Quando o assunto são os investimentos, muito provavelmente você já ouviu a clássica frase de que é importante “não deixar todos os ovos na mesma cesta”. O nome que se dá a isso é diversificação e neste artigo você finalmente ficará por dentro do que isso significa e por quais motivos é algo importante aplicar na prática.
A ideia aqui não é te indicar um ou outro investimento em específico, mas explicar sobre como você, com seu próprio perfil de risco nesse campo, pode tomar decisões que permitam uma vida de investimentos mais confortável.
Vamos então a esse conceito tão falado e tão pouco explicado!
O que é diversificação?
Partindo primeiramente de um contexto mais amplo, diversificação significa aplicar diversidade a algo, ou seja tornar alguma coisa mais variada e capaz de ter presenças diferentes em si. É o ato de tornar alguma coisa diversa, ou seja, mais ampla e com nuances diferentes.
As óticas possíveis em que podemos observar a diversificação são as mais amplas possíveis: isso acontece desde políticas inclusivas em empresas (para buscar visões diferentes das que existem na atualidade), passa por discussões que podem ser realizadas entre setores que se integram (visando trocar ideias e gerar conhecimento) e, claro, também chega aos investimentos.
A maior importância da diversificação está em estabelecer presenças que busquem enriquecer o todo. Assim sendo, independente do cenário em que você estiver ouvindo falar em diversificação, saiba que a intenção é sempre a de agregar valor diretamente ou pelo menos adicionar aprendizado ao todo a cada nova inserção.
Em resumo: diversificação é o ato de tornar algo mais variado com o objetivo de trazer ganhos de alguma natureza ao todo.
O que é diversificação nos investimentos?
Assim como a diversificação em termos amplos, a que se busca nos investimentos acontece quando se procuram estratégias e ativos financeiros diferentes que possam complementar o todo. E, muita atenção: quando se fala em “ativo diferente”, não é qualquer diferença, é preciso que contribua de fato para a diversificação.
É hora então de trazer três conceitos muito importantes: classes de ativos, correlação e relação risco-retorno.
Classes de ativos: diferença além da diferença
Classes de ativos são agrupamentos de ativos financeiros semelhantes. Talvez por essa definição não tenha ficado tão claro, mas dois breves exemplos ajudam a explicar: na classe de ativos “ações”, existem as ações da empresa A, da empresa B e da empresa C; já quando olhamos a classe de ativos renda fixa, existe o CDB da empresa X, a LCI da empresa Y e a LCA da empresa Z.
Dentro das classes de ativos podem sim ocorrer diferenças relevantes, por exemplo quando olhamos setorialmente. Ainda assim, diversificar nos investimentos significa olhar para o que está além desses mercados unidos. Por exemplo: em ações temos setores como o de commodities e o de tecnologia, que variam de maneira diferente e por motivos diferentes, mas diversificar mesmo vai além de ter apenas ações dos dois grupos na carteira.
Alcançar a diversificação nos investimentos significa colocar em sua carteira classes de ativos diferentes. A ideia que se busca alcançar colocando esses ativos de classes diferentes na carteira está no próximo conceito, o de correlação.
Correlação: o quanto um item acompanha outro
Correlação é a medição estatística de quanto acontece de variação em um item quando outro está variando. E entender isso nos investimentos faz muita diferença para o resultado que sua carteira terá ao longo do tempo.
Um exemplo bastante interessante está na relação entre as chamadas value e growth stocks. As duas estão na classe de ativos “ações”, mas têm uma diferença fundamental entre si: o primeiro grupo é composto por ações de empresas que focam no crescimento rápido (como o que acontece em tecnologia), enquanto o segundo têm empresas que, em estágio de maturidade diferente, buscam a manutenção de valor ao longo do tempo (como acontece no setor bancário).
Esse exemplo ajuda a entender sobre correlação com o ciclo econômico que se estiver passando: quando as perspectivas econômicas forem positivas (por exemplo com inflação baixa, juros baixos e expectativa de crescimento), negócios em estágio inicial de maturidade tendem a crescer mais e isso valoriza a alta das growth stocks; porém, quando o contrário parece que irá acontecer, as pessoas tendem a mirar mais nas value stocks, por uma “segurança” que elas seriam capazes de oferecer diante de incertezas.
Ou seja, existe uma correlação forte entre o preço das ações das empresas de tecnologia e o ciclo econômico, enquanto que as ações de empresas mais maduras são um pouco mais descorrelacionadas, como são os casos dos bancos ou de supermercados.
Diversificar olhando para a correlação é, na prática, estar em classes de ativos diferentes (ou mesmo em pontas diferentes de uma mesma classe) com o objetivo de… Melhorar a relação risco-retorno!
Relação risco-retorno: o verdadeiro objetivo da diversificação
Tudo bem: você escolheu ativos de classes diferentes (ou de pontas diversas de uma mesma classe) e verificou a correlação que eles apresentam. Mas está faltando um detalhe importante nisso tudo, que é entender como isso irá contribuir para o rendimento da sua carteira ao longo do tempo.
Algo que não falamos no conceito anterior porque importa mais aqui é o sinal da correlação entre os ativos de uma carteira. Essa correlação pode ser negativa, neutra ou positiva. Em sendo negativa, quando um ativo subir o outro irá cair, se for neutra as variações não estão tão conectadas assim e se for positiva os ativos caminham em uma mesma direção.
Correlação neutra é praticamente impossível de ser verificada na prática, principalmente pelo mundo interconectado em que vivemos. Mas correlação positiva e negativa são facilmente explicadas com exemplos que já apresentamos aqui: as ações do setor de commodities têm correlação positiva entre si e podemos verificar correlação negativa entre growth e value stocks.
Relação risco-retorno entra na diversificação, após esses outros dois conceitos muito importantes, da seguinte maneira: é preciso que os ativos formem, em conjunto, uma curva de possibilidades de rentabilidade. Cada ativo apresenta em si um risco e um retorno esperados e, quando “misturamos” ativos em uma mesma carteira, tanto o risco geral quanto o retorno geral passam a ficar também “misturados”.
Essa “curva de possibilidades” é uma otimização das finanças que já rendeu até um Nobel de Economia: em 1990, a Harry Markowitz, Merton Miller e William Sharpe – inclusive, se você quiser saber com mais detalhes o que essa curva significa, vale olhar esse artigo aqui.
O que importa saber é que com a diversificação, considerando todos esses efeitos, você busca ter a melhor união possível entre risco e retorno de uma carteira de investimentos, tudo isso levando em consideração o seu perfil de investimentos.
Como criptomoedas entram nessa história?
Discutimos anteriormente e voltamos a apontar que criptomoedas não são investimentos, mas ainda assim elas podem ter papel em uma carteira, porque fazem parte de uma classe de ativos financeiros. Uma carteira diversificada de verdade precisa levar em consideração ativos dos mais tradicionais aos mais arriscados e, na prática, precisa pelo menos ficar de olho em projetos de criptomoedas.
Sim, outro aspecto que deixamos bastante claro é o fato de que criptomoedas são ativos de risco e que demandam uma atenção no momento em que se decide ter na carteira. A alta volatilidade dos preços e o aspecto “o mercado nunca fecha” são pontos que geram preocupação a muitas pessoas.
Mas isso não deveria ser motivo para simplesmente ignorar a existência delas e deixar de lado.
Seu perfil de risco importa mais que o da carteira
Em um país acostumado a taxas de juros elevadas, na média temos uma dificuldade em entender o conceito de ter na carteira algum ativo que não tem como comportamento único “apenas subir”. O agregado do mercado de renda variável no Brasil (leia-se “o índice Ibovespa”) é algo que, historicamente, perde para a renda fixa, o que faz com que muitas pessoas simplesmente ignorem outras opções para além dela.
Porém, deixando de levar em consideração as opções “que variam”, se por um lado estaciona-se em uma zona de conforto (“não vou abrir a carteira e ver perdas”), perdem-se oportunidades que acontecem ao longo do tempo. Alguns anos atrás, em 2018, fizemos um levantamento do quanto a bolsa variou a cada mandato presidencial, por exemplo. Não olhar para ativos arriscados significa deixar de lado oportunidades eventuais de multiplicação do patrimônio.
O grande segredo para saber o quanto você suporta de determinada classe de ativos em sua carteira – e entender de verdade qual seu perfil de risco – é o seguinte: olhando para o que você tem hoje, o quanto te preocupa uma variação de 50% para baixo na ponta mais arriscada? Quanto mais você tiver preocupação com isso, mais conservador é o seu perfil.
E, entenda, não existe problema algum em ter perfil conservador ou arriscado, o problema mesmo é alocar seu suado dinheiro em ativos que não correspondem ao seu perfil real. Porque quando isso acontece, ou você vive decepcionado com resultados baixos mesmo tendo maior propensão a risco, ou vive assustado com perdas que nem tinha parado para pensar que poderiam acontecer.
O que seria uma carteira bem diversificada?
Chegando até aqui possivelmente o que você mais está pensando agora é “tudo bem, e como isso vira prática?”, então vamos a um exemplo do que pode ser considerada diversificação. Atenção: essa não é uma recomendação, procure sempre descobrir de maneira adequada qual seu perfil de risco (fazendo pelo menos dois testes que buscam identificar esse tipo) antes de fazer uma alocação em carteira, beleza?
Vamos ao caso do José Roberto: aos 36 anos, já com a vida financeira um pouco encaminhada, decide entender como pode alocar R$200.000,00 que estão na poupança e lhe parece problemático o quão pouco estão tendo de rendimento. Com uma renda em crescimento, ele tem como ideia não precisar mexer com esse dinheiro por alguns anos, apenas “aplicar para ver render” mesmo.
As opções que se apresentam como classes para ele são: renda fixa, renda variável, dívida pública, dívida corporativa, moedas fiduciárias e moedas digitais. Seu perfil é arrojado, há disposição a variações fortes no curto prazo, contanto que os retornos compensem ao longo do tempo.
Uma opção que podemos chamar de diversificação para a carteira de José é: 50% em renda variável em fundos de ações brasileiras e de mercados desenvolvidos (buscando ganhos de longo prazo), 20% em renda fixa para manutenção de capital (se possível com liquidez rápida para o caso de precisar usar os recursos de maneira inesperada), 10% em debêntures (dívida privada), 10% em dívida pública (Tesouro Direto), 7% em moedas fiduciárias de reserva (como dólar e euro) e 3% em criptomoedas (diretamente ou via algum ETF).
Cálculos mais sofisticados e detalhados conseguem verificar se na prática essa é a melhor alocação possível para obter o misto entre risco e retorno mais interessante, é claro. Mas, veja: dessa maneira, com instrumentos financeiros razoavelmente acessíveis, José praticou de maneira bastante direta a diversificação em sua carteira. Agora ela acessa muito mais possibilidades de risco-retorno do que quando tinha como único item a poupança.
Não se esqueça de diversificar na hora de investir!
Nossa intenção aqui no Terraço Econômico é a de sempre trazer para você de maneira direta conceitos que são, intencionalmente ou não, tipicamente colocados como inacessíveis.
Esperamos sinceramente que com o detalhamento feito aqui – que não morre em si, vale pesquisar ainda mais sobre esse tema tão interessante – seja capaz de te ajudar a tomar melhores decisões em relação a sua própria carteira.
Olhando especificamente para a classe de ativos das criptomoedas, não deixe de observar os outros conteúdos aqui dessa coluna e, é claro, os que se encontram disponíveis lá no Blog da Bitso!