Qasem Soleimani: a morte de um gênio militar do Oriente Médio

Foi confirmada pelo Pentágono e por autoridades iranianas a morte do general iraniano Qasem Soleimani, no ataque aéreo no Aeroporto de Bagdad realizado no dia 03 de Janeiro de 2020. Esse movimento militar norte americano aumentou em níveis inimagináveis a tensão militar e política no Oriente Médio, tendo também grande repercussão no restante do mundo.

Qasem Soleimani era o segundo homem mais poderoso do Irã, abaixo apenas do Aiatolá Ali Khamenei. Para se ter uma ideia, Soleimani estava a frente até mesmo do presidente Hassan Rowhani. Assim, trata-se da morte política mais importante no Oriente Médio desde Saddam Hussein e Abu Bakr al-Baghdadi e, definitivamente, pode ser o limiar de uma real escalada militar entre EUA e Irã.

A vitória do Irã na Guerra Irã-Iraque nos anos 80, a manutenção e o armamento do Hezbollah e do Hamas, o plano para assassinar um embaixador saudita nos EUA, a continuação do poder de Bashar al-Assad na Síria e a vitória sobre o Estado Islâmico têm algo em comum: Qasem Soleimani.

Também conhecido como o Comandante das Sombras, o general era o líder das forças Quds, unidade da Força Revolucionária do Irã responsável por ações de guerra e inteligência não convencionais por todo o Oriente Médio e no mundo. A sua participação ocorreu, inclusive, em conflitos na Europa, a exemplo das Guerras Iugoslavas. Soleimani era o principal estrategista militar,  responsável pelas estratégias de expansão do poder e influência iranianos, o que faz com que a sua morte seja a maior baixa que o Irã poderia ter em muito tempo.

Ingressando na Guarda Revolucionária do Irã em 1979, Qasem Soleimani ganha destaque entrando como líder e subindo na hierarquia militar iraniana, após Saddam Hussein invadir o Irã no ano seguinte dando início à Guerra Irã-Iraque (que durou de 1980 a 1988). Seu papel fundamental nas operações bem-sucedidas durante a retomada das terras que o Iraque havia ocupado, elevou-o ao posto de comandante ainda na casa dos 20 anos de idade, tendo a partir disso, participado do desenvolvimento da maioria das estratégias das principais operações militares. Talvez não tenha existido um militar persa com tamanha influência no Oriente Médio desde o Império Aquemênida.

Durante a revolta estudantil de 1999 em Teerã, Soleimani foi um dos oficiais militares que assinou uma carta ao Presidente Mohammad Khatami. A carta dizia que, se Khatami não reprimisse a rebelião estudantil, os militares fariam a repressão contra os manifestantes e em seguida fariam um golpe contra Khatami.

Era atribuído a Soleimani o título de principal líder e arquiteto militar do Hezbollah, desde sua nomeação como comandante do Quds em 1998. Estava, inclusive, no Líbano durante o conflito Israel-Hezbollah em 2006 supervisionando pessoalmente o conflito.

Soleimani é amplamente creditado por desenvolver e guiar as estratégias que ajudaram o ditador Bashar al-Assad a avançar contra as forças rebeldes e a retomar as principais cidades sírias. Ele esteve envolvido no treinamento de milícias aliadas ao governo e na coordenação de ofensivas militares decisivas.

Na luta contra o Estado Islâmico, Soleimani foi responsável pelo desenvolvimento de diversas das principais vitórias, tendo participado na linha de frente em algumas batalhas.

As forças Quds sob o comando de Soleimani estavam intimamente envolvidas não apenas com o exército iraquiano e as milícias xiitas contra o Estado Islâmico, mas também com os curdos, como na batalha de Amirli, fornecendo, além de armas e munições, o desenvolvimento do trabalho de inteligência militar e de informação.

Teve também participação fundamental no planejamento da operação para retomar a cidade de Tikrit, no Iraque, cidade qual é a maior e mais importante entre Bagdad e Mosul, que por sua localização, conferia poder estratégico incomparável para o avançar das vitórias contra o EI.

Segundo a Reuters, em uma reunião em Moscou em julho de 2015, Soleimani abriu um mapa da Síria para demonstrar aos líderes russos como uma série de derrotas para o presidente Bashar al-Assad poderiam ser transformadas em vitórias, alinhadas à uma aliança militar iraniano-russa. Essa reunião foi o primeiro e fundamental passo no planejamento de uma intervenção militar russa na Guerra Síria, reformulando completamente o futuro do poder nessa região.

O Irã perdeu uma das peças centrais do seu tabuleiro de estratégias e uma baixa maior na inteligência iraniana não poderia ser imaginada. A influência do Irã nos ataques à embaixada americana no Iraque no fim de 2019 aumentava naturalmente a tensão entre os dois países, mas a morte de Qasem Soleimani eleva o conflito em um nível difícil de prever. A retaliação iraniana é tida como certa, mas só as próximas ações das potências envolvidas nos dirão os próximos passos desse conflito que se estende e que tem potencial para dar início a uma guerra em escala global.

 

Michael Sousa

Mestre em Comércio Internacional pela European Business School de Barcelona, MBA em Gestão Estratégica pela FEA-RP USP, é graduado em Ciência da Computação e especialista em Strategic Foresight. Possui extensão em Estatística Aplicada pelo Ibmec e em Gestão de Custos pela PUC-RS. Trabalha com Gestão de Projetos, Análise de Dados e Inteligência de Mercado. Entretanto, rendendo-se aos interesses pelas teorias freudianas, foi também estudar Psicanálise no Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica, e especializar-se no assunto e na clínica. Quando não passa seu tempo livre tentando desenvolver seu péssimo lado artístico, encontra-se estudando o colapso político-econômico das nações ou lendo vagos e curiosos tomos de ciências ancestrais.
Yogh - Especialistas em WordPress