Na semana passada foram divulgados dados importantes do mercado de trabalho brasileiro, que mostraram um cenário de continuidade de deterioração do emprego. A Pnad Contínua do IBGE mostrou que a taxa de desemprego continuou subindo, de 11,8% no trimestre encerrado em outubro para 11,9% no trimestre finalizado em novembro. Ao todo, 12,1 milhões de pessoas se encontram desocupadas.
O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, por sua vez, mostrou que em novembro o país perdeu 116,7 mil vagas formais. No acumulado dos 12 últimos meses, o saldo líquido de criação de vagas de emprego com carteira assinada é de -1,47 milhão. Desde 2015, foram destruídos cerca de 2,4 milhões de empregos formais.
Em relação à divulgação da Pnad, após uma forte desaceleração da procura por emprego nos últimos meses, o crescimento da população economicamente ativa (PEA) voltou a acelerar em novembro, de 0,5% para 1,1%, e foi o responsável pelo leve aumento da taxa de desemprego no período, como é possível ver no Quadro 1. Vale destacar que o resultado positivo da divulgação foi a desaceleração do ritmo de queda do pessoal ocupado (PO), também no Quadro 1. No trimestre encerrado em outubro, a queda do pessoal ocupado havia sido a maior registrada pela série, de 2,6%. Agora em novembro, a taxa reduziu para -2,1%, refletindo o aumento do emprego informal e a desaceleração do ritmo de queda do emprego por conta própria.
Quadro 1 – Variação (%) anual da PEA e do PO
Fonte: Pnad Contínua/IBGE. Elaboração: GO Associados
Entretanto, ainda deve demorar algum tempo para que a taxa de desemprego se estabilize. Para isto, é necessário que o crescimento do pessoal ocupado seja pelo menos igual ao crescimento da população economicamente ativa. Mas, isto deverá ocorrer apenas no terceiro trimestre de 2017, quando a taxa de desemprego, com ajuste sazonal atingir cerca de 13,1%, como pode ser visto no Quadro 2.
Quadro 2 – Taxa de desemprego (%)
Fonte: Pnad Contínua/IBGE. Projeção e elaboração: GO Associados
Faltando apenas o dado de dezembro, a expectativa é que o ano de 2016 feche com uma taxa média de desemprego de 11,4%, um aumento de 2,9 ponto percentual acima da taxa média registrada em 2015, de 8,5%. Para 2017, a taxa média de desemprego deve alcançar 13%, uma alta de 1,6 ponto em relação à taxa deste ano. Apesar do desemprego voltar a cair em 2018, a projeção é que apenas em 2020 a taxa média de desemprego caia abaixo de 10%.
Quadro 3 – Taxa média de desemprego (%)
Fonte: Pnad Contínua/IBGE. Projeção e elaboração: GO Associados
Em relação aos dados do Caged, estes devem mostrar uma situação parecida. O biênio 2015/16 deve mostrar a destruição de 2,9 milhões de vagas de emprego formal, e apenas em 2020, ou seja, em quatro anos, o país deverá recuperar tais empregos perdidos. Mas, como no período de 2015 a 2020, a população economicamente ativa terá aumentado em mais de 7 milhões de pessoas, apenas a recomposição das vagas perdidas está longe de ser suficiente para absorver todo esse estoque de pessoas, o que corrobora com a percepção que o desemprego se manterá bastante elevado nos próximos anos.
Quadro 4 – Projeção estoque de empregos CLT (em milhares)
Fonte: Caged/MTE. Projeção e elaboração: GO Associados
É obvio que caso a economia apresente uma recuperação muito mais intensa do que a esperada atualmente, o mercado de trabalho apresentará números melhores em um prazo mais curto. Mas, não é razoável esperar que até 2018 a situação já terá se revertido. Para isso, a economia deveria crescer cerca de 7% no acumulado de 2017 e 2018, o que hoje parece pouco provável.
Sendo assim, não resta dúvida que o maior desafio do Governo Temer, mesmo com uma recuperação da atividade esperada a partir de 2017, será o de continuar aprovando as reformas de ajuste da economia, com uma popularidade muito baixa, dado que o índice de desemprego se manterá elevado até o fim do seu mandato.
Luiz Castelli é Economista formado pela FEA/USP com mestrado pela FEA/USP Economista da GO Associados | Parceira do Terraço Econômico