A greve dos privilegiados

O Brasil ostenta uma dessas curiosidades gestadas pelo poder dos incentivos: possui um sindicato para cuidar dos interesses dos trabalhadores em sindicatos. Pois é, leitor, pode parecer piada, mas é verdade. No total, já são mais de 15 mil sindicatos. Por que tantos sindicatos? Simples: porque no Brasil existe um imposto sindical, a qual todo trabalhador, querendo ou não, é obrigado a pagar com o suor de um dia do trabalho. Não por outro motivo, os sindicalistas são contra a reforma trabalhista recém aprovada na Câmara dos Deputados. Afinal, um dos itens é justamente o fim do imposto sindical.

Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domícilios Contínua (PNAD Contínua), existiam no trimestre móvel encerrado em fevereiro último 10 milhões de empregados no setor público ante 33 milhões empregados no setor privado com carteira assinada. Enquanto aqueles ganharam, em média,  R$ 3.346, estes levaram R$ 1.983. Além de ganharem mais, os funcionários públicos estão protegidos do desemprego, que hoje atinge 13,5 milhões de pessoas.

Não apenas ganham melhor, têm estabilidade no emprego, mas se aposentam em condições muito mais favoráveis. Enquanto os cerca de 30 milhões de aposentados do INSS custam quase R$ 500 bilhões, 1,6 milhões de funcionários públicos estaduais ficam com R$ 135 bilhões e o 1 milhão de funcionários públicos federais com R$ 116 bilhões.

Sindicalistas e funcionários públicos se uniram para decretar uma greve geral hoje, 28/04. A pauta principal é ser contra a reforma trabalhista e a reforma da previdência, que os atinge diretamente. Afinal, a reforma trabalhista ataca a fonte de financiamento dos sindicatos, bem como ataca a aposentadoria mais do que generosa dos funcionários públicos. Nada mais justo, portanto, que lutem pelos seus privilégios e pela manutenção do status quo.

Não se deve confundir, entretanto, essa luta de grupos privilegiados como uma luta do país. Os não privilegiados serão beneficiados com a aprovação de reformas, porque essas reequilibrarão as contas públicas, reduzindo os juros, aumentando os investimentos, gerando crescimento econômico e, por fim, empregos.

A agenda de reformas visa melhorar o ambiente de negócios e deve não apenas conter as reformas da previdência e do mercado de trabalho, mas também a dos tributos, do judiciário, do marco regulatório para infraestrutura, das agências reguladoras, a independência do Banco Central, etc, etc.

Reformas vão na direção de incentivos corretos, para que empresas inovem e para que trabalhadores aumentem sua qualificação. O discurso antirreformista, por outro lado, só interessa a grupos privilegiados, que são beneficiados com as regras atuais. Não tenha dúvidas, leitor, que esses grupos estarão em peso nas ruas no dia de hoje.

Vítor Wilher

Vítor Wilher é Bacharel e Mestre em Economia, pela Universidade Federal Fluminense, tendo se especializado na construção de modelos macroeconométricos, política monetária e análise da conjuntura macroeconômica doméstica e internacional. Sua dissertação de mestrado foi na área de política monetária, titulada "Clareza da Comunicação do Banco Central e Expectativas de Inflação: evidências para o Brasil", defendida perante banca composta pelos professores Gustavo H. B. Franco (PUC-RJ), Gabriel Montes Caldas (UFF), Carlos Enrique Guanziroli (UFF) e Luciano Vereda Oliveira (UFF). É o criador da Análise Macro, empresa especializada em treinamento e consultoria em linguagens de programação voltadas para data analysis, construção de cenários e previsões, fundador do hoje extinto Grupo de Estudos sobre Conjuntura Econômica (GECE-UFF), Visiting Professor da Universidade Veiga de Almeida, onde dá aulas nos cursos de MBA da instituição e membro do Comitê Gestor do Instituto Millenium. Escreveu para o Terraço Econômico em 2017.
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