Antes de mais nada, é importante destacar que nesta série de textos, “Candidatos do Apocalipse”, não há nenhuma intenção de servir como propaganda a favor ou contra determinado candidato X ou Y, até porque não recebemos nenhum centavo de nenhum político ou agremiação partidária. Esses textos se baseiam exclusivamente em nossa interpretação, que possui por base o cenário brasileiro, juntamente alguns dos posicionamentos e declarações dos candidatos. Dessa junção foi possível rotular certos candidatos como apocalípticos, dado a certos posicionamentos que vão de encontro a qualquer chance de obtermos um Brasil que seja mais desenvolvido e menos desigual.
Candidatos do Apocalipse: o messianismo de Lula
É quase um consenso que Lula tenha realizado uma boa presidência (período de 2003 a 2010). Mesmo acerca dessa afirmação é possível realizar diversas críticas, principalmente tendo em vista o contexto internacional favorável na época, além de algumas medidas questionáveis tomadas em seu segundo mandato.
Mas, independente das críticas, aquele Lula de 2003 a 2010 é totalmente diferente do Lula atual, réu condenado em duas instâncias e candidato à presidência pelo PT (Partido dos Trabalhadores) que talvez nem campanha possa fazer porque está preso e condenado em segunda instância. Tal candidatura, caso seja viabilizada – algo improvável – e atinja o objetivo almejado, que é o de vencer a eleição, representará não apenas uma derrota aos candidatos da oposição, mas uma grande derrota institucional para o Brasil.
O mutualismo entre Lula e o PT
Nenhum partido brasileiro possui um líder (ou símbolo) tão soberano quanto o PT em relação a Lula. O motivo para tamanho simbolismo se dá muito pelo fato de Lula ter sido o primeiro candidato da sigla a se eleger como presidente da república, tendo ainda conseguido a reeleição quatro anos depois. Além disso, foi o grande, se não o maior responsável, pelas duas vitórias petistas nas eleições presidenciáveis posteriores, nas quais Dilma Rousseff foi eleita.
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As vitórias petistas sofreram um grande revés, que foi a grave crise econômica brasileira, iniciada em 2014 e que ainda assola o país. Mas o grande “golpe” nas estruturas do partido ocorreu após o impeachment da ex presidente Dilma Rousseff. A partir disso, o PT sofreu uma série de reveses, desde derrotas políticas a prisões de importantes membros do partido, entre estes a do próprio Lula. Nas eleições municipais de 2016, a sigla petista quase saiu do mapa, tendo sofrido inúmeras derrotas nas principais cidades do Brasil. A maior derrota talvez tenha ocorrido na eleição para a prefeitura de São Paulo, em que o candidato pelo PT, Fernando Haddad, não conseguiu ao menos levar a disputa eleitoral para o segundo turno.
Porém, parece que a relação entre PT e Lula ficou ainda mais forte nesse período de crise do partido, chegando ao ponto de um quase mutualismo. Isso é demonstrado pela postura relutante do partido em lançar um candidato à presidência que não seja Lula, mesmo sabendo que este se encontra inelegível para as próximas eleições devido a Lei da Ficha Limpa. A manutenção dessa postura pode custar caro ao partido, mas como em toda relação mutualística, um não vive sem o outro, mesmo que isso resulte em graves consequências.
Retórica pronta e o líder carismático
A retórica evocada pelo PT, desde o impeachment da ex presidente Dilma, é a de que o Brasil vem sofrendo um golpe, que culminou na perseguição sistemática do partido e dos seus principais representantes. Tal narrativa deve ser ainda mais reforçada, como uma forma desesperada de reverter de algum modo a inexigibilidade de Lula.
Será relembrado que Dilma teria sido vítima de um golpe financiado pelas grandes elites, elites que não satisfeitas, fazem de tudo para impedir qualquer retorno do partido que “defende” os pobres. Mas nesse tipo de discurso será interessante observar a ausência de alguns algumas informações relevantes. Como o fato dos governos petistas terem justamente privilegiado essa chamada elite, algo que ocorreu a partir de vultosos financiamentos (muitos à margem da lei) nunca antes vistos na história desse país.
Para superar tamanha inconsistência, o elemento carisma deve ser usado ao máximo. Aquela figura de um Lula, retratado como um protetor dos oprimidos, um perseguido por algozes, sendo o único capaz de fazer com que o Brasil volte aos tempos de prosperidade. Para quem não quiser acreditar, basta clicar aqui.
O messianismo lulista
Infelizmente, algumas pessoas ainda acreditam cegamente na retórica petista, de que todos os males pelos quais passam o Brasil, como o avanço da pobreza extrema e do elevado número de desempregados, não são consequências da administração do PT, repleta de erros técnicos e éticos, que podem ser observados nas pedaladas fiscais do governo Dilma e na série de esquemas de corrupção. Para essas pessoas, o retorno de Lula à presidência significaria um retorno da “bonança perdida”. Essa crença é baseada em certas ilusões, alimentadas pelo carisma de Lula, junto com algumas premissas bem rasas em relação ao seu governo.
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É como se bastasse a simples presença de Lula no Palácio da Alvorada, sorrindo e fazendo promessas bastasse para que todos os problemas do país sumissem em um toque de mágica, como um milagre. Mas as coisas não funcionam desse modo, e nenhum tipo de messias é capaz de resolver os graves problemas econômicos do Brasil, ainda mais um que apregoa um discurso que vai em direção oposta a resolução dos problemas do país, como a questões trabalhista e previdenciária.
Para começar, um retorno de Lula não viria junto com o pragmatismo da “Carta aos brasileiros”, mas chegaria com uma retórica fortemente populista, cheia de chavões e meias verdades, fundamentadas em um “mártir que retornaria para salvar o povo brasileiro”.
Esse tipo de retorno, de um líder quase que messiânico, pode ser interessante na ficção, mas na vida real , e principalmente no campo da política, é altamente perigoso. Basta observar na história recente, que países influenciados por líderes altamente carismáticos, geralmente sofrem catástrofes econômicas acompanhados por autoritarismo político, a exemplo da China na época de Mao Tsé-Tung, da Coréia do Norte e da atual Venezuela.
Vitória eleitoral de Lula e o “apocalipse”?
A candidatura de Lula não gira em torno de propostas, mas sim do mantenimento do seu poder e do seu partido. Não há pautas definidas, como o que fazer com a dramática situação da saúde? E o crescimento da violência? O regime previdenciário brasileiro está falido, e agora? A única “proposta” é deslegitimar acusações bem fundamentadas e de repetir o jargão de que a população pobre vem sofrendo. E, claro, reverter quase tudo que foi feito no governo atual de Michel Temer.
Considerando um cenário hipotético, de uma vitória eleitoral de Lula, é bem provável que as acusações que pesam sobre si e sobre o seu partido fossem abafadas. A população mais pobre teria o seu contingente aumentado, assim como o nível de seu sofrimento. Esse cenário seria decorrência da censura que com certeza seria instaurada, com o objetivo de impedir um novo “golpe”, algo que sinalizaria uma quebra institucional do Brasil. Assim, uma série de empresas sairiam do Brasil, o real sofreria uma desvalorização recorde, que viria junto a queda significativa do índice Ibovespa.
Qualquer tentativa de reforma da Previdência seria barrada, algo que levaria a um inevitável colapso do sistema previdenciário brasileiro, levando a diversas famílias que possuem como única renda formal, as aposentadorias, literalmente passassem fome. Além disso, o contingente de milhões de desempregados, cerca de 13 milhões, iria se elevar, dado que o mercado de trabalho ficaria ainda mais inflexível (fora as empresas que sairiam do país por questões institucionais). Nesse momento, é bem provável que a inflação entraria em disparada, um flashback dos tempos pré Plano Real, gerando a necessidade de elevar a taxa Selic como tentativa de contenção inflacionária.
Para amenizar a situação de caos, políticas populistas mal disfarçadas de políticas sociais, seriam distribuídas, tendo como o único objetivo, angariar o apoio popular dar sustentação ao regime. É bem provável que medidas esdrúxulas passem a entrar em vigor, a exemplo de aumentos de 1000% no salário mínimo e da criação de uma série de novos impostos. A situação que iria desembocar num inevitável movimento de insatisfação popular, que seria contida por meio de violência e repressão, e claro, sendo acusado como golpista.
No final, chegaríamos num estado de quase convulsão social, com serviços sociais como de educação e saúde, arruinados. Não haveria mais confiança no real, o desemprego só elevaria. E tais problemas gerariam um novo ciclo de intervenção acompanhado por repressão, que resultaria em um clímax apocalíptico, difícil de se prever com exatidão.