Certamente você foi exposto a alguma notícia de que há um grande volume de Fake News (ou simplesmente notícias falsas) sendo espalhadas pelo WhatsApp, e que elas estão impactando o rumo das eleições. Bem, que estão sendo veiculadas diversas mentiras é verdade, assim como também foi feito em todas as outras eleições por outros meios de comunicação, como televisão ou rádio (dependendo da tecnologia na época). Mas a outra realidade é que há muita informação verdadeira e útil sendo disseminada.
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Podemos estar sofrendo nessas eleições alguma influência dessas Fake News ou não. De fato, até agora nada pode ser afirmado com segurança. Nesse contexto, tomei a liberdade de elencar algumas perguntas sem as quais não é possível começar qualquer trabalho para combater a disseminação enganosa de informações. Vejamos:
- O volume de Fake News pode ser/já foi bem quantificado?
- Qual o instrumento para relacionar esse fenômeno com as eleições?
- Tem algum efeito líquido nos resultados das eleições? Se sim, como foi estimado?
- Esse efeito líquido favorece algum candidato?
- Existe alguma fonte de informação que tenha mais influência (ex: WhatsApp)?
- Se houver alguma regulação, ela deve focar em algum meio específico de comunicação?
- Qual política/regulação adotar?
- Adotar apenas durante períodos de eleição ou permanentemente?
- Essa política/regulação terá um benefício social maior que seu custo?
- Quem vai fiscalizar?
Sem saber a resposta dessas perguntas, estamos andando no escuro. Qualquer medida/regulação seria baseada no feeling e poderia não ser otimizadora de bem-estar. Fora o fato de que há possibilidade de migração daqueles que elaboram Fake News via WhatsApp para outras plataformas.
O diretor do DataFolha revelou em seu twitter que houve uma clara ascensão de alguns candidatos na reta final, quando vimos um crescimento na disseminação de notícias via Whatsapp, muitas destas falsas. Entretanto, ele tomou cuidado para dizer que isso era apenas uma constatação técnica, não uma inferência, mas esqueceu de relembrar que o mesmo fenômeno foi verificado nas eleições passadas, quando não havia o WhatsApp tão disseminado.
Meu ponto é: não temos, até agora, informações suficientes para fazer inferências e concluir causalidades. Aliás, o Economista X basicamente desenhou isso. Como ele bem lembrou, as mensagens de WhatsApp na reta final podem não ter qualquer relação com o resultado das últimas pesquisas antes da eleição e do próprio resultado das eleições. Pode ser uma mera correlação espúria, uma coincidência. Não há como demonstra o contrário.
[caption id="attachment_13240" align="aligncenter" width="1024"] Fonte: Economista X (via Twitter: https://twitter.com/Economista_X/status/1052990885292576768).[/caption]Se há alguma ilegalidade na campanha de algum candidato, ela deve ser sim investigada e punida, mas partir disso para todo o resultado da eleição não há qualquer fundamento. Até onde foi publicado pela Folha de São Paulo, as duas atuais candidaturas são acusadas de pagar por propaganda eleitoral ilegal no Twitter e no Facebook.
As Fake News são um fenômeno antigo, mas ganharam volume e notoriedade (além do nome gringo) mais recentemente, e ainda estamos aprendendo a lidar com elas. O importante é que cada um use a consciência para formar sua opinião e posicionamento político, e não espere que o Estado o faça via regulação – ao menos até termos respostas coerentes e confiáveis às perguntas acima.
Portanto, antes de pedir uma intervenção ou criticar a legitimidade das eleições até aqui, é ideal que tenhamos todas essas respostas. Do contrário, seria só mais um atentado à democracia e a livre iniciativa.
Editor do Terraço Econômico