A relevância na torre de marfim: uma resposta a Gabriel de Arruda Castro e a Rogério Waldrigues Galindo

Na metade do mês passado, Gabriel de Arruda Castro publicou na Gazeta do Povo uma lista de dez monografias (dissertações de mestrado e teses de doutorado) “incomuns” apresentadas em universidades públicas – e, portanto, financiadas com dinheiro de impostos. Em breve introdução à lista, Castro caracterizou a universidade co-mo “um espaço aberto à criatividade e à inovação”, onde “toda forma de conhecimento é válida”, mas apontou que a “opção por temas pouco ortodoxos”, sobretudo na área de ciências humanas e sociais, gera trabalhos “difíceis de explicar ao contribuinte”, ou seja, cujo financiamento é de difícil justificativa.

O texto gerou polêmica, provocando a resposta de uma pesquisadora cuja tese figurava na lista e levando Castro a explicar melhor o que pretenda dizer com a referida publicação. Para Castro, o Estado só deve financiar pesquisas que a) possibilitem a realização de empreitadas que não seriam viáveis com meios privados – “não se pode (…) construir um propulsor de foguetes no quintal de casa”, ou b) promovam “a elevação, não o rebaixamento moral”, uma das funções da universidade.

Rogerio Waldrigues Galindo entrou no debate em seu blog nesta Gazeta, mostrando como a concepção de Castro evoca, para os leigos, a academia como “a torre de marfim onde se estudam os clássicos da antiguidade: a universidade seria o lugar de se estudar (…) o pensamento do homem europeu, branco e morto”. Galindo parece ver em Castro uma ideia de universidade vinculada à utilidade, especialmente às matemáticas e às ciências exatas, onde não haveria espaço para as humanidades, por assim dizer, desinteressadas.

Buscando articular a defesa de uma universidade mais inclusiva, do ponto de vista intelectual, ele monta o seguinte raciocínio: o objetivo principal das pesquisas acadêmicas é a formação, ou seja, importa mais adquirir ferramentas teórico-metodológicas de investigação (procedimento) do que o produto gerado ao final do pro-cesso (conteúdo); a utilidade é uma noção-fetiche, estreita demais para englobar a riqueza da universidade, “a ideia de que devemos estudar tudo o que houver”.

O debate é controverso e multifacetado. Desde o final do ano passado, tenho escrito no Terraço Econômico sobre o tema, já havendo discutido alguns dos pontos que foram levantados no debate aqui na Gazeta, para os quais gostaria de chamar a atenção.

Confira a versão completa deste artigo de Rafael Barros de Oliveira em sua publicação original na Gazeta do Povo.

Rafael Barros de Oliveira

Formado em Direito pela USP, interessou-se pela teoria do direito produzida na Escócia antes de cair na filosofia da linguagem. Tomou o caminho mais longo, cursando a graduação em Filosofia na mesma USP, onde percebeu a tempo que do mato wittgensteiniano não sairá mais pato-lebre algum. Social-democrata por exclusão, acredita que a hermenêutica é o caminho para a emancipação. Foi pesquisador na Direito GV, na École Normale Supérieure de Paris e na Goethe Universität Frankfurt. É mestrando em Filosofia pela USP e agora tenta produzir suas próprias cervejas.
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