O sorte ou revés de Marina Silva

Na semana que se passou, duas importantes pesquisas de intenções de voto foram anunciadas: o IBOPE na quarta-feira e o Datafolha na sexta. Ambas revelam um cenário já esperado: Marina e Dilma vão para o confronto final, com vantagem para a primeira.

De volta ao tabuleiro de war do primeiro turno…

[caption id="attachment_1540" align="aligncenter" width="676"]Intenções de voto no segundo turno. Fonte: IBOPE e DataFolha Intenções de voto no segundo turno. Fonte: IBOPE e DataFolha[/caption]

Marina de fato tirou 6 nos dois dados e conquistou a Oceania, ou melhor, os votos do Aécio e ainda pagou de esperta e atacou a América (no caso, os votos de Dilma) e venceu parcialmente o combate. Faltaram-lhe algumas tropas para ganhar de primeira, mas na segunda (segundo turno) serão mais fortes.

Com uma eventual vitória de Marina, o War ficaria de lado, mas o jogo não terminaria, só mudaria o tabuleiro. Guardemos as pecinhas do War eleitoral e vamos jogar uma espécie de banco imobiliário.

[caption id="attachment_1541" align="aligncenter" width="676"]Intenções de voto no primeiro turno. Fonte: IBOPE e DataFolha Intenções de voto no primeiro turno. Fonte: IBOPE e DataFolha[/caption]

Começou o jogo…

Os “peões” no tabuleiro são três: Marina, Mercado e Congresso. Marina mal rolou os dados e já pegou um sorte e revés enorme no qual dizia “Você venceu as eleições! Parabéns! Mas corre o risco de ficar sem base aliada. Jogue novamente os dados”. Ela jogou e caiu na prisão da falta de apoio no congresso. Neste caso, precisa desesperadamente de um passe livre da prisão e que apenas o PMDB pode lhe dar. Infelizmente para Marina, o jogo é aquele antigo da sua tão odiada velha política e antigos caciques. Existe também a real possibilidade de um alinhamento da atual oposição (PSDB e DEM) com ela, uma vez tirando o PT do poder executivo, novos espaços se abrem para um diálogo com partidos hoje excluídos da órbita do Planalto. Uma vez costurados novos acordo as duas pecinhas, Marina e Congresso, avançam timidamente, ainda estão se conhecendo, testando a estratégia um do outro.

revés

Vez do mercado que joga seu dado e tira um 6 e cai na seguinte casa: Sorte: “Marina foi eleita, a confiança está subindo, a bolsa vai bem; Suas ações valorizaram e o ambiente de negócios tende a melhorar, avance mais 6 casas”.

sorte

Logo o mercado gosta de Marina. Como disse Gustavo Franco em “As Leis Secretas da Economia” na lei número 1: “[PRINCÍPIO DA CONVERGÊNCIA] O aplauso do mercado iguala todos os governantes” [1] Ou seja, pouco importa quem venceu, falando e fazendo o que agrada o mercado, todos serão iguais perante seus olhos. Dúvidas? Só lembrar de Lula em 2003, pouco antes das eleições o Brasil sofreu uma fuga de capitais devido a uma crise de confiança , o câmbio explodiu para perto de R$4,00 e os juros dispararam a reboque, tudo porque o mercado desconfiava de Lula, agora ele vibra a cada nova subida de Marina nas pesquisas. Confirmou-se que Lula uma vez no poder, se comprometeria com a estabilidade macroeconômica herdada de Fernando Henrique Cardoso. Dilma abalou a economia, Marina agora promete a devolver a estabilidade e quem sabe uma taxa de crescimento acima da média dos últimos 4 anos, de magros 1,9%.

Ainda na dinâmica Marina e Mercado, na última sexta feira o programa de governo da candidata do PSB foi publicado e suas propostas econômicas prometem melhora no ambiente de negócios, aumento dos investimentos do governo enquanto este diminui seus gastos primários[2]. E dedica uma página inteira para discutir o controle do banco central, inclusive defendendo uma meta mais baixa de inflação, mandato fixo para a presidência do banco e independência.

“Controle da inflação: restaurar o compromisso do Banco Central com o centro da meta em um ambiente de autonomia; reconquistar a confiança dos agentes no governo e nos dados por ele apresentados.”[3]

Resumindo, existe um compromisso com o famoso tripé macroeconômico: Câmbio flutuante, elevado superávit primário e inflação no centro da meta. No final das contas as pecinhas andam mais 6 casas.

Mas assim como no banco imobiliário, não existe um fim na jornada, existem repetições, o tabuleiro é um circuito, logo cada “giro” vai definindo a dinâmica e cada jogador vai criando posições fixas (quem nunca construiu uma casinha ou hotel no jogo?), ou seja, cada um vai demarcando seu espaço no tabuleiro, mudando a dinâmica do jogo, aqui a duração é de 4 anos e a interação do toma lá dá cá entre Marina (pode-se ler o poder executivo), com o mercado e o congresso, vai de fato definir o fim de um possível jogo, que se iniciaria em 01 de janeiro de 2015 e terminaria em 01 de janeiro de 2019, com uma possível segunda rodada.

Notas:

 [1] “As Leis Secretas da Economia”, Gustavo H. Franco, Zahar.

[2] Gastos correntes são todos os gastos do governo, excluindo investimentos.

[3] O programa de governo da Candidata Marina Silva pode ser encontrado na íntegra aqui.

 Victor Candido

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Victor Candido

Mestre em economia pela Universidade de Brasília (UnB). Economista pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Foi economista-chefe de uma das maiores corretoras de valores do país, economista do Banco Interamericano de Desenvolvimento e atualmente é sócio e economista de uma gestora de fundos de investimento. Foi pesquisador do CPDOC (O Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da FGV-RJ. Ajudou a fundar o Terraço Econômico em 2014.

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