No início dos anos 50, São Paulo e Rio de Janeiro eram as cidades símbolos de um país que finalmente emergia para a modernidade. Nossa industrialização continuava forte e a economia crescia a taxas robustas. O ar democrático era novamente respirado e o tom de otimismo pela população era evidente. Ambiente propício para sediar a Copa do Mundo de futebol.
Naquela época, fomos os únicos candidatos, uma vez que a Europa se encontrava destruída pela Segunda Guerra Mundial. Apesar do bom ambiente, nossa preparação foi um fiasco. Obras ficaram prontas a poucos dias do início do mundial, sendo que o Maracanã, por exemplo, foi utilizado sem ter 100% das obras concluídas. Assim, muitos dos jogos foram realizados no Maracanã ainda com andaimes. Seu entorno foi um canteiro de obras em boa parte da competição.
[caption id="attachment_485" align="aligncenter" width="676"] Maracanã ainda em obras, em pleno jogo do mundial de 1950. Autor: Desconhecido[/caption]Mas no final das contas teve Copa sim! E jogamos bravamente até a fase final, onde um esquema de quatro jogos foi armado (o famoso quadrangular) e o campeão seria escolhido por pontos. Devido a essa estrutura, o Brasil, no seu último jogo, precisava apenas de um empate.
“Domingo dia 16 de julho de mil novecentos e cinquenta” entramos em campo considerados os campeões mundiais. Naquela data, um jornal do Rio inclusive chegou a publicar a manchete de “vencedores”. Mas como diz o ditado: não se deve cantar vitória antes do resultado. Tomamos a pior virada do futebol mundial. Quando vencíamos por 1 a 0, o Uruguai, adversário daquele jogo, virou o jogo tornando-se dessa forma bicampeão mundial. É considerada por muitos a derrota mais profunda e doída que já acometeu o futebol brasileiro. Um balde de água fria no otimismo modernista.
[caption id="attachment_486" align="aligncenter" width="282"] Pôster do mundial de 1950. Fonte: Fifa[/caption]Apesar da derrota no futebol – coincidência ou não – esse acontecimento acabou sendo benéfico ao país, servindo de combustível para olharmos para frente e tocarmos o barco. Rompemos a década de 50 com vigor provocado pelas políticas de JK, lançando-nos na onda desenvolvimentista do grande crescimento econômico, produção de automóveis e consolidação de uma nação moderna. As amarras de uma economia dependente do café ficavam apenas na história.
Fruto desse otimismo surge a mágica do futebol arte. Fomos a Suécia em 1958 e nos sagramos campeões mundiais! Pela primeira vez nosso nome foi gravado na parte de baixo da taça Jules Rimet. O bom momento da segunda metade da década de 50 é confirmada pela nossa vitória. O Brasil firma o futebol como o seu maior espelho cultural, o torna parte de nossa identidade nacional. Em 1970, já contávamos com três títulos mundiais!
[caption id="attachment_487" align="aligncenter" width="676"] O time que nos levou a condição da nação do futebol arte! Autor: Desconhecido[/caption]Podemos traçar uma série de paralelos entre 1950 e 2014. Passados 64 anos, não aprendemos quase nada. Emergimos de um otimismo consolidado nos anos 40, sediamos uma Copa do Mundo com estádios ainda em estado de canteiro de obras e continuamos cometendo os mesmos erros em 2014. Escolhemos sediar a Copa como forma de festejarmos o nosso avanço como nação e não conseguimos deixar de sermos reconhecidos pelos “puxadinhos”, o país que faz as suas tarefas na última hora. Diversos projetos de mobilidade urbana foram abandonados e outros só serão finalizados após a Copa.
Assim como em 50, uma derrota dentro de casa poderia nos mostrar um novo caminho para a nação, um novo fôlego ao imaginário popular. As eleições se aproximam, e como vivemos em um regime democrático, temos a chance (e o dever) de escolhermos um novo caminho para os próximos quatro anos. Mais importante que isso é saber que erros não são totalmente negativos, e nos ensinam mais que os sucessos. Nossa história confirma isso.
O Brasil precisa deixar de lado o lema do sucesso total ou do fracasso retumbante, e encontrar um caminho entre os esses dois polos. Começar a aprender com os erros do passado e vislumbrar um futuro melhor, seja na economia, na política ou no nosso futebol.
Uma derrota em campo e um fracasso de evento nos deixariam profundamente envergonhados e desmotivados. Contudo, uma destruição criativa não seria de todo modo ruim. Talvez os fracassos potenciais de 2014 acabem sendo um poderoso veneno remédio e nos abra um novo horizonte, rumo a um novo 1958 em 2018.
Caro Victor,
Antes de tudo, parabens a voce e seus colegas pela iniciativa e pelo conteudo do terraco.
Sou um leitor de um dos 20 paises(!!!) que acessa, e aprende com, o blog de voces.
Meu comentario é irrelevante economicamente, mas pertinente futebolisticamente, e como aprendiz-de-economista e botafoguense doente nao poderia de notar e comentar. Afinal, a qualidade e veracidade dos dados é fundamental na economia e no futebol.
As legendas das duas primeiras fotos estão citando o ano de 1958, quando deveriam citar 1950.
Sucesso e vida longa ao terraço!
Grüße!
Thiago muito obrigado pela observação!
Continue nos acompanhando sempre!
Abraço!