Um Resumo do livro "A Riqueza da Nação no Século XXI", de Bernardo Guimarães

Resenhas | Por Vitor Possebom*

O Bernardo foi um dos meus melhores professores na graduação e no mestrado em Economia e eu devo a ele uma parte significante da minha atual formação acadêmica. Sendo muito honesto, ele co-autorou com Carlos Eduardo o “Economia Sem Truques”, livro que me convenceu a prestar o vestibular para Economia em vez de Direito. Por todas essas razões, fiquei muito feliz em saber que ele lançaria o livro “A Riqueza da Nação no Século XXI” (Clique aqui). Comprei-o ainda na pré-venda.

 Antes de analisar o livro com mais detalhes, gostaria de destacar um dos pontos que mais me chamou a atenção nele. É um livro 100% digital, publicado e distribuído pelo próprio autor. Isso certamente permitiu que o livro custasse apenas R$ 8,00! Preço tão baixo ilustra perfeitamente um dos objetivos do Bernardo: escrever um livro de divulgação científica. Para divulgar conhecimento, é necessário que as pessoas tenham acesso ao livro. O preço camarada é um ótimo passo nessa direção e considero esta uma inovação importante no mercado editorial.

Mas custo não é tudo. Precisamos olhar também o benefício. E o benefício desse livro é muito alto. Além de escrever de maneira agradável (como era um dos objetivos [Clique Aqui] do autor), Bernardo escreve sobre tópicos muito importantes para o Brasil moderno. Diferentemente de seu livro anterior para o público geral (“Economia Sem Truques”), esse não é um livro quase atemporal sobre Ciências Econômicas. Esse é um livro sobre o debate econômico no Brasil atual. O próprio índice do livro já deixa isso muito claro, temos capítulos dedicados à Lei do Conteúdo Local, ao BNDES, ao Bolsa Família, ao voto distrital, além de uma seção inteira sobre a história recente da política econômica brasileira, com suas muitas jabuticabas e reviravoltas.

Sem título Bernardo Guimarães: “Essa dicotomia é a raiz de um falso debate. Pelo menos para a realidade brasileira atual, as discordâncias mais importantes não são sobre o foco nos pobres ou nos ricos”

O principal ponto do livro é sobre a pobreza do debate econômico no Brasil, especialmente aquele conduzido pelos políticos. Nas últimas eleições, a política econômica era discutida como um Fla x Flu, como se ela existisse em um mundo unidimensional de Oprimidos x Opressores (Alguém se lembra da propaganda política que afirmava que um Banco Central independente roubaria o prato de comida da família brasileira?). Bernardo quer eliminar esse falso debate e enriquecê-lo com todas as nuances de uma discussão econômica séria e precisa. Para tanto, ele afirma categoricamente ser um economista liberal e, como todos os economistas intelectualmente honestos, ele está preocupado com a qualidade de vida da população como um todo.

Mas se gregos e troianos estão preocupados com a qualidade de vida dos cidadãos, o que diferencia um economista liberal, como o Bernardo, de um economista heterodoxo, como o ex-ministro Guido Mantega? Simples: as propostas deles para atingir melhores níveis de qualidade de vida para a população. Bernardo acredita que maiores níveis de crescimento econômico, que beneficiariam a todos, são trazidos por políticas que facilitem os negócios (como a Nova Lei de Falências) e expandem o crédito a todos (como o crédito consignado e [por que não?] a diminuição do papel do BNDES), em vez de burocratas do governo escolherem vencedores via BNDES e Lei de Conteúdo Nacional. Ao longo do livro, o autor traz argumentos teóricos, empíricos e históricos bastante convincentes em defesa de seu ponto de vista.

Além desses pontos mais gerais, o livro aborda algumas questões mais específicas. Em particular, destaco a tributação de automóveis e os programas de transferência de renda. O uso do carro impõe diversos custos a pessoas que não têm nenhuma relação com o motorista: temos que respirar a poluição de seu escapamento, ouvir sua buzina ou sofrer com o trânsito adicional que ele traz. Essa falha de mercado é um exemplo clássico de livro-texto e, para corrigir essa externalidade, o Estado pode lançar mão de algum tipo de imposto (pedágio urbano ou CIDE, por exemplo). Esse seria um bom tipo de imposto, pois desestimularia uma atividade que efetivamente queremos desencorajar.

Por sua vez, ao comentar sobre os programas de transferência de renda, Bernardo levanta uma questão já perguntada por Milton Friedman: “se queremos ajudar o pobre, por que não damos dinheiro para o pobre?”. Programas simples e baratos como o Bolsa Família são muito mais eficientes em combater desigualdade e pobreza do que políticas industriais protecionistas, como a Lei de Conteúdo Nacional. Nesse momento, Bernardo destaca uma das grandes ironias da história econômica brasileira recente: a grande vitrine dos governos do PT (o Bolsa Família) ― que foi tão fortemente usada como a bola do jogo do nosso Fla x Flu ― foi proposta por economistas liberais, seguindo tradições da escola de Chicago (Friedman e Becker, dois prêmios Nobel em Economia).

Por tudo isso, esse é um ótimo livro. Sua leitura certamente é benéfica a todos aqueles que querem ser cidadãos bem informados politicamente e que querem participar de forma mais rica do debate econômico brasileiro, aprimorando-o. Vale sempre a pena lembrar que eleitores capazes de entender as nuances das políticas econômicas são um primeiro e fundamental passo para uma melhora do debate. E Bernardo está eficientemente melhorando a formação de seus leitores. Aposto que esse livro será um passo inicial na melhora das nossas discussões sobre política econômica.

Vítor Possebom Economista e Mestrando em Economia  pela Escola e Economia de São Paulo da FGV

Para ler a Entrevista com o Autor: Clique Aqui

A Riqueza da Nação no Século 21 AUTOR: Bernardo Guimarães. PhD em Economia pela Universidade de Yale e Professor da Escola de Economia de São Paulo da FGV EDITORA: Autopublicação QUANTO :R$ 8 na Amazon (190 págs.) Acesse o Site da Amazon: Clique aqui

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