“Fênix é um pássaro da mitologia grega que, quando morria, entrava em auto-combustão e, passado algum tempo, renascia das próprias cinzas”
Principais candidatos à presidente. Fonte: Uol
Quem achou que, após a morte de Eduardo Campos, o PSB tinha morrido também se enganou. As últimas informações divulgadas pelos jornais e a mais recente pesquisa realizada pelo Datafolha no final de semana, que já inclui o nome de Marina Silva entre os candidatos, praticamente confirmaram a oficialização de Marina como representante do PSB nas eleições presidenciais. Com ela, o partido ganhou forças e são sérios candidatos a vencerem a eleição. Como uma fênix, ressurgiram das cinzas para serem a segunda força nacional no primeiro turno, com mais chances de passarem para o segundo turno que o PSDB de Aécio Neves e, caso isso se confirme, de vencerem as eleições num confronto com o PT de Dilma Rousseff.
O que se esperava do Datafolha
Antes da divulgação da pesquisa do Datafolha que foi a campo após a morte de Eduardo Campos e que incluiu o nome de Marina Silva, vários consultores políticos já avisavam que Marina viria mais forte que Eduardo Campos por vários motivos: ela tem recall, atrai também outros conjuntos de eleitores, como os da região Norte e os evangélicos, além de em pesquisas passadas, sempre estar acima de 20% das intenções de voto e ter baixa rejeição pelo eleitor. Ademais, as pesquisas realizadas em meados de julho apresentavam um número alto de votos nulo ou em branco e de pessoas que ainda não sabem em quem votar. O perfil desses grupos era, em grande parte, de mulheres jovens, exatamente o perfil que Marina conquistou mais votos em 2010, quando disputava as eleições presidenciais pelo Partido Verde. Portanto, esses votos se transfeririam a ela. Eles também comentavam que muitos desses votos poderiam ser usados como protesto contra PT e PSDB. Essa hipótese reforçava ainda mais a confiança de que essa transferência aconteceria. E eles estavam certos.
Primeiro turno: queda relevante dos votos nulos e brancos
Segundo o Datafolha divulgado ontem, Marina entra na disputa pela Presidência com 21% das intenções de voto. Ela larga em segundo lugar na corrida presidencial, um ponto à frente de Aécio Neves – o que os coloca em situação de empate técnico- e 15 pontos atrás de Dilma Rousseff.
A presença de Marina, como antecipado, teve efeito nas intenções de voto nulo ou em branco (recuaram de 13% para 8%) e nos indecisos (caíram de 14% para 9%).
O resultado é péssimo tanto para Aécio quanto para Dilma. O primeiro viu suas chances de ir para o segundo turno despencarem. Na pesquisa anterior, o tucano tinha os mesmo 20% de intenção de voto, mas 12 pontos acima de Eduardo Campos. Já a petista, que ponderava uma chance razoável de a eleição ser resolvida no primeiro turno, terá de suar para que isso aconteça.
A pesquisa também mostra um cenário contrafactual, ou seja, caso Marina Silva não fosse candidata. Nesse cenário, Dilma venceria a eleição já no primeiro turno com 41% (oito pontos a mais que a soma de seus rivais). Aécio apareceria com 25%. Mas o percentual de eleitores sem candidato continuaria alto: 13% de brancos e nulos, 12% de indecisos.
O interessante de analisar o cenário contrafactual é que podemos observar que 5% das intenções de votos, tanto de Dilma (cai de 41% para 36%) quanto de Aécio (cai de 25% para 20%), são transferidos para Marina. A constatação de que grande parte do eleitor de Marina fosse o mesmo de Aécio, e portanto haveria uma grande queda dos votos do tucano, não foi confirmada nesta pesquisa.
Segundo turno: cenário negro para PSDB; Marina vence Dilma
Os resultados para o segundo turno são mais interessantes ainda que os do primeiro turno. O Datafolha fez duas simulações: a primeira com Aécio e Dilma; a segunda com Dilma e Marina.
Aécio x Dilma
Contra Aécio, Dilma venceria o segundo turno por 47% a 39%. Neste caso, os oito pontos de diferença representam uma ampliação da vantagem da petista. Em meados de julho, o cenário era de 44% a 40%. Esse resultado põe o candidato psdebista numa enrascada, pois além do aumento da diferença, a aprovação do governo subiu de 32% para 38%. Nessa altura do campeonato, uma margem de 8 pontos de diferença nunca foi tirada.
Dilma x Marina
Marina fica numericamente a frente de Dilma 47% contra 43%. Tecnicamente é uma situação de empate nos limites máximos da margem de erro (2%). O resultado mostra que, no segundo turno, praticamente todos os votos tucanos iriam para Marina, indicando uma rejeição muito maior da candidata da situação em comparação com a candidata da oposição.
Voto útil
Outra maneira interessante de olhar a pesquisa é analisá-la como um todo, primeiro e segundo turnos juntos. Como vimos acima, Aécio e Marina estão empatados tecnicamente e portanto têm as mesmas chances de irem para o segundo turno contra Dilma. No caso de Aécio passar, Dilma venceria a eleição. Já no segundo caso, Marina levaria a melhor sobre a petista.
Dessa forma, se o primeiro e segundo turno das eleições fossem nesse fim de semana e se os resultados dessa última pesquisa realizada pelo Datafolha fossem os mesmos das eleições, teríamos uma contradição. Uma pessoa que votasse em Aécio no primeiro turno (e que geralmente detestaria que Dilma vencesse) faria com que a candidata petista se reelegesse. Por outro lado, esse eleitor poderia abrir mão de seu voto e transferi-lo para Marina, evitando, então, que o pior cenário do PT vencer, acontecesse. Os cientistas políticos chamam essa manobra de voto útil. Como a rejeição por um candidato é maior que a chance de sua primeira opção de voto vencer, o eleitor muda sua escolha no primeiro turno. Dessa forma, cabe ao eleitor psdebista analisar se vale a pena correr o risco de tentar eleger Aécio Neves e deixar Dilma vencer. Ou será que é melhor votar na Marina Silva com a certeza que o PT não governe por mais quatro anos?
Esse fenômeno mostra também a importância das pesquisas eleitorais e o porquê delas terem de ser oficializadas no website do TSE e terem acesso público.
Pontos relevantes a serem observados
Algumas coisas devem ser observadas entre os candidatos:
– Para o PSDB, apesar da stuação difícil, nem tudo está perdido. Com o inicio dos debates eleitorais, Aécio deve levar vantagem sobre Dilma e Marina. Sua qualidade no discurso pôde ser visto na entrevista feita pelo Jornal Nacional [1]. Ele se utilizou de palavras simples para responder questões polêmicas sobre seu governo em Minas Gerais.
– Já para a presidente Dilma Rousseff, a última pesquisa divulgada mostrou um aumento da aprovação de seu governo, além de uma leve queda de sua rejeição. A candidata da situação também pode contar com uma equipe de marqueteiros melhor que a da oposição e já vimos que isso faz diferença (vide Lula em 2006 que sobreviveu aos escândalos do mensalão).
– Por fim, Marina Silva tem como potencial os votos nulos e brancos, além da menor taxa de rejeição entre os candidatos (apenas 11%). Em seu favor, também há o que consultores políticos chamam de efeito imponderável. O efeito emocional pelo falecimento de Eduardo Campos pode potencializar seu número de votos. Esse efeito, apesar das circunstancias eleitorais totalmente diferentes, pode ser de certa forma comparado ao que aconteceu na Argentina. Néstor Kirchner, ex-presidente e marido de Cristina Kirchner, faleceu em outubro de 2010, vitima de um ataque cardíaco fulminante [2]. Cristina se apoderou de discursos emocionais que tiveram efeitos extremamente positivos e que culminaram na sua reeleição à presidente da Argentina.
Ainda há muita água para rolar, mas pelo que já vimos até agora, 2014 será emocionante. Esperemos pelos próximos capítulos.
[1] http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2014/08/aecio-neves-e-entrevistado-no-jornal-nacional.html
[2] http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2011/10/27/morte-de-nestor-kirchner-completa-um-ano.htm
Todos os dados foram tirados da pesquisa Datafolha: http://datafolha.folha.uol.com.br/eleicoes/2014/08/1502039-com-marina-disputa-presidencial-iria-para-o-segundo-turno.shtml