Sou do interior de Minas Gerais, e na última sexta (dia 25/01/18) fiquei atônito pela (nova) tragédia ambiental que se abatia sobre o meu estado. Por mais que o Brasil – e o mundo – tenha ficado chocado com o rompimento de uma nova barragem, dessa vez em Brumadinho, a notícia sempre afeta mais os que a testemunham presencialmente ou aqueles que estão a apenas poucos quilômetros de distância.
Fora todo o enorme sofrimento humano envolvido, dado os casos de mortes confirmadas e os de inúmeros desaparecidos, além das perdas materiais dos habitantes – milhares de famílias de Brumadinho perderam tudo – essa tragédia mostrou o elevado nível de importância de causas vulgarmente conhecidas como “ambientais”. As falhas responsáveis pelo rompimento de uma barragem de rejeitos, constituem sim, em uma falha no âmbito ambiental.
Apesar da preocupação ambiental existir desde muito tempo, a primeira grande conferência realizada com o intuito de discutir acerca do meio ambiente, foi organizada pela ONU em 1972, na cidade de Estocolmo. A partir de Estocolmo a discussão ambiental apenas cresceu com o passar dos anos, seja embalado por movimentos de contracultura como o hippie, seja a partir de grupos organizados como o Greenpeace.
No entanto, o crescimento do interesse pelo meio ambiente parece ter gerado uma espécie de “sindicato verde”, dado que com o tempo aparentemente o cidadão comum acabou delegando a função de cuidar da natureza para uma espécie de sindicalista responsável pela defesa do meio ambiente, mais conhecido como ambientalista. O arquétipo estereotipado, na maior parte das vezes é o de um vegano, defensor de espécies exóticas que só habitam as regiões mais longínquas do planeta.
Essa visão estereotipada sobre o ambientalista ganhou muita força no Brasil nos últimos anos. Qualquer questão ligada ao meio ambiente já é taxada como coisa de ambientalista e posteriormente tida como algo de menor relevância. Tal posicionamento não poderia estar mais equivocado, dado que decisões ligadas ao meio ambiente implicam em consequências diretas para a economia – basta observar vários termos de tratados de comércio internacional – e também sobre a segurança das pessoas, como infelizmente pôde ser visto em Brumadinho.
Mas engana-se quem acredita que o grande responsável pelo descaso com o meio ambiente é o atual governo de Jair Bolsonaro. Na verdade esse descaso é mais antigo e pode ser compartilhado de alguma forma por todos os governos anteriores, que negligenciaram a pauta ambiental durante vários anos. A tragédia de Brumadinho não nasceu em 2019, mas já vêm sendo construída há muito tempo e não foi interrompida nem mesmo pela tragédia de Mariana.
A queda da barragem de Mariana ocorrida em 2015, já havia sido uma tragédia anunciada decorrente de falta de fiscalização e de critérios no momento da construção da barragem, que apresentou problemas técnicos – problemas de drenagem e nas licitações – desde o início. Depois da tragédia, a fiscalização em relação as barragens, de responsabilidade do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), parece não ter mudado muito. De acordo com um levantamento realizado em 2016, o DNPM possuía apenas 985 servidores para cobrir todas as atividades no Brasil, sendo que desse total apenas 5 possuíam especialização em fiscalização de barragens. O Brasil contava na época com 633 barragens.
O meio ambiente não pode ser coisa só para ambientalista, mas deve ser de responsabilidade do governo e ainda mais importante, precisa ser um dever para toda a população. Caso o contrário, os efeitos negativos da negligência e do descaso serão sentidos por todos, e não apenas pelos tais ambientalistas.