todos os meses desse ano, o faturamento agregado das MPEs foi inferior ao mesmo período do ano passado. Para se ter uma ideia da dimensão, a receita total das MPEs em setembro foi de R$ 48,1 bilhões, R$ 11,5 bilhões abaixo da registrada em setembro de 2014. Os dados estão deflacionados pelo INPC, ou seja, já está incorporado o efeito do aumento dos preços nessa redução do faturamento das MPEs [2].

Interessante notar que, se analisarmos a queda de faturamento no acumulado de 2015, os todos os setores tiveram queda significativa. Desde janeiro de 2015 até setembro, a queda no faturamento real foi de 12,1%, sendo que 9% se deve à indústria, 11,1% ao comércio e 14,5% ao setor de serviços. Este último, que antes era considerado o motor do consumo interno, vem sofrendo com a desaceleração econômica e do consumo das famílias.

A importância das MPEs para a economia

O quadro se agrava quando notamos a importância das MPEs para a economia. No Estado de São Paulo, do total de empresas existentes, 99% são de micro e pequeno porte, que respondem por 48% dos empregos formais e 36% da folha salarial. Considerando o Brasil como um todo, a importância sobe ligeiramente, mantendo os 99% das empresas, mas representando 52% dos empregos formais  e 40% da folha salarial.[3]

Interessante notar que, apesar de representar 99% das empresas ativas no Brasil, as MPEs tem participação de 27% no PIB, índice considerado baixo comparado a outras nações. Na Alemanha e na Itália, por exemplo, a relação é superior a 60% e em outros países europeus não é inferior a 50%. [4]

Apesar do cenário adverso, o pessoal ocupado nas MPEs subiu 1,7% de janeiro a setembro de 2015, embora a folha de salários e o rendimento dos empregados tenham caído respectivamente 1,6% e 2% no mesmo período.

Alguns movimentos políticos podem auxiliar na recuperação das MPEs no curto prazo enquanto outros fatores ainda prosseguem na contramão. A ampliação do Super Simples tramita nas esferas de poder (como a PLC 125/2015 já aprovada na Câmara) e favorece o setor produtivo brasileiro. Por outro lado, alguns aspectos do nosso modelo de gestão ainda atrapalham o crescimento das empresas. Basta ver a nossa péssima posição no relatório Doing Business, que avalia a facilidade de fazer negócios pelo mundo. [5]

Expectativas

Se a situação está difícil no presente, o que dizer do futuro? Os empresários não parecem muito otimistas:

Gráf2

Em outubro de 2014, período do final da eleição, 16% das MPEs esperavam que a economia brasileira iria piorar; esse índice subiu rapidamente, chegando em 37% um ano depois. Os que achavam que a situação econômica iria melhorar nos próximos seis meses caiu de 19% para 14% no mesmo período. Parece que estamos vivendo a situação da profecia autorrealizável.

Segundo estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) de setembro de 2015, as micro e pequenas empresas são o motor da criação de empregos na América Latina e no Caribe [6]. Veja um trecho do documento:

“É mais importante do que nunca políticas para fortalecer essas empresas. De onde virão o crescimento e os novos empregos? Muitos terão que vir desse segmento. Temos que conseguir não apenas que elas se mantenham, mas também que cresçam”.

Não há dúvidas que a retomada da economia brasileira deve passar por uma melhora do desempenho das Micro e Pequenas Empresas nacionais. Felizmente, os empreendedores são os últimos a desistirem do Brasil.

arthur-assin       Notas: [1] No levantamento, as MPEs são definidas como empresas de comércio e serviços com até 49 empregados e empresas da indústria de transformação com até 99 empregados, com faturamento bruto anual até R$ 3,6 milhões. [2] Veja a pesquisa completa em: goo.gl/fE4hPF [3] Veja a pesquisa completa em: goo.gl/ILTwyn [4] Dados obtidos em: goo.gl/9aBoKh [5] Se quiser se aprofundar neste assunto, sugiro a leitura deste ótimo texto: goo.gl/Gb2oQx [6] Ver a reportagem completa aqui: goo.gl/osIfBd

Arthur Solow

Economista nato da Escola de Economia de São Paulo da FGV. Parente distante - diz ele - do prêmio Nobel de Economia Robert Solow, que, segundo rumores, utilizava um nome artístico haja vista a complexidade do sobrenome. Pós graduado na FGV em Business Analytics e Big Data, pois, afinal, a verdade encontra-se nos dados. Fez de tudo um pouco: foi analista de crédito e carteiras para FIDCs; depois trabalhou com planejamento estratégico e análise de dados; em seguida uma experiência em assessoria política na ALESP e atualmente é especialista em Educação Financeira em uma fintech. E no meio do caminho ainda arrumou tempo para fundar o Terraço Econômico em 2014 =)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Yogh - Especialistas em WordPress