As principais profissões do mercado financeiro

Você está a menos de dois anos de se formar, já se vão alguns anos de muito estudo e dedicação: não só para ingressar no curso que você mais queria, na universidade que mais desejava, mas também para sobreviver às toneladas de provas, trabalhos e professores de todos os tipos. Agora, o momento é de escolher o estágio e, além disso: qual carreira seguir?

“Lunch is for wimps”

 Gordon Gekko, Wall Street – Poder e Cobiça

Provavelmente você irá encontrar em sua faculdade anúncios de vagas de estágio no mercado financeiro, sejam em grandes bancos, bancos de investimentos, fundos de investimento, boutiques, tesourarias, corretoras e etc… Se você estiver se graduando em algum curso voltado a negócios, de certo já terá uma melhor ideia do que são cada uma dessas empresas e suas atuações (ou, talvez, você pesquisou e estudou por conta), porém a grande maioria dos estudantes desconhece ou possui noção básica sobre conceitos de finanças, mercado financeiro e todas as técnicas envolvidas, especialmente se você for da área de exatas, cujos cursos não têm esse direcionamento.

Resultado prático: estudantes ávidos por entrar no mercado financeiro, com uma excelente formação, mas sem as premissas básicas para fazer uma boa escolha de qual área atuar, quais funções existem e como se preparar para um processo seletivo.

Lembrando que o mercado financeiro é famoso por atrair muitos profissionais, não só pela remuneração atrativa, mas também pelo ambiente meritocrático, pelos desafios e valorização de uma análise acurada e precisa. Porém, como não existe almoço de graça, a concorrência costuma ser elevada, as vagas escassas e as exigências altas. Então, nada mais prudente do que se antecipar e tomar ciência dos principais conhecimentos exigidos, além de conhecer quais são as principais funções do mercado financeiro.

As principais profissões do mercado financeiro

Portanto, vamos listar algumas delas, com a finalidade de evidenciar as suas principais características, atribuições, nível de carga de trabalho e remuneração. Evidentemente não esgotaremos todas e também podem existir certas variações de cada profissão de empresa para empresa.

Trader

André Esteves, fez grande parte da sua carreira como Trader do Pactual

Talvez a profissão mais conhecida pelo público em geral, ao assistir filmes que se passam em Wall Street ou ver imagens dos operadores nas bolsas de valores. Basicamente, o trader trabalha “operando” dinheiro de outros agentes, seja um banco, um fundo, um grande investidor ou uma tesouraria, sempre buscando as melhores oportunidades em várias classes de ativos ao longo do dia, ou seja, ele é dotado de uma liberdade discricionária para operar.

Por exemplo, um profissional pode ter R$ 40 milhões à sua disposição e estar direcionado para um mercado específico, operando ações, fundos, moedas, produtos atrelados a juros, opções, etc. Invariavelmente ele terá de possuir um perfil mais analítico e calculista, normalmente formados em matemática, engenharia, física e também economia.  Ademais, deve ter como uma atitude natural a tomada de risco de forma fria.

A remuneração normalmente é variável, sempre atrelada à sua performance. O carro chefe atrativo para esse profissional é a flexibilidade de horário e a independência financeira. Em um dia é possível perder ou ganhar R$ 500 ou R$ 1 milhão, mas tudo isso tem como contrapartida uma elevada volatilidade e pressão, pois como dizem: “cada dia é um mercado diferente”.

Exemplos de Empresas:Morgan Stanley, Credit SuisseUBS e Atom

Analista de sell-side

Quando você decide comprar uma casa, na maioria dos casos detém o dinheiro, ou parte dele, e decide procurar a opinião de um especialista, como por exemplo um corretor. No caso do analista de sell-side, não é diferente. Ele é peça fundamental na ligação entre os investidores e as empresas. Normalmente, esses profissionais trabalham em uma corretora ou empresa especializada em advisory financeiro. Por meio de relatórios periódicos, constroem relatórios, sempre fundamentadas em modelos e dados, sobre a atual situação de um setor, de uma empresa ou de um país, complementando com a recomendação de compra, venda ou neutra seguido de um preço alvo esperado.

Espera-se do analista um profundo conhecimento em finanças, atrelado à habilidade de escrever e se comunicar de forma clara nos relatórios e apresentações, e ainda, que esteja atento a todas as notícias e fatos relevantes que possam influenciar suas recomendações. Eles desenvolvem um conhecimento denso das empresas que acompanham, através do contato com as áreas de RI (Relações com Investidores), administração e diretoria dessas empresas. A profissão também envolve muitas viagens para visita de clientes, prospecção de negócios e reuniões.

Evidentemente, tal função exige longas horas de pesquisa e estudos, especialmente quando as empresas de acompanhamento divulgam seus resultados trimestrais. Dessa forma, a carga de trabalho é relativamente alta, porém condizente com a remuneração e o percentual variável dessa remuneração é atrelado ao sucesso ou não de suas previsões.

Portanto, os relatórios emitidos devem sempre conter um quê atrativo, seja pela forma de analisar, seja pela qualidade das informações ou acerto das previsões, o que gera indiretamente uma relação de confiança e credibilidade do analista, ou seja, é comum que alguns sejam mais influentes que outros, e fiquem famosos por seus acertos e erros.

Exemplos de Empresas:XP Investimentos, Tullet Prebon, Brasil Plural – Gestão de Patrimonio e Itaú Corretora

Analista de buy-side

É uma função com grande interação com o sell-side. Os analistas de buy-side também são estudiosos e especialistas em determinados setores, empresas e países. Eles coletam uma série de informações sobre o seu objeto de estudo e  consomem a informação produzida pelos analistas de sell-side, lendo seus relatórios e ouvindo suas sugestões.  O objetivo final de um analista de buy-side é tecer uma tese de investimentos a respeito dos ativos sob sua responsabilidade, baseada em dados, estudos e avaliações, suportando uma recomendação de comprar ou vender ações de empresas, por exemplo.

Essa é uma das principais diferenças entre os analistas de sell-side e os analistas de buy-side: o cliente. Enquanto os analistas de sell-side tem como clientes outros analistas e investidores, para os quais fornecem informações e recomendações, o analista de buy-side tem como cliente um veículo de investimento (para o qual normalmente trabalha), e que tem como objetivo a alocação do capital dos investidores que confiaram o dinheiro à gestão desse veículo de investimento.

Esse profissional deve ter atenção às oportunidades de investimentos, à evolução de dados macroeconômicos e de mercados locais e globais; produzir informação relevante à tomada de decisão e também entender a característica de risco dos objetos de seu estudo.

As horas de trabalho não são tão extensas como os outros cargos de analista, e o equilíbrio do tempo no trabalho versus vida pessoal costuma ser muito bom. Por outro lado, o trabalho pode causar altos níveis de estresse, pois faz parte da natureza dessa função ter um grande volume de recursos para ajudar a fazer a gestão. Além disso, fique preparado para algumas viagens de negócios para visitar empresas consideradas para as carteiras ou para monitorar as empresas do portfólio.

Exemplos de Empresas:Itaú Asset, Kapitalo, Dynamo, Verde e Garde

Analista de private equity

Antônio Bonchristiano, presidente da GP Investimentos, o primeiro fundo de Private Equity do Brasil

Uma das profissões mais concorridas do mercado. Esses profissionais analisam uma enorme quantidade de empresas que podem vir se tornar empresas investidas, ou seja, monitoram um setor ou grupo de empresas com o objetivo de encontrar algumas que acreditam ter um potencial significativo de valorização. Além disso, analisam quais podem vir a investir uma grande quantia de capital, chegando a assumir posições estratégicas na gestão das empresas, como  na diretoria ou planejamento financeiro, promovendo choques de gestão e racionalização de processos.

O conceito primordial do private equity é retornos de longo prazo robustos, controle de riscos e programa bem definido de investimentos. Esse profissional auxilia a empresa investida a promover um crescimento acelerado ao longo do período de investimento (que normalmente é de vários anos, chegando a mais de uma década). Esse tipo de trabalho envolve muitas horas com o tempo dividido em várias áreas. Assim, habilidades de gerenciamento do tempo são necessárias para o sucesso.

Fortes habilidades analíticas e profundo conhecimento das empresas investidas são essenciais quando se analisam novas oportunidades de investimento. Acompanhar e avaliar a evolução operacional e financeira das empresas do portfólio é outra peça-chave do dia de trabalho. Compreender como e quando sair do investimento requer uma forte compreensão do mercado de capitais e avaliação de investimentos. Além disso, o private equity precisa captar dinheiro no mercado de capitais para efetuar seus investimento. Essa captação de recursos costuma ser feita em nível sênior, ou seja, por profissionais dentro dos fundos de private equity com muitos anos de mercado e com reputação de boa gestão dos investimentos.

Economista

Ilan Goldfajn, tem um longo histórico na atuação no mercado financeiro, mas com passagens em grandes instituições financeiras como economista.

Um economista, por possuir uma formação específica nessa área, pode atuar diretamente com a pesquisa voltada à análise de indicadores macroeconômicos, indicadores microeconômicos, sugestões de aplicações em ativos, projeções e cenários econômicos, além de apresentações para clientes e eventos.

O departamento econômico, seja de uma gestora, de uma banco ou empresa é composto por uma equipe específica para cobrir tais dados, e estes auxiliam os gestores com recomendações e relatórios periódicos. Ou seja, os economistas dão subsídio de informação e de interpretação de dados para outros analistas que irão usar essas informações em suas tomadas de decisões. A quantidade de reuniões é elevada, o que exige uma boa conversação e clareza na argumentação. Normalmente existem reuniões matinais com toda a equipe para apresentar o cenário nacional e internacional. Um quê de análise política sempre será exigido, ainda mais no contexto atual dos mercados.

A exigência de mestrado para assumir cargos mais elevados é primordial, pois é necessário o conhecimento de modelagem, econometria e teoria econômica. A rotina de trabalho é moderada, com altos e baixos de acordo com as demandas e períodos do ano. A remuneração possui um componente maior de salário fixo e o variável fica de acordo com o desempenho das previsões e acertos nas recomendações.

Gestor de fundos

Luis Stuhlberger, famoso gestor do fundo Verde.

O gestor de fundos é uma das funções mais seniores do mercado financeiro. Então, muito dificilmente você entrará no mercado diretamente nessa posição, mas com certeza terá contato com esse profissional no seu dia a dia, e, no longo prazo, se você direcionar sua formação nesse sentido, poderá assumir esse cargo.

O gestor é o tomador de decisão das alocações dos fundos de investimento, ou seja, da distribuição do capital sob gestão em diversos produtos de investimento. Sempre pautado pelas informações dos analistas que o auxiliam, ele pode operar diversos mandatos, desde os mais conservadores em renda fixa de títulos públicos a operações especulativas em escala global, ativos em paraísos fiscais, compra de imóveis e investimentos em companhias de capital aberto. Tudo isso depende de qual política de investimento lhe foi concedida.

Evidentemente o nível de conhecimento em mercado financeiro deve ser um dos mais elevados, e ainda gozar de uma certa credibilidade para que os investidores apliquem seus valores e confiem em sua estratégia. Portanto, sua remuneração é muito atrelada à performance e ao volume do fundo, o que traz um potencial quase ilimitado de ganhos (ainda considerando a famosa taxa de performance, que é o prêmio pago ao gestor caso ele supere os índice de mercado e gere “alfa” ao investidor). No Brasil, temos os exemplos de Luiz Stuhlberger na Verde Asset e Marcio Apple na Adam Capital, como grandes expoentes nessa profissão.

Exemplos de Empresas:Itaú Asset, Kapitalo, Dynamo, Verde e Garde

Comercial

A área comercial é um dos pulmões de qualquer casa gestora, banco ou consultoria. De nada adiantaria ter um poderoso time de analistas, as melhores ferramentas e dados, se a empresa não possuir clientes para vendê-las. A área de sales, como é conhecida no mercado, é responsável pelo contato, prospecção e manutenção de todos os clientes, seja os institucionais, pessoas físicas ou estrangeiros. O profissional precisa unir o melhor dos dois mundos: ter uma exímia habilidade de se relacionar e fazer contatos, mas também um profundo conhecimento técnico em instrumentos financeiros e modalidades de investimentos.

Terá de estar disponível para uma longa agenda de viagens, para reuniões, comitês e apresentações a clientes, tanto no país como internacionalmente. Em muitos casos, as áreas se dividem em segmentos. Então, cada equipe é responsável por cada tipo de cliente, como private banking, corporate, varejo, off-shore e etc. Normalmente sua remuneração é atrelada ao valor financeiro captado para os fundos, sempre em relação à meta previamente acordada, ou seja, quanto mais dinheiro captado maior seu salário.

Rubens Terra (coautor deste artigo)

É engenheiro mecânico formado pela POLI-USP e candidato ao Level II do CFA Program. Atuou durante anos no mercado financeiro,  no mercado de educação e como empreendedor.  É sócio-fundador da Beat The Market Co.

Sair da versão mobile