Economia circular: por que importa? E onde nos levará?

Durante muitas décadas pós revolução industrial o capitalismo nos levou a crer que o ciclo de um produto seria basicamente a extração de seus insumos, a confecção ou industrialização, a venda e, ao final de sua vida útil, a transformação automática em lixo. É possível que o leitor esteja pensando: “mas não é exatamente isso que acontece até agora?”. Porém, essa realidade vem mudando

E o motivo é economicamente justificável.

O que é economia circular?

Economia circular é aquela que leva em consideração a continuidade em ciclos dos processos de produção. Ou, de maneira mais direta, aquela que atribui valor ao que anteriormente era considerado resíduo, aproveitando-o no processo novamente ou mesmo criando novos ciclos que terão valor agregado suficiente para compensar justamente essa sua nova vida.

O conceito da economia circular vai muito além da mera questão ambiental. Fonte: gauchazh.

Parece um conceito distante e não relacionado a algo que você conheça mas, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria em estudo de 2019, 76% das empresas adotam iniciativas de economia circular, mesmo que 70% delas não tenha conhecimento do que isso significa. Medidas que vão nessa direção incluem a otimização de processos, o uso de insumos circulares (novamente inseridos no processo produtivo), a recuperação de recursos e a extensão da vida de produtos.

Efeitos práticos da economia circular

Esse tipo de iniciativa ocorre por basicamente dois motivos. Em primeiro lugar, a demanda por produtos que geravam resíduos aumentou nas últimas décadas em 150%; o “tirar leite de pedra” fez com que as indústrias tenham passado atualmente a extrair 40% a mais de eficiência das matérias primas. Em segundo lugar e, umbilicalmente ligado ao primeiro, há o interesse pela reutilização ou “esticamento” do uso de matérias primas basicamente porque, diferentemente do que se pensava anteriormente, elas têm valor agregado. Podemos observar também um terceiro motivo: há certa preferência por parte do consumidor de produtos que levem em conta uma redução de resíduos gerados.

Análises realizadas pela União Europeia indicam que a adoção de medidas que vão na direção da economia circular possam incrementar até 7% do PIB do bloco europeu até 2030, sendo que podem ser economizados cerca de US$700 bilhões de recursos por ano apenas com a economia de recursos em setores como o de alimentos, têxteis, bebidas e embalagens. 

Os números são vultosos e mostram como esse caminhar faz diferença.

Empresas que colocam em prática a economia circular

Vimos até então o que é a economia circular e como ela se traduz em benefícios econômicos para as cadeias produtivas. Vamos agora então para empresas que colocam esse conceito em prática.

Nespresso: a marca conhecida por seu café em cápsulas para públicos selecionados coloca em prática a economia circular através de gestão do café, do alumínio das cápsulas e de práticas sustentáveis diversas. Tem distribuídos pelo país mais de 100 pontos de coleta para reciclagem das cápsulas e coloca em seu site institucional quais as práticas de sustentabilidade adota em suas cadeias produtivas – conjunto chamado pela empresa de The Positive Cup. Segundo a empresa, seus três pilares são café de qualidade sustentável, clima e meio ambiente e reciclagem das cápsulas.

HP: a gigante das impressoras e cartuchos de tinta disponibiliza nacionalmente mais de 400 pontos de coleta para seus produtos que seriam descartados após o fim da vida útil. Há inserção de 100% do plástico reciclado em seus produtos atualmente. O maior desafio da empresa neste aspecto não é ter uma infraestrutura preparada para receber esse material, mas recebê-lo de fato: apenas 8% dos consumidores fazem essa devolução e, ainda assim, isso significava, ao menos em 2018, 45 toneladas de cartuchos reciclados todos os meses.

Braskem: a empresa dedica um espaço especial em seu site institucional para as práticas que adota e as metas que busca alcançar nos próximos anos neste aspecto. Abrindo em oito metas (na imagem a seguir), a ideia é direcionar de maneira mais assertiva possível a gestão dos resíduos plásticos e de toda a sua cadeia, objetivando a reciclagem, reutilização ou recuperação de 100% de suas embalagens até 2040.

Fonte: Braskem.

Como meus investimentos se relacionam com isso?

Vimos aqui que a tendência da economia circular é, além de ambientalmente correta, economicamente viável. Além disso, vimos também que muitas empresas já utilizam práticas deste campo e provavelmente nem sabem disso.

A gestão de resíduos é cada vez mais um negócio. Empresas de maior porte como os casos aqui apresentados conseguem verticalizar a atuação na direção de colocar suas cadeias produtivas na direção da economia circular. Porém, essa não é a realidade de todas as empresas.

Paradoxalmente, temos aqui uma boa notícia, não má. As empresas que não conseguem lidar com seus resíduos podem acabar, no fim das contas, gerando novas empresas especializadas em transformar o uso daquele resíduo. Um exemplo dos tantos possíveis de serem apresentados é o de uma empresa de móveis feitos com um polímero à base de casca de arroz. A ideia original foi de dar destinação mais adequada a este item em uma região que gera quantidade considerável deste – o Sul do Brasil.

A dica para seus investimentos é: esteja atento com a gestão de resíduos. Muitos negócios surgirão nos próximos anos com foco no que antes era considerado meramente um descarte de processos industriais. E, certamente, estarão aí incontáveis oportunidades de investimentos na economia real.

 

 

 

 

 

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