Assim como no governo Temer com a equipe capitaneada por Henrique Meirelles, o atual Ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes, está para anunciar uma liberação de recursos do FGTS para saque em possibilidades além das atuais. Independente do valor que será liberado no fim das contas, há uma reflexão que deve ser feita por quem tiver recursos disponíveis: não faz sentido deixá-los como estão atualmente.
O Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, famoso FGTS, faz parte do famigerado grupo de ditos direitos inalienáveis do trabalhador. Em teoria, seu objetivo principal é o de fornecer uma salvaguarda ao trabalhador em tempos difíceis (como na ocasião de demissão), de auxílio para a realização de um sonho (como o de comprar a casa própria), ou então para a aposentadoria. Na prática, o FGTS é uma poupança realizada compulsória e mensalmente direto do salário de todo trabalhador registrado sob regime da CLT (no montante de 8% de seu salário), tendo como premissa que o Estado deve garantir que o trabalhador poupe uma parte de sua renda, que então ficará sob a tutela não própria, mas do Estado em si.
Como esperado, há grupos que apoiam de maneira ferrenha a existência do FGTS e outros que o encaram como apenas mais uma obrigatoriedade imposta ao trabalhador brasileiro, e ao próprio empregador – contribuindo assim para o aumento do chamado “custo Brasil”. Enquanto os primeiros defendem o fundo por sua contribuição à investimentos em habitação, saneamento básico e infraestrutura, críticos ao FGTS argumentam ser escolha do trabalhador o que fazer com seu salário, não havendo a necessidade da tutela do estado.
Para aqueles que vos falam, acreditamos ser muitas vezes do equilíbrio entre extremos que se encontra o segredo para boas políticas públicas. De acordo com uma pesquisa recente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima), um total de 58% dos brasileiros não possuía nenhum investimento financeiro em agosto de 2018, dentre os quais apenas 9% tinham feito algum aporte financeiro ao longo do ano anterior. Dos 42% que não poupavam, 10% o faziam por escolha, declarando preferir viver o presente e se preocupar mais tarde com o futuro, enquanto 25% dizia poupar apenas quando sobra no final do mês.
É claro que há diversas famílias vivem no limite, sem conseguir poupar nem uma parcela mínima do orçamento mensal. Porém, a realidade é que o brasileiro poupa pouco, o que todos sabemos não ser positivo nem para a economia como um todo (que possui então uma baixa taxa para investimentos produtivos), nem para o próprio trabalhador, que deve ter uma reserva para cobrir potenciais emergências, e, claro, para quando não puder mais trabalhar.
E é essa realidade que ilustra o benefício de políticas públicas que estabeleçam uma forma de poupança compulsória em países como o Brasil, onde educação financeira ainda é infelizmente privilégio de poucos.
Porém, é importante destacar o outro lado da moeda guardada a sete chaves no FGTS – seu baixíssimo rendimento. Nos últimos anos, o rendimento das aplicações no FGTS tem sido superado não somente pela inflação, mas por investimentos dos mais simples, como a poupança. Mesmo sob as novas regras estabelecidas no ano passado, um trabalhador com o salário de R$1.500 ao mês teria um rendimento de apenas R$98 em um ano (com base no resultado do FGTS de 2015), valor superável por diversos investimentos de complexidade não tão elevada.
Desta forma, julgamos acertada a decisão do governo da liberação de parcela do FGTS ao trabalhador brasileiro, dado o momento de alta inadimplência, baixa atividade e reduzido consumo – e diante de regras de gerenciamento que levam a rendimentos particularmente baixos.
Porém, do ponto de vista do trabalhador (e leitor do Terraço Econômico), o que então fazer com esse dinheiro?
O que se indica a fazer dependerá do estágio em que você se encontra, dentre os que serão apresentados a seguir: endividado, sem dívidas e sem reserva de emergência, e, por último, com reserva e já presente no mundo dos investimentos.
Se você estiver endividado e, considerando que mesmo na mais baixa taxa básica de juros nominal (a famosa Selic, que está em 6,5% com tendência de cair ainda mais) ainda temos um custo de dívida de curto prazo (como a do cartão de crédito) em níveis astronômicos, quite ou abata o máximo de suas dívidas caras com esse recurso. Garanta suas noites mais tranquilas de sono com essa atitude responsável.
Caso você não tenha dívidas mas viva na situação de não ter reservas – e, assim, não ter de onde tirar recursos para o caso de alguma emergência –, a dica é começar a construir uma reserva de emergência. Segundo os especialistas em finanças pessoais, essa reserva deve ser capaz de suprir algum período entre três e seis meses de suas despesas, para o caso por exemplo de uma demissão ou, por qualquer outro motivo, apareça uma forte indisponibilidade financeira. O ideal é que os recursos dessa reserva estejam disponíveis a curto prazo. Em uma ordem de “melhor ideia”, temos a poupança, o CDB de um banco tradicional, o CDB/LCI/LCA de um banco menor ou mesmo o Tesouro Selic.
Não tendo dívidas, tendo uma reserva de emergências e já estando no mundo dos investimentos, dado que a taxa de juros está em baixa e com tendência de assim se manter ou até mesmo se reduzir, pesquise sobre meios alheios à renda fixa para conseguir ganhos mais robustos ao longo do tempo. Fundos de ações, carteiras de alocação inteligente, fundos imobiliários, fundos multimercado. Utilize esses recursos inesperados para reforçar o montante de dinheiro que trabalha para você.
Se tem uma única ideia que não é de fato produtiva para seus recursos passíveis de saque do FGTS é mantê-los onde estão. Seguimos no mesmo pensamento de nosso artigo anterior, que dá base a este: o último a sair apague a luz, faça bom proveito do dinheiro que pertence a você, certamente será mais adequado do que o que o governo faz por você com ele; ou, em outras palavras: você consegue fazer melhor do que os 3% anuais de “rendimento” que seu dinheiro tem parado neste clássico direito adquirido.
Rachel Borges de Sá e Caio Augusto, editores Terraço Econômico, assinam este artigo.