A evolução da economia mundial até 2060: menor crescimento à frente

A OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulgou neste mês uma interessante publicação que avalia o crescimento da economia mundial até 2060, ou seja, mais de 4 décadas. O estudo The Long View: Scenarios for the World Economy to 2060 avalia que o crescimento mundial, que roda um pouco acima de 3,0% hoje, deve recuar para 2,0% até 2060. O fato é reflexo do menor desempenho de países como a gigante China, lembrando que viramos o século crescendo em torno de 4,0%.


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O cenário contempla uma economia mundial sem grandes reformas (ou “business as usual”), onde os países que contemplam o BRIICS (Brasil, Rússia, Índia, Indonésia, China e África do Sul) assistem o seu crescimento anual de 6% alcançado na última década diminuir para 2% até 2060. O resultado sugere uma convergência entre os crescimentos das economias mais ricas (representadas pelos membros da OECD) e do BRIICS.

Conforme já vem acontecendo,  Índia e  China são países que assumem uma parcela crescente da atividade econômica no mundo, com cada um sendo responsável por aproximadamente 25% do PIB mundial até 206, contra pouco mais de 30% para os países da OCDE – ou seja o centro de gravidade da economia mundial continua em direção à Ásia.

A despeito desse forte potencial asiático, que contribui com 1,4 p.p. dos 3,7% do crescimento mundial em 2005 deverá diminuir para 0,3 p.p. até 2060 (ajudando a explicar a queda do crescimento mundial para 2,0%). Já a Índia assistirá sua contribuição saltar de 0,45 p.p. para 0,62 p.p. em igual período, ao passo que a OECD diminuirá de 1,4 p.p. para 0.83 p.p.

Deixando de olhar o desempenho por país e olhando agora fatores que explicam o crescimento. O leitor iniciado na arte da macroeconomia há de saber que temos diversas formas de decompor o crescimento econômico por fatores, e o documento da OECD escolhe a seguinte especificação:

$$\Delta(y-p)=\alpha \Delta e+(1-\alpha)\Delta(k-n)+\Delta(n-pwa)+\Delta(pwa-p)$$

onde  sinaliza a taxa crescimento das seguintes variáveis: $p$ é a população, $y$ o produto, $pwa$ a população em idade ativa, $k$ é o estoque da capital, $e$ uma medida de sua eficiência e $n$envolve o nível de trabalho. O primeiro termo do lado direito desta equação mede a contribuição do crescimento da eficiência do trabalho para o crescimento do PIB per capita, o segundo termo mede a contribuição da intensidade de capital (capital por trabalhador), o terceiro seleciona a contribuição da taxa de emprego e o último termo indica a contribuição da parcela da população que está em idade de trabalhar, um indicador sumário da estrutura demográfica da população.

De imediato nos chama atenção a redução da contribuição da população em idade ativa para trabalho, em linha com a expectativa de envelhecimento da população global e menor contribuição relativa do fator trabalho. Esse fator demográfico será determinante para o menor crescimento da economia mundial nas próximas décadas, situação esperada também para o Brasil.


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O mesmo trabalho foi desenvolvido para uma gama enorme de países, dentre eles o Brasil, explicando a redução do PIB per capita potencial da economia brasileira de 2000 até 2060. Como já destacado antes, os efeitos demográficos serão impiedosos para o nosso país, com reflexos inclusive na questão fiscal (leia-se previdência). O resultado esperado é uma maior contribuição do fator trabalho, influenciado, por exemplo, pelas obras em infraestrutura.

Podemos destacar aqui os canais de transmissão desse crescimento do produto utilizado pela OECD para elaborar todas as projeções.

[caption id="attachment_12549" align="aligncenter" width="631"] (OECD, 2018)[/caption]

O documento não se exaure nesses números, fazendo análises para  o impacto de reformas nos países que seriam capazes de alterar esse cenário base, mas iremos ficar apenas nessas descrições estatísticas que já nos fornecem um bom cenário para o  futuro e uma preocupação adicional para a economia brasileira, que terá ainda mais dificuldades para avançar para o  patamar de país de alta renda,  um sinal negativo para a minha geração, que não deve esperar grandes mudanças estruturais nos próximos 40 anos.

Arthur Lula Mota

Editor do Terraço Econômico.

Arthur Lula Mota

Mestre em Economia Aplicada pela Universidade de São Paulo (USP/ESALQ) e Bacharel em Economia pela Universidade Federal de São Paulo. Já trabalhou no mercado financeiro, auxiliando mesa de operações de fundos institucionais e departamento econômico com análises macroeconômicas.
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