Folha de São Paulo, Estado de São Paulo e o Globo[1] trazem levantamentos de como votarão os 513 deputados em relação à permissão para recebimento da denúncia de Temer. A informação é ao mesmo tempo muito relevante, mas pouco reveladora por ter sido apresentada apenas de maneira agregada por voto sim/não, ou não sabe/não respondeu. Visando mapear algum padrão por parte dos parlamentares, este breve artigo se propôs a reagrupar os votos por partido e de relacioná-los com o histórico de votação dos deputados.
A primeira constatação é que os partidos de oposição já se posicionaram claramente a favor do recebimento da denúncia. Ajudados com alguma traição em partidos aliados, hoje existem entre 172 e 181 votos contra o presidente Michel Temer. Vale lembrar que, assim como no impeachment, cabe à oposição o fardo de reunir 2/3 dos deputados (342 votos) para vencer o presidente.
Mas o governo não tem razão para mostrar tranquilidade, pois apenas entre 67 e 85 deputados de sua base se declararam abertamente contra o recebimento da denúncia apresentada pela PGR. Para garantir que esta não prossiga, o governo precisa angariar ao menos 172 votos.
Resta ainda lidar com os 246 a 273 deputados que disseram não abrir o voto ou que não souberam responder como votariam. Para tentar simular seu comportamento na votação em plenário, dois métodos foram utilizados. O primeiro foi o uso da taxa de adesão do partido às orientações do governo nas votações nominais ocorridas desde o início do governo Michel Temer[2]. Através deste, destaca-se que o PSDB (com 96% de governismo), e que atualmente promete 17 traições ante apenas 2 inicialmente esperadas, é o maior problema do governo. O PSB apresenta 20 traições ante 7 já esperadas, mas dada a conhecida divisão dos 37 deputados do partido entre governistas e oposicionistas, isso não pode ser considerado uma grande surpresa. Já o desempenho em relação aos demais partidos da base é bastante regular, com poucas traições (exceção feita ao PHS, cuja bancada é de 7 deputados). Os demais grandes partidos da base como PP, PR e PSD seguem firmes com o presidente.
O outro método visa responder à pergunta de qual seria o placar esperado para a votação em plenário. Para isso utilizou-se o comportamento individual nas votações nominais em 2017 na Câmara e foi atribuída para aqueles que ainda não abriram seu voto uma probabilidade de o deposita-lo a favor ou contra o governo de acordo com seu “governismo”. Nessa simulação, o governo poderia esperar um placar de 306 contra o aceite da denúncia a 207 votos a favor. Na mesma linha, mesmo se considerarmos que todos os deputados do PSDB votassem contra o presidente, o placar passaria para 284 votos contra a denúncia a 229 votos a favor. Estes cenários consideram eventuais faltas como voto contra a denúncia.
Hoje o governo Temer tem a folga de ver a oposição longe dos 342 votos que precisariam para vencê-lo. Por outro lado, não tem a tranquilidade da garantia dos 172 votos que lhe dariam sossego. Uma vez que aliados evitam o desgaste de anunciar seu voto para Temer, a bola está na quadra da oposição para que tentem aumentar as traições na base do governo com vistas a formar os votos ao final do processo. Não será fácil.
Disclaimer a pedido do autor: qualquer opinião emitida é apenas do autor e não reflete visão oficial da PUC-SP, do BNP Paribas ou de qualquer de suas empresas.
Victor Scalet Alves – Economista da BNP Paribas Asset Management, tem mestrado em Economia e Finanças pelo Insper e é doutorando em Ciências Sociais e Política na PUC-SP.
[1] Visita em 13 de julho, com dados atualizados até 13 de julho: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2017/placar-da-denuncia-contra-temer/camara/ ; http://infograficos.estadao.com.br/especiais/placar/votacao/politica/?id=4fNCfMv8N8 e https://infograficos.oglobo.globo.com/brasil/denuncia-contra-temer-na-camara.html. [2] http://estadaodados.com/basometro/#