Loucura, loucura, loucura

O ano é 2018. Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da república e notoriamente conhecido por ter sido o ministro responsável pela implantação do Plano Real, se reúne com um dos mais conhecidos e admirados apresentadores da TV Brasileira: Luciano Huck.

Conversa vai, conversa vem e, FHC se admira com a capacidade política do apresentador global. “Ele sempre foi muito próximo ao PSDB, o estilo dele é peessedebista. É um bom cara”, afirmou o ex-presidente. Nessa mesma época, início de fevereiro do ano passado, Huck aparecia com 8% das intenções de voto e o DEM e PPS (atual Cidadania) concorriam pelo nome de Huck em suas legendas. Entretanto, Luciano optou por não se candidatar.

Porém, a história de Luciano Huck como candidato à presidência envolve, o atual Ministro da Economia, Paulo Guedes. Mas como assim? Isso será devidamente explicado mais adiante. Mas para começarmos a entender melhor essa quase candidatura do apresentador, necessitamos voltar um pouco mais no tempo.

Em 2016, a emissora da família Marinho tentou uma campanha, de alavancar a popularidade do casal “Huck e Angélica”. Ele, começou a contar com um horário maior e atrações novas em seu programa, o “Caldeirão do Huck”. Ela, por outro lado, participou de diversos quadros e entrevistas em inúmeros outros programas dentro do próprio canal, passando desde entrevistas no extinto “Programa do Jô”, a participação no “Esquenta”, da apresentadora Regina Casé. O casal global logo se tornou um dos queridinhos dos telespectadores.

Em 2017, um ano depois dessa iniciativa da Rede Globo, a popularidade de Huck estava nas alturas, chegando a 60% dos entrevistados – maior até do que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar do apresentador do “caldeirão” não ter sido candidato, o seu nome começou a ser cotado graças a uma pesquisa feita através de um site que gerencia vagas de emprego, a Jobzi.

Paula Drumond Guedes, filha do atual Ministro da Economia de Jair Bolsonaro, Paulo Guedes, é a fundadora da “Jobzi”. Em 2016, a empresa fez uma pesquisa buscando saber o que o brasileiro espera do futuro. As pesquisas feitas apontaram que o candidato ideal seria uma pessoa jovem, com perfil de empresário, forte presença nas redes sociais e que fosse percebido pela população como autêntico e humano. A filha do superministro mostrou os dados ao pai e, juntos chegaram ao nome de Luciano Huck.

“A desigualdade é gritante. Se não fizermos nada, o país vai implodir. Quero ser um cidadão cada vez mais ativo para que o país se torne mais eficiente, mais afetivo e menos desigual.” Afirmou Luciano Huck, enquanto é aplaudido de pé, em Fórum da revista Exame.

Finalmente, chegamos em 2019, com Bolsonaro assumindo a presidência da República, prometendo promover inúmeras reformas na área econômica para desemperrar os nossos velhos e burocráticos setores industriais e de negócios. De início, Bolsonaro prometia ser um retumbante sucesso, contudo, após diversas declarações desastrosas e, algumas brigas com outros chefes de Estado, o capitão reformado caiu de popularidade, chegando a um patamar nunca antes visto. Chegou a ser o presidente com a menor aprovação na história do país, em seu primeiro ano de mandato.

Enquanto isso, Huck continuou a sua campanha política visando 2022. Bolsonaro sentiu o perigo e, em uma de suas “lives”, divulgou uma lista de figuras da alta classe política e social do país que fez uso de crédito do BNDES para compra de artigos de luxo, entre jatos particulares e iates. O nome de Huck estava no meio. Porém, de nada adiantou, a aprovação de Bolsonaro continuou em baixa e, a do apresentador global, permaneceu intacta.

Huck, como bom político, vem efetuando diversas medidas para preservar a sua imagem. Recentemente apagou fotos ao lado do Ministro da Justiça, Sérgio Moro, que teve a sua imagem manchada após a divulgação das matérias da “Vaza-Jato”. Além de Moro, Huck também apagou fotos ao lado do deputado tucano, Aécio Neves – envolvido em corrupção e caixa 2 – e de Joesley Batista – condenado inúmeras vezes pelo Ministério Público – deletando fotos até mesmo ao lado de FHC.

Além disso, o apresentador já fez diversas declarações a respeito do atual cenário político e econômico que o nosso país enfrenta. Huck já declarou que a elite brasileira é “muito passiva”, pois não se posiciona em discussões a respeito do abismo social e de desigualdades que temos no Brasil. Ele admitiu que, se não fizermos nada, o Brasil quebra, alegando que, apesar de concordar – coincidentemente ou não – com a agenda econômica de Paulo Guedes, o país não pode se comprometer apenas com o avanço do PIB, mas também precisa de mais avanços nos setores de serviços públicos e de assistência social.

Huck tenta se mostrar como um “liberal-progressista”. Alinhado às reformas da previdência e tributária, além de defender a desestatização e o desinchaço da máquina pública. Porém, também defende medidas sociais que visam a igualdade de oportunidades para a população mais carente do Brasil, além da taxação de grandes fortunas e maior impostos à classe mais rica do país.

Goste ou não, a corrida eleitoral para 2022 já começou. Ciro Gomes segue em campanha pelo Brasil, fazendo oposição ao governo, tentando arregimentar público eleitoral. Doria, governador de São Paulo, se desvincula ao nome de Bolsonaro, tentando apagar o agora famigerado “BolsoDoria”. 

Já Luciano Huck, aparece correndo por fora, como um possível candidato mais moderado. Em sua vantagem está a defesa de pautas defendidas pelos dois lados dos setores políticos do país. Ou seja, em um possível segundo turno onde o apresentador enfrentaria um candidato mais à esquerda, como Ciro Gomes, Huck poderia levar vantagem por defender a pauta liberal-econômica. Já em uma disputa contra um candidato mais à direita, Luciano Huck também leva vantagem por apoiar ideais progressistas ligadas a avanços sociais. Ideias amplamente defendidas pela esquerda brasileira.

Resta saber se Huck terá gás para vencer e não cozinhar no caldeirão que é a política brasileira, ou se conseguirá dar a volta por cima e dar um “smash” em seus adversários e transformar o Brasil em um “lar, doce lar” para a população brasileira. 2022 está aí e a sorte está lançada. Apertem os cintos!

Marcus Vinicius Oliveira Costa

Graduado em ciências sociais, com foco em ciências políticas e tendo feito curso de especialização em política internacional no Canadá.

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