Bandejão da USP: muito déficit e pouca avaliação de resultado

Bandejão da USP dá prejuízo de R$70 milhões em 2018, e corresponde a quase 25% do déficit anual da USP.

O Bandejão é um ponto de encontro de estudantes e professores nos mais variados campi da USP. Segundo o Anuário da Universidade – com os dados referentes a 2018 – são 17 restaurantes que oferecem café da manhã, almoço e jantar por um preço altamente convidativo, conforme mostra a tabela abaixo:

Fonte: USP

 

Tendo em vista a estrutura física da USP e o custo com os funcionários do Bandejão, é impossível imaginar isso rodando de forma superavitária. Na realidade, em 2014, um levantamento da Revista Época em nov/14 estimou o custo por refeição em R$17,51 nos restaurantes administrados pela Superintendência de Assistência Social (SAS), órgão da instituição; e de R$10,02 nos restaurantes terceirizados. Assim, tendo em vista que os dados obtidos de refeições nos restaurantes são de 2018, bastava trazer esse custo por refeição para jan/18 pela inflação (IPCA) para termos o custo estimado em 2018.

Dessa forma, com os parâmetros de receita e despesas coletados e com a adoção de algumas premissas básicas, foi possível estimar o déficit anual dessa política pública que é a de fornecer refeições baratas para estudantes da USP. Eis os cálculos a seguir:

Só para se ter uma ideia da dimensão do déficit encontrado de R$ 70 milhões, esse valor é equivalente a 24,5% de todo o déficit da Universidade em 2018, estimado em R$ 287,50 milhões, conforme noticiado aqui.

Sobre as premissas para a construção da tabela acima, vale mencionar que foi utilizado o valor de 60% de terceirização dos restaurantes, o que equivale a um custo unitário por refeição bem inferior do que o restaurante operado pelo SAS, da USP. De qualquer forma, se considerarmos 100% de terceirização, teríamos R$ 50 milhões de déficit. Por outro lado, considerando 100% de restaurantes próprios da USP, teríamos quase R$ 100 milhões de déficit. O “chute” de 60% teve de ser feito pois não encontrei no Anuário a informação de quais restaurantes haviam sido terceirizados pela USP.

Além disso, conforme destacado na nota de rodapé da tabela, foram desconsiderados o valor do café da manhã (R$ 0,50), o custo de alimentação dos servidores, e a inflação ao longo de 2018. Esses três pontos tem potencial de aumentar o déficit; dessa forma, o cálculo pode ser considerado conservador. De qualquer forma, disponibilizo abaixo a planilha caso queiram alterar os parâmetros e ver o resultado:


  Bandejão_USP


Para lidar com o problema, a UNICAMP, por exemplo, chegou a aumentar o valor do Bandejão de R$2 para R$3. A USP chegou a cogitar um aumento do valor cobrado, com o objetivo de diminuir, mas não acabar com o déficit, mas o projeto não foi pra frente.

Não há dúvidas que o Bandejão cumpre um papel de integração no ambiente universitário nos campi da USP. Contudo, como qualquer política pública, deveria estar sujeita à análise do tipo custo-benefício, ainda mais em períodos de contingenciamento de recursos para universidades, atingindo bolsas de estudo para mestrado e doutorado e custos administrativos.

Não vejo esse tipo de questionamento no ambiente da Universidade, embora parcela dos estudantes da USP sequer precise de almoço subsidiado, conforme demonstra o Questionário Socieconômico da USP, cujos resultados foram resumidos nesses tweets do Deputado Daniel José.

Novamente, como qualquer política pública, a ideia de fornecer refeição subsidiada onerando os cofres públicos deve ser questionada e ser colocada lado a lado com outras possibilidades de utilização do recurso público. Afinal, vale a pena manter o Bandejão da forma que está?

Importante:

Caso encontre algum erro nos cálculos e se deixamos de colocar alguma premissa importante para chegar ao resultado final, entre em contato através do e-mail [email protected]. O mais importante é discutir essa questão, e não chegar em um número perfeito de cálculo.

 

Arthur Solow

Economista nato da Escola de Economia de São Paulo da FGV. Parente distante - diz ele - do prêmio Nobel de Economia Robert Solow, que, segundo rumores, utilizava um nome artístico haja vista a complexidade do sobrenome. Pós graduado na FGV em Business Analytics e Big Data, pois, afinal, a verdade encontra-se nos dados. Fez de tudo um pouco: foi analista de crédito e carteiras para FIDCs; depois trabalhou com planejamento estratégico e análise de dados; em seguida uma experiência em assessoria política na ALESP e atualmente é especialista em Educação Financeira em uma fintech. E no meio do caminho ainda arrumou tempo para fundar o Terraço Econômico em 2014 =)
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