Por que a bolsa chinesa preocupa?

 Fabio Jorge Rodrigues

Se o vento soprar de uma única direção, a árvore crescerá inclinada. (Provérbio Chinês)

Faz alguns anos que todos nós consideramos a China como a fábrica do mundo, onde praticamente tudo que utilizamos hoje em dia há uma etiqueta Made in China.

Pois bem, essa China monumental realmente existe e continua a todo vapor. Mas, há uma parte dessa China que está intrigando o mundo.

Os mercados financeiros, principalmente o mercado de capitais, são essenciais para o financiamento do setor produtivo de um país. Logicamente, a gigante China não poderia ficar para trás. Mas, para além disso, há um ponto que chama a atenção mundial. E essa atenção está voltada exatamente para o mercado acionário chinês. Na verdade, para a supervalorização do mercado chinês.

O principal índice da bolsa da China, o Shenzhen Composite, subiu mais de 97% somente neste ano – chegando ao topo de +175%. É um número estarrecedor e totalmente na contramão das perspectivas de crescimento chinesa, com o mercado acreditando em uma taxa de crescimento para 2015 na casa de 7% – a menor taxa em 24 anos.

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Outro fator importante é que a China Securities Depository and Clearing – a BM&F Bovespa deles – reportou que a bolsa chinesa bateu mais um recorde esse ano: o incrível registro de 90 milhões de investidores individuais. Esse valor é praticamente o dobro de toda a população do estado de São Paulo.

Muitas pessoas poderiam pensar que, pelo tamanho da China, esse número não seria tão catastrófico.

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Mas, há três problemas fundamentais nesse número:

  • 90% das contas, segundo dados da Bloomberg, são abertas como conta de trades – por conseguinte, o dinheiro não está indo para a investimento e sim para especulação. Outro fator importante, é que há um grande número de pessoas analfabetas ou com pouca instrução nessas novas contas. Quando todo mundo está ganhando dinheiro e até a mais normal conversa é sobre ações, cuidado (pergunte a alguém que operava em 2007);
  • grande parte desse dinheiro está sendo alavancada por meio da conta margem – que nada mais é que um empréstimo financeiro. Segundo dados da Fortune, o estoque de conta margem dobrou no último semestre do ano passado. Sendo ainda, 4/5 de pequenas contas; e
  • não há nenhum mecanismo de defesa para o pequeno investidor chinês. O único mecanismo que o governo chinês propôs, foi um limite para se operar vendido (apostando na queda). Além do regulador do mercado chinês alertar as corretoras, que ela estará fiscalizando a facilitação de empréstimos para clientes sem perfil de risco.
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Outro ponto bastante interessante, é relacionado aos IPOs chineses. As empresas estão aproveitando o bull market para abrir seu capital. Em 2015 foram mais de US$ 6 bilhões em novas empresas listadas. Como estamos falando da China, os IPOs também viraram uma máquina de dinheiro. Cerca de 40% dos lançamentos subiram no primeiro dia. Mais da metade dos IPOs subiram mais de 300% nesse ano. A causa disso pode ser vinculada ao “otimismo cego” dos investidores, mas também à políticas do governo que forçam as empresas a lançaram suas ações a múltiplos baixos (alguns muito baixos, comparado aos pares mundiais).

Somando todos esses dados e fatos, nota-se que a receita para a catástrofe está formada. Uma debandada de investidores no lado da venda, poderia solapar bilhões de dólares da poupança das famílias. Levando a uma catástrofe parecida com a crise do subprime dos EUA.

Outro fator que joga contra a bolsa chinesa, é o início da normalização dos juros nos EUA. Com o aumento dos juros norte americano, a liquidez mundial poderia diminuir, ocasionando grande volatilidade nos mercados acionários mundiais.

Dito isto, duas perguntas só o tempo irá responder. O governo chinês conseguirá executar políticas e ferramentas adequadas para suavizar um possível bull market? Ou ainda, uma crise profunda na China resultará em uma crise para os emergentes em que intensidade? Voltando ao provérbio chinês, os ventos chineses mudaram de direção. Pode ser que a raiz dessa árvore esteja forte, mas talvez ela foi irrigada demais com a torneira aberta da liquidez mundial.

Fabio Jorge Rodrigues Graduando de Economia pela PUC Campinas

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