Há quase três anos, escrevi um texto exclusivamente sobre os avanços na produtividade do cultivo da soja no Brasil. Soja: um olhar para o próximo ciclo Desta vez, de maneira breve, focarei na relevância do agronegócio para o crescimento e desenvolvimento da atividade econômica, especialmente, do Rio Grande do Sul.
Apesar do trágico evento climático que, em meados de maio do último ano, paralisou grande parte da vida cotidiana dos gaúchos, o estado registrou uma expansão de 4,9% em seu PIB, superando a alta de 3,4% registrada no Brasil. Como mencionado, o objetivo é destacar o resultado gerado dentro da porteira, somado àqueles que surgem como consequência direta ou indireta do bom trabalho realizado em nossas lavouras. Ainda sobre o PIB gaúcho, divulgado há cerca de dois meses, notou-se um expressivo avanço de 35% da agropecuária em comparação ao ano anterior.
Para avançarmos na pauta, vale traçar um paralelo entre o modelo brasileiro e o gaúcho. Em 2024, segundo dados do IBGE, a participação da agropecuária no PIB do Brasil recuou para aproximadamente 5,5%. Ainda assim, após superar a cancela das fazendas, o agronegócio continuou contribuindo decisivamente para o bom desempenho da economia doméstica, seja nas atividades ligadas ao armazenamento e beneficiamento das safras, na indústria de transformação, no comércio de bens intermediários e finais e, é claro, nos serviços, com destaque para o transporte. Ao término do processo, aquela contribuição inicial evolui para um número que oscila entre 20% e 25% do PIB brasileiro, de acordo com um estudo recente da Confederação Nacional de Agricultura (CNA).
No extremo sul do país, ou seja, no Rio Grande do Sul, essa correlação também se confirma, tendo como marco inicial a participação da agropecuária no resultado do PIB estadual. Segundo estimativas da DEE, o valor corrente do PIB total gaúcho foi de R$ 706 bilhões. Caso os números sejam confirmados pelo IBGE, quando da publicação de seu relatório sobre o último ano, poderemos confirmar a projeção de que a agropecuária representa algo entre 13% e 15%. Na média, 14%. Somando-se os fatores que extrapolam as fronteiras da propriedade rural, posso supor, com base nos critérios adotados pela CNA e nas informações divulgadas pela Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (SEAPI), que o agronegócio gaúcho deve representar algo entre 40% e 45% do PIB estadual.
Outro exemplo relevante nesse esforço para reafirmar uma tese já amplamente discutida pode ser observado na correlação positiva entre a produção de soja e a variação anual do PIB estadual. No gráfico, percebe-se um comportamento semelhante quando aproximamos as grandezas das duas variáveis. Ainda assim, fatores exógenos, como a grave crise econômica que afetou o Brasil e o Rio Grande do Sul, reduziram a correlação entre as variáveis. Ao excluirmos esse episódio do cálculo, a correlação gira em torno de 60%, reforçando a influência direta da soja na economia.
Já mirando a próxima safra e tendo por base a estimativa de que a chegada do verão no hemisfério sul poderá trazer consigo as condições para uma nova ocorrência de La Niña, caracterizada por períodos prolongados de chuva irregular e abaixo da média, especialmente no Oeste e no Sul do Rio Grande do Sul, o homem do campo precisa estar preparado. Na verdade, não só ele, uma vez que quase R$ 0,40 de cada R$ 1,00 produzido no estado tem sua origem em nossas propriedades rurais. Essa é uma preocupação válida, mas, ao mesmo tempo, um motivo de orgulho para todos nós, gaúchos. Algo que vem sendo feito com o intuito de mitigar os efeitos das aparições mais intensas do La Niña é a adoção de ajustes no calendário de plantio, além de investimentos em sistemas de irrigação.
Para aqueles que, assim como eu, são defensores do agronegócio brasileiro, a perspectiva da CNA de que a representatividade do setor poderá passar dos atuais 5,5% para algo em torno de 7,5% em 2025 parece ser uma excelente notícia. O Brasil é um dos maiores exportadores de produtos agrícolas e pecuários do mundo, o que contribui para o fortalecimento de nossa balança comercial. Ademais, como mencionado, o efeito do “transbordamento” para os demais setores da economia abre uma nova possibilidade de protagonismo para o setor à frente. Isso deverá representar mais investimentos, mais estudos sobre o clima e sobre a produtividade e, ao fim e ao cabo, mais pessoas interessadas em trabalhar nos eixos envolvidos com a atividade primária. Aqui entra uma oportunidade para o Rio Grande do Sul atrair pessoas em idade produtiva e combater um de nossos principais gargalos demográficos: o envelhecimento da população. Mas isso é assunto para outro tópico.
Diante da relevância do agronegócio para o crescimento econômico do Rio Grande do Sul, fica evidente que sua influência vai muito além dos limites das propriedades rurais. A interdependência entre a produção agrícola e outros setores, como indústria, comércio e serviços, gera uma sinergia que facilita o desenvolvimento regional. No entanto, desafios como os fenômenos climáticos severos, choques de oferta globais e gargalos demográficos exigem vigilância e medidas proativas para garantir a sustentabilidade do setor a longo prazo.
Daniel Bozz
Mestre em Economia do Desenvolvimento pela PUC-RS, MBA em Finanças, Investimento e Banking pela PUC-RS e graduado em Ciências Econômicas pela Universidade de Caxias do Sul. Há mais de 15 anos atuando no mercado financeiro.