Instituto Millenium | por Michel Alcoforado*
Muito se tem discutido sobre o impacto que as novas gerações trarão para mundo do trabalho e do consumo. É possível notar, em toda parte, pessoas de diferentes idades discordando sobre tudo. Há muito já não concordamos sobre o plano de carreira ideal, as melhores empresas, a maneira perfeita de investir nosso dinheiro, as formas de comunicação mais eficazes e por aí vai…
Não é preciso ir muito longe. Quem nunca entrou numa batalha sem fim com os pais e/ou avós por conta de assuntos tolos. Nessas horas, é como se a escolha do melhor aplicativo de trânsito fosse tão importante quanto à decisão de travar, ou não, uma nova guerra mundial. Tal fato se explica, pois enxergamos o mundo de maneiras diferentes. Segundo Karl Mainheim, pensador alemão, em seu livro sobre o tema, eventos históricos vividos por um mesmo grupo de indivíduos, em uma mesma relação de espaço-tempo, nos leva a ter uma propensão maior a compartilhar as mesmas visões de mundo. Isto é, em geral, pessoas que compartilham momentos históricos juntos tendem a valorizar e pensar a realidade de maneira similar.
Em linhas gerais, podemos citar alguns exemplos: os famosos baby boomers, nascidos pós-guerra, cresceram em um ambiente cujos avanços da medicina e crescimento econômico elevado em todo planeta proporcionaram o surgimento de uma nova forma de estar no mundo. Eles foram a primeira geração a sonhar com expectativas de vida mais duradouras e promissoras e com chance de aproveitar cada fase da vida até a última gota. Inventaram uma nova juventude cujo questionamento do status quo e a contestação eram regras. Com isso, criaram novas maneiras de amar e se divertir. Ser jovem era ser livre. Seja no festival Woodstock, no engajamento nos movimentos sociais ou na exploração da sexualidade pós-invenção da pílula.
Muito diferentes dos baby bomers, a próxima geração é a dos yuppies – daqueles nascidos entre os anos 60 e 70. Nesse tempo, o mundo era marcado pelo forte acirramento da Guerra fria. Do lado de cá, o capitalismo fazia questão de marcar em nossas mentes as benesses do sistema: valorização excessiva do individualismo; renascimento do hedonismo e da busca por uma vida com prazer (sem culpa), sobretudo, pelas coisas que o dinheiro podia comprar; surgimento da competitividade e da meritocracia como régua de medida de todas as relações sociais.
Foi-se o tempo que era fácil criar estratégias de marketing ou vendas pensando somente em gerações. Se, como já expusemos, é o compartilhamento de momentos em comum que nos leva a pensar o mundo de forma similar, diante da compressão do espaço-tempo e da internetização da vida, cada vez maior em nosso dia a dia, vamos ter cada vez mais gerações. Se antes os grupos etários seguiam ciclos de vinte anos, agora, há mais gerações do que nunca. Não é a toa que os especialistas se esforçam para classificar os indivíduos em termos de geração X, Y, Z… Daqui pra frente vai faltar letra para tanta diferença.
Michel Alcoforado* Mestre em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (UnB), Michel Alcoforado se especializou em Antropologia do Consumo pela University of British Columbia, no Canadá, onde trabalhou prestando consultorias para agências especializadas em pesquisa de mercado, comportamento do consumidor e tendências de consumo. No Brasil, fez pesquisas sobre comportamento de consumidor on e off-line, especializou-se em Planejamento Estratégico de Comunicação e trabalhou como estrategista para grandes marcas. É pós-graduado em Comunicação Integrada na ESPM, em Marketing no Ibmec e em Brand Luxury Management na London College of Fashion.
Artigo publicado originalmente em: http://www.institutomillenium.org.br/artigos/geracoes-de-onde-vem-tanta-diferenca/
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