A falácia da eleição “ideológica”

No próximo domingo (07/10), o Brasil presenciará mais um processo eleitoral. A mídia, os partidos políticos e a sociedade em geral propagam que estamos diante de uma eleição tensa, e coalhada de conflitos ideológicos que dividem (até violentamente) a sociedade.

Seria então a luta dos “mortadelas” versus os “coxinhas”, dos negros versus os brancos, dos sulistas versus nortistas, dos heterossexuais versus os “LGBTs”, dos “radicais de direita” versus os “corruptos de esquerda”, e por aí vai […].

Entretanto, essa “cortina de fumaça” travestida de guerra ideológica esconde por detrás o relevante fato de que – ao longo da história – as eleições brasileiras sempre foram a composição de interesses pela luta do poder como via para a dominação econômica.

O Brasil está de fato dividido, mas entre “ganhadores” e “perdedores”. Basta refletir: quem ganhou e quem perdeu com os efeitos da última crise econômica? Ou, quem ganhou e quem perdeu (economicamente) com o impeachment de Dilma Rousseff?

A resposta a essas duas perguntas revelará que o Brasil não está dividido por raça, gênero, orientação sexual ou ideologias diversas. No capitalismo contemporâneo, a única divisão que causa tensão social é a econômica.

Em uma lógica fundamentalmente materialista, a sociedade está calculando seus ganhos em termos de consumo material e não em termos de bem-estar social, direitos diversos, etc.

Na realidade concreta, as temáticas não-econômicas são apenas um subterfúgio retórico para “humanizar” o discurso econômico. A luta continua essencialmente econômica!

Ou seja, as eleições de 2018 revelam, em níveis mais extremos, os diferentes conflitos entre os empresários que perderam lucros ou que concretamente faliram, os trabalhadores que estão desalentados com baixas remunerações ou desempregados, os funcionários públicos ou líderes políticos que perderam espaço no orçamento público, entre outros.

Isso revela o tradicional conflito distributivo das “novas” riquezas, em um país que esqueceu social e politicamente as políticas públicas de redistribuição (da riqueza já existente).

Sejam os cidadãos mais ricos ou mais pobres, o que está em jogo não é “quebrar” o sistema, mas é contraditoriamente participar dele. Em geral, o que a sociedade quer não é revolução ou mudança político-ideológica, é consumo!

É fácil notar isso a partir dos movimentos dos dois principais candidatos à presidência: Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).

De um lado, com Jair Bolsonaro (PSL), estão os eleitores mais ricos e mais instruídos, ou seja, aqueles que perderam protagonismo nos últimos 15 anos com as várias políticas socioeconômicas que aproximaram os mais pobres dos mais ricos. Apenas dois exemplos revelam isso: a valorização do salário mínimo e as políticas de moradia que reduziram a rentabilidade (média) dos aluguéis.


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Do outro lado, com Fernando Haddad (PT), estão os eleitores mais pobres e menos instruídos, ou seja, aqueles que perderam protagonismo nos últimos dois anos com o impeachment de Dilma Rousseff, e o retorno de um agenda neoliberal dirigida para o mercado externo.

Essas divisões econômicas são normais em uma sociedade contemporânea, com diversos exemplos na Europa e nos Estados Unidos.

Com a dinâmica do capitalismo, ora grupos sociais perdem, ora ganham, e vice-versa. O materialismo é o “núcleo-duro” dos conflitos eleitorais, ainda que não estejam explícitos na mídia e na sociedade como um todo.

O fato é que é uma falácia a ideia de que estamos presenciando uma eleição “ideológica”. Resumindo, vencerá nas urnas aquele candidato que melhor capturar as necessidades econômicas dos grupos sociais mais relevantes!

Filipe Prado de Macedo da Silva Professor Efetivo Adjunto do Magistério Superior Federal Instituto de Economia e Relações Internacionais (IERI), Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Campus Monte Carmelo (MG).

 

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