O fenômeno SPAC

Provavelmente você já passou pela situação de esquecer em casa algo importante e pedir para alguém levar em sua direção, enquanto você fazia o caminho de volta. A vantagem disso, é que com um pequeno auxílio você economiza tempo, pois consegue o que precisava, bem antes.

Você deve estar se perguntando o que isso tem a ver com SPACS. Tem tudo a ver. A ideia por traz dessa modalidade de captação de recursos é a de justamente encurtar o caminho.

Vamos descobrir do que se tratam as SPACS.

O que são as SPACS?

A sigla SPACS indica Special Purpose Acquisiton Company, traduzindo, Empresa de Aquisição de Propósito Especial. Nome complicado? Nem tanto, vejamos. Trata-se de uma empresa, em geral uma holding, que a princípio não possui atividade e tem a finalidade de adquirir outra empresa em um futuro breve.

As SPACS são abertas com o proposito exclusivo de levantar fundos para essa aquisição posterior, ainda desconhecida. Por este motivo elas foram apelidadas de cheque em branco.

Deste modo as SPACS levantam capital através da abertura na bolsa de valores. No entanto, para que seja possível este movimento é preciso que exista bastante confiança nas futuras operações das SPACS, por isso elas são constituídas por pessoas de renome no mercado. Essa figura é conhecida como embaixadores.

Vantagens

Como falamos, a ideia por traz das SPACS é encurtar o caminho. Normalmente, o processo de abertura de capital de uma empresa é bastante burocrático, levando cerca de 1 ano, do início até que a empresa tenha enfim suas ações disponíveis no mercado de capitais.

Como as SPACS já se encontram abertas nas bolsas de valores, os tramites necessários para que a empresa adquirida tenha o capital aberto tornam-se bem mais curtos. Em termos gerais, indica-se que esse processo leva de 3 a 4 meses, sendo bem mais rápido que o modelo tradicional de abertura. Dessa forma, a empresa recém adquirida fica sob a tutela da SPACS que já tem o capital necessário para a aquisição.

Relembrando nossa analogia, é como se a SPAC fizesse o caminho inverso de quando esquecemos algo…

Os embaixadores

Sem dúvida os embaixadores são as principais figuras das SPACS, afinal, por qual motivo alguém iria investir em uma empresa sem atividades que pretende comprar uma outra empresa que ainda nem se sabe qual é?

Parece um risco, não? Por isso a figura do embaixador se destaca como o aporte de segurança e confiança para os investidores.

Via de regra, o embaixador é uma figura que acumula um currículo de sucessos suficientes para conseguir que os investidores confiem em seu trabalho para que, depois do período de levantamento de fundos, escolha uma empresa para ser adquirida ou um target.

Entre os mais conhecidos gestores de SPACs estão o célebre cofundador da Apple, Steve Wozniak e o ex-diretor da CIA George Tenet, cujo a influência permitiu capitações consideráveis.

Algumas regrinhas

Em primeiro lugar o investimento não fica à disposição dos gestores, ele fica em uma conta que apenas será movimentada no momento da aquisição do target.

Outro ponto é que, embora a empresa a ser comprada não seja conhecida no momento do investimento, existe um prazo limite para que ela seja escolhida e adquirida. Normalmente, esse prazo é de dois anos.

A procura dos targets

É nítido que um dos pontos altos das SPACS é a procura a escolha da empresa que será adquirida. Como dito, o prazo para essa escolha é de 2 anos e, normalmente, os contratos também preveem certa porcentagem de aprovação dos investidores.

Além disso, caso o investidor não concorde, pode retirar sua parte do investimento antes da aquisição. Se, ao fim do prazo de 2 anos, nenhuma empresa seja encontrada ou aprovada pelos investidores, eles são reembolsados.

Nos países onde a prática das SPACS é mais comum, seus targets, regularmente incluem empresas de médio e pequeno porte. Naturalmente essas empresas têm capital fechado, porém estão na fase de início de abertura ou próximas a esse período.

Outro ponto que determina a escolha dos gestores é o potencial de crescimento e a preferência da empresa pela parceria da SPAC, que lhe economizará grande tempo e investimentos em comparação a abertura de capital por conta própria.

SPACS no Brasil

Por enquanto, o país não trabalha com este modelo, ou seja, não existem SPACS no Brasil. O que existe de mais próximo são as empresas pré-operacionais. No entanto, estas ainda guardam grandes diferenças, entre elas a de que são constituídas para adquirir diversos projetos ao mesmo tempo, caso que não se assemelha ao das SPACS.

O poder financeiro

As SPACS ganharam mais visibilidade no mercado de ações norte americano, a partir de 2003 e seguem um crescente de captação de recursos desde a primeira década deste milênio.

Somente nos primeiros 3 meses de 2008 elas levantaram cerca de 3,4 bilhões de dólares. Já em 2007 elas somaram um total de 66 IPOs com 12 bilhões de dólares capitados. Se comparado ainda ao ano anterior, 2006, foi uma subida de quase três vezes.

Segundo o portal Spacanalytics, no ano de 2020 as SPACS representaram a metade dos IPOs e dos investimentos capitados nos Estados Unidos.

Esses números são endossados pelas cifras que se juntam aos 143 IPOs levantados naquele país no mesmo ano pelas SPACs. Esse montante chegou aos 83 bilhões de dólares levantados pelas empresas desse modelo.

IPOs das SPACs

Os papéis das SPACs, chamados units, são colocados à disposição com preços fixos. Normalmente, vêm atrelados a um bônus para a subscrição de ação ordinária. A oferta com preço fixo decorre do impedimento de valuation, uma vez que não tem operações nessa modalidade.

Os custos também tem valores reduzidos. Gastos como viagens de gestores e com taxas bancárias não passam de 20% dos montantes capitados no IPO.

Trabalhando como exceção

As SPACs funcionam em um vazio regulatório. As empresas desse modelo não encontram parâmetros exatos de regulação legal. Nos Estados Unidos elas funcionam seguindo a norma 419 da lei que regulamenta as operações naquele país, a Securities Act de 1933. O problema é que esta regra é destinada às empresas que operam abaixo de 5 milhões de dólares, o que não é o caso da maioria das SPACs.

Este cenário levou algumas bolsas do Estados Unidos a criarem resistências à modalidade, em seus primeiros anos. No entanto, atualmente, o cenário é outro e as SPACs estão em alta graças ao seu grande potencial.

SPACs à brasileira

Atualmente alguns especialistas brasileiros estão indicando a compra de ações de algumas SPACs. Segundo eles, pode ser uma grande chance de ganhos. No entanto, é importante alertar que mesmo apresentando altos retornos, também têm riscos ao mesmo nível.

Uma das indicações das possíveis SPACs a explodirem nas bolsas norte americanas são aquelas que, quebrando a tradição, estão anunciando a futura aquisição de fabricantes de carros elétricos.

Para esses especialistas, até 2030, cerca de 16% da frota de carros mundial será movida a energia elétrica. Cenário este que aponta para interessantes negociações no ramo.

Espero que esse artigo tenha te ajudado a entender melhor o fenômeno das SPACs, a sua importância e poder no mercado de capitais no mundo.

León Santiago Lucas

Terraço Econômico

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