Empresários que jogam contra o Brasil: todo dia um 7×1 econômico diferente

Existe claramente um time de empresários que jogam contra o Brasil, na lateral direita, prontos para fazer aquele belíssimo gol contra. O time mais proeminente é o timaço da FIESP, que faz uma série de jogos esquizofrênicos contra o país, mas na coletiva pós jogo sempre diz que está jogando a favor da pátria amada idolatrada e no final é só bola nas costas da nação. O craque do time: Benjamin Steinbruch.

Em sua última jogada, o senhor Benjamin Steinbruch, CEO da icônica CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, e também vice-presidente da FIESP, escreveu o seguinte texto: “É impossível pensar em crescer sem uma mentalidade desenvolvimentista”, na Folha de São Paulo. O argumento central dessa jogada é que o país não crescerá pela pura e simples falta de desenvolvimentismo.

Qualquer palavra derivada de desenvolvimentismo desperta os mais sombios calafrios, afinal de contas, foi o receituário do desenvolvimentismo travestido de Nova Matriz Econômica que enterrou a economia brasileira em sua mais profunda crise econômica. Jogar seguindo a cartilha desenvolvimentista é garantia de levar um 7×1 econômico.

Benjamin começa dizendo que a inflação está comportada há muito tempo. Não sabemos ao certo o que significa muito tempo para ele, pois dois anos atrás, ao final de 2015 tivemos que lidar com um IPCA de dois dígitos, produto de um mix completamente errado de políticas: controle de preços (petróleo e enenergia elétrica, sendo que a FIESP foi grande entusiasta desses controles) em conjunto com um comportamento fiscal expansionista ao extremo e para completar: um banco central leniente. Apenas em meados de 2016 que a inflação começou a ceder, em meio à pior crise econômica da história brasileira. Mesmo em tamanha crise foi necessário manter os juros em patamares nada confortáveis para que a inflação convergisse para níveis mais aceitáveis.

Em seguida, ele lamenta os trágicos números da economia brasileira: uma queda de 7,2% da produção e uma renda per capita que despencou 9% nos últimos dois anos. Aqui ele está certo, afinal de contas, são os números, cuja culpa ele atribui à administração Rousseff, já superada. Segundo ele, agora devemos olhar em direção ao futuro.

As jogadas propostas para vencer a crise são dignas de 7×1: (1) reduzir os juros, pois estão muito altos, dificulta a vida do empresário. E como já é comum ao time da FIESP: (2) ajustar a taxa de câmbio, que não está em um nível competitivo o suficiente, jogada favorita do empresariado paulista. Por fim, (3) que os Bancos públicos sentaram em cima do dinheiro, e não estão emprestando e quando emprestam não é a taxa competitivas (leia-se: abaixo das taxas de mercado).

A solução (1) está acontecendo, não pelo motivo apontado pelo Benjamin, e sim porque existe espaço para baixar juros, já que as expectativas de inflação para o fim deste ano estão abaixo da meta de 4,5%a.a. A capacidade ociosa da economia é de quase 30%. Tudo certo para uma baixa correta da taxa de juros, ao contrário de 2012, quando foi feita às pressas e em um momento que a economia estava próxima ao uso completo da capacidade, um verdadeiro tiro no pé, jogada que foi amplamente comemorada pelo empresariado da FIESP.

A solução (2) é daquelas que faz qualquer economista sério ficar preocupado. Existem dezenas de estudos que comprovam que variações na taxa de câmbio no sentido de que deixem as exportações mais baratas frente ao resto do mundo, apenas trazem efeitos de curto prazo. No longo prazo o efeito do câmbio é nulo e para confirmar basta dar uma passadinha no Hand Book of Economic Growth para verificar que o câmbio não chega nem a ser coadjuvante no jogo do crescimento. Há quem diga que funciona ter um câmbio desvalorizado, mas isso somente é consequência de uma taxa de poupança alta, não de intervenções governamentais na taxa nominal.

O câmbio é um preço da economia, assim como a taxa de juros, controlar ele é pedir para gerar distorções que em casos extremos pode nos levar para uma crise cambial ou coisa pior. O que faz a indústria crescer é a produtividade, que é uma derivada de educação, saúde e infraestrutura e não do simples controle de um preço macroeconômico.

Por último, o ponto (3) só pode ser piada – é como sair jogando com o goleiro com a bola nos pés. Nos últimos anos, o BNDES descarregou mais de 250 bilhões de reais, a juro subsidiado pelos contribuintes, na economia brasileira e cadê o efeito? A pior crisde desde que o Brasil é Brasil. Parte considerável do aumento do endividamento do governo federal nos últimos anos vem dos aportes do tesouro no BNDES para o financiamento dessas operações bilionárias que trouxeram retorno zero, talvez até negativo para a economia brasileira. Pagaremos o ônus fiscal disso por anos e anos – mais precisamente até 2060 segundo o Tesouro Nacional.

No final das contas o Dr. Benjamin quer que se repita tudo que foi feito no governo Dilma, sem tirar nem pôr todas aquelas excelentes medidas que semeou frutos maravilhosos na economia brasileira. Lembram-se da definição de loucura? Fazer a mesma coisa e esperar resultado diferente.

É bastante razoável pensar que o vice-presidente da associação mais poderosa de industriais do país fala em nome de toda a FIESP. O que nos leva a seguinte indagação: será que a FIESP está realmente a favor do Brasil?

No final do dia parece que a FIESP está tramando o próximo 7×1 econômico.

 

Victor Candido

Mestre em economia pela Universidade de Brasília (UnB). Economista pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). Foi economista-chefe de uma das maiores corretoras de valores do país, economista do Banco Interamericano de Desenvolvimento e atualmente é sócio e economista de uma gestora de fundos de investimento. Foi pesquisador do CPDOC (O Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil) da FGV-RJ. Ajudou a fundar o Terraço Econômico em 2014.
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