Entenda o que é um token e qual a sua relação com as criptomoedas!

Os investimentos em ativos físicos, como imóveis ou ouro, por exemplo, são ótimas formas de diversificar uma carteira de aplicações. Mas feitos à moda tradicional, a venda ou transferência da propriedade desses ativos pode ser bem burocrática, passando necessariamente por coleta de assinaturas, carimbos de cartórios e mais passos que podem dar dor de cabeça.

E se esses ativos, embora físicos, fossem transformados em pequenas partes digitais facilmente comercializáveis? Essa é a ideia por trás dos tokens, os dos ativos tokenizados, assunto principal deste artigo.

Se olharmos para as criptomoedas, basicamente é pela existência dos tokens que você pode até acabar concordando que pelo menos parte de tudo que o universo cripto trouxe desde o Bitcoin até agora tem muito mais potencial do que se pensa inicialmente – independente de você sequer concordar que as inovações desse universo são mesmo úteis.

Mas, chega de mistérios e enigmas, vamos para a personagem principal do artigo!

O que são tokens?

Tokens são a digitalização e unificação de ativos e/ou direitos em unidades padronizadas. Tá, essa é a definição rápida, direta e concisa da coisa. Mas para que você não fique pensando que abriu esse artigo para nada, não se preocupe, vamos te explicar com mais detalhes a seguir s.

O que os tokens simbolizam é uma verdadeira evolução da história da moeda. Possivelmente eles representam a etapa mais recente de todo esse fenômeno de trocas econômicas realizadas entre as pessoas.

Uma breve história da moeda e como chegamos aos tokens

Muito, mas muito tempo atrás mesmo, as pessoas trocavam os excedentes de sua produção. Alguém tinha excesso na plantação de milho e queria soja? Precisava procurar outra pessoa que tivesse tido o excesso contrário (sobrando soja e querendo milho). Não só parecia complicado como de fato era

E como surgiu a “solução” para isso? Transformar todos esses ativos em uma referência única que facilitasse as trocas entre os indivíduos. Essa foi a solução trazida pelos metais, afinal eles representavam um bem que todos desejavam – seja para colecionar, utilizá-lo como adorno ou para conseguir ainda mais possibilidades de trocas por outros produtos (ou, se quiser, reserva de valor).

A etapa seguinte é caracterizada pela troca de metais preciosos por ativos. Estavam unificados os valores dessa economia em apenas um meio de troca, mas elas ainda não eram tão fáceis assim. A capacidade de realizar transações entre cada país ficava resumida ao seu estoque de ouro, prata ou qualquer que fosse o metal precioso utilizado nessas transações.

Vendo que seria complicado manter o comércio internacional assim, pensou-se em algo mais fácil, que representasse o valor dos metais preciosos, mas que fosse de mais fácil transporte e cunhagem. Trata-se do uso disseminado do papel-moeda. Inicialmente, esse papel moeda era conversível em uma quantidade de metal precioso que fosse correspondente àquele valor ali descrito, o que ainda vinculava aquela moeda em papel a uma quantidade que o país precisaria ter de metais preciosos.

A etapa seguinte, uma antes da existência dos tokens, foi quando passou-se a dissociar essa necessidade de estoque de metais preciosos da emissão de moeda. Nasce aí a chamada moeda fiduciária, que é aquela cuja base de valor é a confiança das pessoas de que aquele papel moeda terá valor amanhã – e não mais algum estoque em metais preciosos.

Tá, mas onde entram os tokens nessa história?

A tokenização aparece como etapa mais recente de tudo isso, porque unifica transações de ativos e/ou direitos diferentes em unidades iguais e digitais. Através da tokenização, o que acontece é que tudo se torna mais facilmente observável, comercializável e registrável.

Já que te contamos que podem ser transformados em tokens tanto bens quanto direitos, vamos te apresentar um exemplo de cada para ficar bem explicativo.

Exemplo I: o prédio de salas comerciais

Pense em um prédio de salas comerciais de quinze andares, com quatro unidades por andar. Sessenta no total, todos eles em uma mesma área comercial. A vista não importa muito, todos eles acabam ficando focados apenas na utilidade apenas. São quatro as pessoas que investiram para que o prédio acontecesse, então são quinze apartamentos para cada. Mas seria possível dividir o valor de forma direta com cada um, sem criar confusão de “qual apartamento é de quem”? 

Sim, com a tokenização!

A tokenização aqui entra da seguinte maneira: pega-se o valor total do empreendimento, divide-se pelo número de unidades disponíveis (ou algum múltiplo disso) e se distribui entre as pessoas. Vamos dar números para facilitar: o empreendimento total vale R$3 milhões, R$50 mil por unidade. Se decidirem que cada token será referente a uma unidade, então serão 60 tokens de valor individual de R$50 mil.

A vantagem dessa tokenização é que todas as valorizações e eventuais desvalorizações são registradas com base naquela unidade tokenizada (o valor de R$50 mil por token), as compras e vendas entre as pessoas que investiram inicialmente ficam mais fáceis, o registro de valores fica bem mais simples e também a comercialização desses ativos é super rápida. Tudo fica mais transparente!

Exemplo II: os direitos autorais de uma cantora pop

O mundo da música hoje é muito mais dinâmico do que era vinte ou trinta anos atrás. Antigamente os contratos eram feitos com gravadoras, os CDs vendidos e os shows fechados diretamente com quem queria contratar. 

Hoje existe uma figura bem mais difusa, que é o streaming: como remunerar quem produz música com base no quanto as pessoas ouvem?

Essa solução pode vir com base na tokenização também: pode-se atribuir alguma unidade em token para cada música e, a partir disso, observar a demanda de pessoas que ouvem para atribuir valor a mais ou a menos para aquele token. E, veja só que sensacional: se a própria cantora não quiser ficar com esses direitos, não só pode vendê-los como pode fazer isso de forma muito mais objetiva!

Qual a diferença entre token, moeda fiduciária e criptomoeda?

Lembra da história que contamos sobre a evolução do dinheiro? Então: moedas fiduciárias podem realizar transações no mundo real e no sistema financeiro como conhecemos, criptomoedas podem ser utilizadas no mundo real mas estão em redes alheias ao sistema tradicional e tokens são a digitalização de ativos/direitos, conectando as duas pontas.

Vale notar outro ponto bastante importante de diferencial dos tokens: apresentam funções que vão muito além das funções pretendidas pelas moedas fiduciárias e criptomoedas (geralmente associadas a realização de pagamentos, servir de unidade de conta e reserva de valor). 

Fica muito mais fácil de entender quando você descobre quais são os tipos de tokens.

Quais são os tipos de tokens?

São basicamente cinco os tipos de tokens: payment, utility, security, equity e os NFTs.

Payment tokens são aqueles utilizados exclusivamente para pagamentos. Sim, aqui entram as criptomoedas como você conhece, como Bitcoin, Litecoin e Ripple, aquelas que você compra para poder depois comprar coisas com elas, como um dinheiro digital.

Utility token são aqueles cuja função principal é permitir que uma pessoa atue dentro de algum ecossistema ou plataforma. Várias comunidades cripto estabelecem sua governança por meio de tokens de utilidade para realizar votações ou tomar decisões importantes para o projeto. Ou seja, quem possui esses tokens tem poder de voto.

Security token é a transformação digital de ativos securitizáveis: ações, direitos, obrigações, dívidas… Tudo que puder ser securitizado e inserido no universo cripto (ou seja, colocado em uma rede blockchain), pode virar um token desse tipo.

Equity tokens são as ações que passaram a ser tokenizadas. Pode ser que você encontre esse tipo dentro do anterior (security), mas a diferença é que, nesse caso, fala-se exclusivamente do que acontece quando você detém ações, não os outros tipos de securitizáveis.

NFTs, ou tokens não-fungíveis, são aqueles itens sobre os quais você consegue colocar identificação única, o que serve tanto para facilitar o histórico do item quanto para facilitar a comercialização. Geralmente têm relação direta com o desenvolvimento de obras de arte e itens exclusivos disponíveis no universo cripto.

Importante apontar que, entre esses diferentes tipos, você também pode ouvir falar da figura dos tokens sintéticos. Esse não é um tipo específico de token, mas se refere ao acompanhamento de um ativo sem que você o tenha. Ou, de maneira bem direta: token sintético é aquele que te permite ter uma exposição a determinado token sem que você precise comprá-lo, como por exemplo sUDS reproduz o valor do dólar dos EUA e renBTC busca acompanhar o valor do Bitcoin.

Tokens: cada vez mais próximos de todos nós

Com chances não desprezíveis você abriu esse artigo pensando que iria descobrir o que é um token e encerra a leitura agora lembrando de alguma ocasião na qual deve ter utilizado algum desses ativos, mas na hora só não pensou que se tratava disso. Não estranhe se isso aconteceu contigo, realmente é algo presente entre a maioria das pessoas que decide entender mais sobre esse assunto.

Tokens, como dissemos, representam uma etapa adicional e bastante recente de como na economia podem ser realizadas as trocas entre as pessoas, incluindo agora de maneira bastante palpável o mundo digital. Já pensou em que tipo de solução para sua vida ou seu negócio seria possível desenvolver com a utilização de algum tipo de token?

Para outros assuntos que te fazem expandir os pensamentos em relação ao universo cripto e itens agregados, não se esqueça de verificar os outros conteúdos aqui dessa coluna e também lá do Blog da Bitso!

Caio Augusto

Formado em Economia Empresarial e Controladoria pela Universidade de São Paulo (FEA-RP), atualmente cursando o MBA de Gestão Empresarial na FGV. Gosta de discutir economia , política e finanças pessoais de maneira descontraída, simples sem ser simplista. Trabalha como diretor financeiro de negócios familiares no interior de São Paulo e arquiva suas publicações no WordPress Questão de Incentivos. É bastante interessado nos campos de políticas públicas e incentivos econômicos.
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