O Ministro Déspota e Seu Destino

Em certa ocasião, num passado distante, parte da população de um lugar, também distante, não ficou satisfeita com algumas ações empreendidas por seu governo, sob as ordens de um certo ministro. Revoltada, uma grande multidão tomou em protesto uma determinada praça. Em resposta, o governo utilizou seu aparato repressivo.

Centenas de revoltosos foram alvos de inquérito e, desses, algumas dezenas foram condenados a penas bastante desproporcionais aos delitos cometidos. A chave para as altas penas aplicadas foi a tipificação da conduta dos mesmos como um atentado ao governo estabelecido, apesar da fragilidade da interpretação jurídica.

Em outra circunstância, havia uma família, bastante influente e, pode-se dizer, poderosa, com a qual o tal ministro não nutria a melhor das relações, sendo bastante eufêmico. Ele, então, abusando de seu poder, conduziu uma investigação eivada de vícios. Não havia nenhuma prova associando a tal família ao crime. A despeito disso, o inquérito os apontou como culpados.

Por casos como esse, o ministro ficou conhecido como um déspota. O anseio por centralizar o poder, com feroz repressão e silenciamento dos opositores, os métodos autoritários, com abuso da violência estatal, bem como os julgamentos sumários e o controle da imprensa, são comumente associados ao seu nome. Um popular programa de televisão de um outro país o descreveu como “um homem cruel e vingativo”.

Uma pausa: não pense que o ministro em questão é repudiado por toda população do tal lugar distante. Há uma substancial parcela que enxerga virtude em suas atitudes e defende, fervorosamente, seu legado. Também exaltam sua liderança em momentos críticos.

De volta ao popular programa de televisão, a descrição do ministro segue dizendo que ele “morreu no exílio e seus restos foram atirados aos cães”. Sim, ele está morto, há muitos anos. Mas esses relatos sobre sua morte não são verdadeiros (ou são fake news). Ele nunca foi expatriado, o que descaracteriza um exílio. Sobre o seu cadáver, ele teve um enterro simples, sem a pompa que o seu poder de outrora sugeriria. Por ironia do destino, a cerimônia foi celebrada por jesuítas, grupo implacavelmente perseguido e, de fato, exilado, por ele.

A despeito de ser um mito, a difundida história sobre o fim dado aos seus restos mortais mostra o desprezo que predomina a respeito dele no imaginário coletivo. O nome do ministro é Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido pelo título que recebeu, Marquês de Pombal, e os dois casos mencionados ficaram conhecidos como “Revolta dos Taberneiros” e “Julgamento dos Távora”. A título de curiosidade, o popular programa de televisão citado é o Baú da Felicidade, apresentado, à época, por Silvio Santos.

A trajetória do Marquês mostra como pode ser melancólico o final de um déspota afastado do poder e, principalmente, como, em alguns casos, a história cuida de fazer justiça contra os que abusam dos meios na busca dos seus fins.

João Marco Braga da Cunha
Economista 

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