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Um “maná” financeiro
Para além de sua capacidade de atrair os melhores, Jean Tirole deve seu incontestável sucesso ao fato de que ele não tem medo de pedir dinheiro privado para conduzir suas pesquisas. “Ele é o campeão em levantar fundos!”, explica Bruno Sire, presidente da universidade Toulouse-Capitole. Ele acredita que a nova coleta de fundos a ser lançada oficialmente em janeiro deverá se beneficiar da notoriedade reforçada de Jean Tirole. A direção da instituição pretende agora atrair empresas internacionais. Parcerias foram solicitadas desde a criação da escola, mas em 2006 tudo se acelerou. O Ministério da Educação Superior autorizou a criação de fundações de cooperação científica para coletar fundos de origem privada. Treze fundações universitárias que propuseram projetos de excelência foram escolhidas e receberam um aporte de capital de 201 milhões de euros do Estado. Essas instituições progressivamente consumiram essa dotação inicial do Estado, para desespero do Tribunal de Contas [Cour de Comptes].
Somente a Toulouse School of Economics (TSE) foi realmente capaz de atrair capital privado. A Fundação Jean-Jacques Laffont – que porta o nome do amigo falecido prematuramente em 2004 – levantou 33 milhões de euros junto a empresas como BNP Paribas, EDF, Orange, Total, Exane, Suez, La Poste. Isso foi três vezes mais do que a Escola de Economia de Paris (Paris School of Economics), muito mais em evidência na imprensa… Tendo em vista o sucesso da escola de Toulouse, o Estado dobrou seu aporte. No total, a fundação possui hoje dotação de 78 milhões de euros. Os fundos foram levantados com meios limitados: se a HEC conta com quinze profissionais para levantar recursos, a escola de Toulouse somente possui dois.
Esse sucesso financeiro permitiu à TSE atrair jovens pesquisadores efetivados, recrutados no mercado internacional, transformando assim a escola de maneira duradoura. A escola “não é mais um departamento de economia francês, e sim se transformou num agente de pesquisa em economia de primeiro plano no nível internacional”, comenta a Agência de Avaliação de Pesquisa [Aeres, na sigla em francês] no relatório de 2012 sobre TSE. A fundação conseguiu tornar alguns procedimentos mais “fluidos”, contratar uma equipe de suporte qualificada, oferecer bolsas de doutorado aos melhores estudantes estrangeiros, valorizar os pesquisadores por meio de um sistema de premiação ao mérito científico e a pesquisadores de primeira classe. Em 2010, um terço dos pesquisadores se beneficiou desses prêmios… Aproximadamente 300 seminários por ano são organizados na Escola, contra algumas dúzias numa “pequena universidade”. “Essa efervescência faz a nossa força”, desvenda Bruno Sire. A escola sabe também patrocina projetos de pesquisa a nível europeu. São somas importantes, de até dois milhões de euros por cinco anos, que permitem a um pesquisador reunir uma equipe de doutorandos em torno de si.
A coleta de fundos privados é, no entanto, percebida por alguns sindicatos de pesquisadores como uma “privatização sorrateira” da universidade, ainda mais porque algumas empresas possuem assento no conselho de administração da fundação. Uma acusação que Jean Tirole julga absurda: “Nós demonstramos por vinte e cinco anos que, bem regrada, a pesquisa científica em parcerias pode ser feita com completa independência, garantindo avanços científicos notáveis. As empresas podem participar nas instâncias de governança, permanecendo minoritárias. Elas podem se associar à evolução dos conteúdos pedagógicos e contribuir a mostrar aos estudantes a realidade da vida profissional. No entanto, elas não podem definir projetos científicos, exercer censura sobre publicações científicas ou impor conteúdo de ensino. Não há nada de revolucionário nisso, somente bom senso e ideias claras sobre ‘quem faz o quê’, nada mais”. A Escola de Economia de Toulouse se situa hoje a meio caminho entre a universidade e as Grandes Écoles. Este é o modelo que Jean Tirole deseja iniciar na França. Mesmo tendo o laureado feito seus estudos na École Polytechnique [uma Grande École], ele questiona essa dicotomia que existe na França entre as Grandes Écoles e as universidades: “As universidades francesas selecionam a partir do insucesso de alunos menos preparados, uma vez que os melhores vão ou para as Grandes Écoles ou para o exterior. Não é uma boa solução. É preciso organizar o ensino universitário com cursos de diferentes níveis e passarelas entre esses cursos, como temos tentado fazer na TSE há três anos com apoio da Universidade Toulouse-Capitole”.
Desde o início do ano letivo de 2011, essa escola universitária funciona parcialmente como um “college” americano. Além de seus 100 doutorandos e 150 pesquisadores, ela conta com 1500 estudantes nos dois primeiros anos de graduação e 200 alunos para o terceiro ano de graduação, além de mais 200 para cada um dos dois anos de mestrado. Não há seleção aos dois primeiros anos de bacharelado: todo mundo pode se inscrever. Mas os estudantes devem obter bons resultados e nenhuma reprovação para passar ao terceiro ano na TSE. “A diferença com um curso preparatório [os prépa franceses] que decide se um aluno é bom ou ruim desde os 18 anos é que nos aceitamos que um adolescente possa ter tido um acidente, uma doença ou uma queda de desempenho. E nós o aceitamos a partir do momento em que sentimos um verdadeiro potencial de trabalho nele”, avalia Bruno Sire. “Eu venho da região do Tarn. Eu não conhecia essa escola e não pensava que poderia estudar num sistema educacional tão bom como este. Aqui, tem-se a impressão que dá para começar de novo”, resume Florent Laval.
Artigo publicado no jornal Le Figaro no dia 18 de dezembro de 2014.
Disponível em http://www.lefigaro.fr/mon-figaro/2014/12/18/10001-20141218ARTFIG00387–la-fac-de-jean-tirole-le-nobel.php
Tradução de Alípio Ferreira Cantisani