As disputas entre China e EUA em meio à pandemia do coronavírus

Enquanto Pequim se prepara para sair da crise pandêmica e retomar a plena produtividade, os Estados Unidos correm o risco de cair nela com consequências imprevisíveis para a economia e para as relações internacionais. E, num cenário geopolítico fragmentado, qualquer reposicionamento pode ser benéfico.

Após a guerra comercial, o novo desafio entre as duas superpotências econômicas EUA e China é jogado na recuperação após o impacto no PIB causado pela emergência do coronavírus. Washington e Pequim estão, portanto, se preparando para cruzar espadas novamente. Nestes dias, os Estados Unidos superaram a China e a Itália no número de casos de contágio, tornando-se o novo epicentro da epidemia.

Apesar dos sinais de paz, o confronto continua… 

Segundo dados da Universidade Johns Hopkins, os casos nos Estados Unidos subiram para um nível recorde de 135.499, em comparação com 82.122 na China. Comentando o registro, Trump questionou a confiabilidade dos dados divulgados por Pequim: “Não sabemos quais são os números da China”, observou ele, reiterando que a pandemia começou a partir do País Dragão e é por isso que o vírus deveria ser chamado de “chinês”.

Em suma, o choque entre os dois titãs da economia mundial continua, apesar dos sinais de paz que o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o Presidente chinês, Xi Jinping, trocaram por telefone: “Estamos trabalhando em estreita colaboração. Grande respeito!” disse Trump, enquanto Xi respondeu: “Só juntos podemos vencer, espera-se que todas as partes coloquem em prática a coordenação e cooperação contra a epidemia para estabilizar a economia global.”

No entanto, apesar dos dois líderes acenarem ramos de oliveira, a realidade é que, após a guerra comercial, a competição entre os EUA e a China enfrentará talvez um teste ainda mais difícil: o do Covid-19.

Pequim sai do túnel, Washington entra

A China entrou primeiro na emergência do coronavírus e agora está saindo do túnel, enquanto os EUA começam a sofrer os primeiros contratempos da crise, correm sério risco de se tornar o epicentro da epidemia e permanecer no controle do vírus por um longo tempo. Trump gostaria que a economia dos EUA começasse a normalizar-se na Páscoa, mas Bill Gates, o icônico fundador da Microsoft, acusou-o de “pensar apenas no PIB” e respondeu que os EUA provavelmente terão de permanecer em lockdown até ao final de maio para evitar um crescimento exponencial das infecções por coronavírus.

O banco de investimentos JP Morgan é mais pessimista e acredita que os EUA só verão a cauda da epidemia em junho.

A estratégia da ajuda internacional

Há também outro aspecto a ser avaliado, a possibilidade da China explorar a vantagem de poder sair da crise mais cedo e mudar, aliás, inverter o cenário geopolítico. Se até algumas semanas atrás a China era vista como o navio naufragado a ser abandonado o mais rápido possível, agora, Pequim pode se tornar uma âncora de salvação.

Foi exatamente isso que aconteceu nestes dias com a ajuda que a China forneceu à Itália, que foi entendida por muitos observadores como uma operação de soft power. Em outras palavras: a China quer sacudir de si a reputação de “país que causou o contágio” e toma o campo mostrando o seu lado mais generoso: a “diplomacia das máscaras”, como já é apelidada, que vê a Itália entre os principais beneficiários.

Diante das hesitações da UE até mesmo o simples envio de máscaras ou de alguns médicos representa uma mensagem que a Itália demonstra apreciar. Roma representa para Pequim, uma cunha na UE a ser usada a nível de negociações.

É indiscutível que em um tabuleiro de xadrez internacional tão dilacerado, qualquer reposicionamento pode ser vantajoso. Não se pode imaginar mudanças clamorosas de aliança, mas pequenas vantagens, como o fortalecimento do entendimento bilateral e, precisamente, a recuperação da imagem desejada por Pequim. Neste sentido também vai a mensagem que Xi Jinping quis enviar no seu telefonema para Trump, quando disse ao Presidente dos EUA que a China está disposta a dar o seu apoio aos Estados Unidos na luta contra a epidemia do coronavírus “na medida do possível”.

Em suma, a China pode jogar com antecedência o jogo do coronavírus e fazer isso estendendo a mão, prometendo ajuda. Ontem Trump aceitou esta mensagem de paz, mas como aconteceu com a guerra comercial, que por enquanto foi colocada no sótão, o confronto entre os dois titãs não parece ter regredido de forma alguma.

Sarah Isabel Cesarino

Italo-brasileira graduanda em Comércio Exterior pela Estácio. Residindo na Itália, entre idas e vindas, durante 15 anos, adquiriu grande experiência de mercado, gestão e de vida. Gerencia uma empresa de importação de produtos na área da tecnologia, estando em contato direto com nossos amigos chineses.

 

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